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Seis andares, porque a maldita da Hanna tinha que ter escolhido o sexto andar para montar seu consultório? Nunca odiei tanto o número seis do que quando soube que a pscicóloga fica no sexto andar do prédio comercial de BH, encaro os degraus, e decido que não tem para onde pular, dou um passo para cima, fechando a porta vermelha atrás de mim, e começo a minha escalada até a loira.

Estou banhada de suor quando chego até a outra porta, meus cabelos grudam nas costas, e me arrependo por ter os mantido soltos. Caminho até o consultório, e entro, como sempre, ela está parada próxima a janela, esperando por minha chegada.

— O que aconteceu, perdeu a prática nos degraus? — pergunta, pelos meus cinco minutos de atraso. Rolo os olhos para as suas costas. — Sempre chega no horário, pensei que... — para, ao se virar e me encarar, vejo sua surpresa estampada em sua cara, e sorrio com desdém para ela, só para não perder o gosto de a provocar.

— Você está... — me encara novamente. — essa é você mesmo? — será que eu andava tão feia assim, aponto de um cabelo penteado, algumas noites de sono e uma roupa de número menor deixarem as pessoas sem palavras? Dou de ombros para sua pergunta, e me sento na poltrona, olhando para o relógio. — Ah, claro que é você. — resmunga, após minha atitude. Sabia que ia conseguir te irritar. Sorrio comigo mesmo, com o pensamento.

Deixo que ela resmungue mais alguma coisas e depois me recosto no encosto da poltrona, contando suas canetas em cima da mesa.

— Você vai falar comigo novamente, ou devo me postar ali na janela, e esperar que acompanhe os segundos do meu relógio? — faço uma cara de deboche para ela, me divertindo com sua frustração. Quando ela pensa que não irei mesmo falar, pego o papel e a caneta lhe surpreendendo.

Alguém já te falou que você é muito, mas muito, chata?

Contemplo quando seu rosto se torce em negação.

— A mesma pessoa que me falou deveria falar para você também. — gargalho em silêncio, e volto a pegar o caderno.

Para uma pscicóloga, você não deveria ser tão cruel.

— Psicólogos não estudam para passar a mão em cabeça de paciente, eles devem estarem prontos para os ajudarem, e lhes dizer as verdades que precisarem ouvir, quando necessário. — Faço sinal de rendição com minhas mãos, lhe mostrando que entendi. — Como foi durante esses últimos dias?

Mordo o canto da caneta, pensando no que dizer, ou se devo dizer, no fim decido falar qualquer pequeno passo é um caminho rumo a superação. Hanna percebe meu impasse, e continua me encarando, esperando pelo meu tempo, começo a rabiscar na folha.

Continuo tendo contato com ele, consigo lhe tocar, e deixo que me toque, não demais, mas acontece.

Entrego o caderno com receio, ela passa os olhos rapidamente, e me encara novamente.

— Isso é muito bom, Catarina, mostra que você está mais aberta, saindo de sua zona de proteção, deixando que outras pessoas se aproximem. — suspiro, cansada.

Não consigo contato com o meu irmão, e não consigo ficar muito próxima do meu pai.

Mordo os lábios, enquanto espero por sua resposta.

— Você não precisa se julgar por isso, acontece que talvez você consiga se identificar com esse rapaz, sentir algum vínculo, alguma confiança, não que você não sinta com o seu pai ou seu irmão, mas, veja bem, esse rapaz chegou agora, não sabe o que você já passou e como foi seu último ano, talvez seja isso que você precisava, alguém que te desse uma atenção fora da que você está acostumada, alguém que olhe para você, e não para suas dores ou o que você passou.

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