08

259 45 48
                                    

A semana passou rápido, minhas olheiras estão ainda mais profundas, já que tenho evitado dormir cada vez mais. Evitei outros contatos com o novo vaqueiro, apesar de já tê-lo visto em serviço no curral, quando corre atrás de bois, e os derruba pelo rabo, fico fascinada em como ele consegue fazer isso tão bem, nunca apreciei montar em cavalos, uma vez até tentei, quando eu e Miguel éramos crianças, porém, acabei caindo, chorei por ter ralado os braços e joelhos, nunca mais tentei.

Quem dera se hoje, meu maior problema fosse alguns arranhões decorrente de uma queda de cavalo.

Balanço a cabeça para dispersar os pensamentos, e saio do quarto, indo atrás de meu pai, que está a minha espera escorado na camionete.

— Pronta para mais uma aventura? — questiona com um riso.

Sorrio para ele de volta, indicando que estou pronta. Não tem muito o que fazer, né, pai? Evito deixar a pergunta transparecer em minha face, e entro no carro sentando no banco do carona.

Abano com a mão para minha mãe, dando tchau, ela abana a mão de volta, e seguimos rumo a capital de Minas Gerais.

O caminho ocorre como todas as vezes, papai escolhe as músicas mais animadas para ouvirmos no percurso, e eu olho para a janela, admirando a vista, tentando me preparar para mais um contato com o mundo urbano.

Chegamos na cidade algumas horas depois, desço dando um pequeno sorriso para o meu pai, e caminho para dentro do edifício.

Passo pela recepção do térreo, e ando direto para a porta vermelha, que dá acesso para as escadas, encaro os degraus em silêncio, não ando de elevadores, não suporto a idéia de entrar naquela caixa metálica com pessoas desconhecidas, prefiro mil lances de escadas.

Chego ao fim com suor escorrendo pela minha espinha, subir nunca foi tão fácil quanto descer, gasta muito mais energia e tempo, e de pensar que sempre odiei escadas.

Entro no consultório na hora marcada, Hanna já está sentada a sua mesa, com a postura de sempre. A encaro com a sombrancelha arqueada, e me dirijo a poltrona. Sento-me e só para irrita-la encaro o relógio, Hanna se levanta, frustrada, e caminha até a janela.

— Bom dia, para você também, Catarina! — fala com um tom irônico. Pscicólogos não deveriam falar assim com os pacientes, deveriam?

Continuo em silêncio, a ignorando de propósito, Hanna bufa frustrada, e se mantém olhando através da janela, as vezes me pergunto se esse tempo que ela passa ali, ela está olhando a paisagem ou pensando em formas de me matar sem que ninguém suspeite dela. Encaro as suas costas, tentando ler através de sua mente, ela observa o meu olhar e me olha de volta, faz menção de falar algo, mas volto a olhar o relógio em cima da mesa, Hanna suspira em frustração, sorrio comigo mesma. Eu amo deixá-la irritada.

Passamos os próximos minutos sem menção de contato uma com a outra, eu brinco com a manga da blusa enquanto ela prossegue na mesma posição, estou enrolando a manga mais folgada que meu braço, quando ouço o tamborilar de seus dedos na vidraça, ela deveria ser avisada de que sei tudo sobre ela, por exemplo, agora ela vai começar a falar.

— Você está com olheiras ainda maiores que na semana passada. — não falei que ia começar a falar? — Não está dormindo mais? — me encara e dou de ombros. — você não se importa mesmo, não é? Com o que eu falo, estou dizendo. Parece que a sua maior diversão é me ignorar e me ver irritada. Eles estão me cobrando pela sua evolução, eu deveria falar que você ama me tirar do sério. — sorrio baixinho. Ela está realmente saindo da personagem?

Consegui um feito e tanto, Hanna, a toda certinha pscicóloga está saindo do personagem e me contando que a irrito, uau, eu deveria ganhar um Oscar por isso. O pensamento me faz gargalhar em silêncio.

Um Toque Para O Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora