Passo o resto da tarde olhando pela janela, observando o vento balançar os galhos das árvores, ouvindo o cantar das cigarras, notando cada mínimo detalhe da natureza tão próxima a mim.
A noite se aproxima e decido por tomar um banho antes do jantar, faço isso com calma, não se necessita ter tanta pressa quando você para sua vida por tempo indeterminado.
Saio do banheiro enrolada em uma toalha, procuro por um moleton confortável, não tão chamativo mas também não tão folgado quanto os de costume. Passo um perfume suave, enrolo o meu cabelo em um coque um pouco mais arrumado e quando me olho no espelho, me surpreendo com o reflexo a mim encarar, é incrível como uma mudança mínima é capaz de fazer tanta diferença em nossa aparência.
Fecho a porta do meu quarto ao sair, e encontro minha família na cozinha, Miguel não me encara, mas também não se levanta da mesa, bom, pelo menos isso.
Minha mãe me encara espantada, imagino que seja pelo perfume, ou pelo cabelo um pouco mais apresentável, não digo nada, apenas puxo uma cadeira e me sento. Olho para o meu pai que me lança uma piscadela, lhe dou um meio sorriso e encaro a panela de galinha caipira. Não consigo definir do que mais gosto, se da galinha ou da farofa de feijão de corda com torresmo, decido que das duas. Mamãe sorri quando me vê colocando uma porção a mais em meu prato, quando normalmente ela luta para que eu coma pelo menos um colher de comida, toco em sua mão por alguns segundos, lhe dizendo com o meu amor que está tudo bem, e começo a comer.
Termino minha refeição e volto para o quarto, olho para a janela e vejo o céu estrelado, faz tanto tempo que admirei essa beleza divina, lembro-me de como amava olhar para cima e contemplar as estrelas, a lua cheia que parecia me iluminar, me encher de luz. Faz tanto tempo que eu vi a luz dentro de mim.
Olho fascinada para a beleza das constelações, que não percebo quando ele se aproxima, tomo um pequeno susto com a sua chegada, mas me recomponho rapidamente, já estou tão acostumada com sua companhia que não sinto mais medo.
Ele abre um sorriso, quando nossos olhares se encontram, olho mais uma vez para o céu e de novo para ele, uma ideia então surge a minha mente, e antes que tente pular minha janela, faço um sinal para que ele pare, Eduardo estranha, mas não lhe dou chance para explicações, corro para além de sua visão, procurando pelo caderno e caneta que uso para nos comunicarmos, e volto a passos apressados para a janela, ansiosa pelo que virá a seguir.
O rapaz me espera com a testa franzida, sorrio de excitação, e lanço minhas pernas para fora, ele então entende o meu propósito, e se aproxima a fim de me ajudar. Deixo que me segure pela cintura e me guie até o chão, onde os meus pés descalços alcançam a relva molhada. Olho para o chão, lembrando que na euforia, esqueci de pegar as sandálias, Eduardo faz menção de ir buscar, mas faço um sinal, pedindo que não vá. Faz tanto tempo que me senti tão animada, que quero aproveitar todos os detalhes, até mesmo caminhar descalço a noite. Se Hanna estivesse vendo isso, certamente morreria de surpresa, sorrio com o pensamento, e me ponho a andar.
— Para onde exatamente estamos indo? — ele me pergunta, e eu franzo a testa, olho ao redor e depois para ele, faço um gesto com os ombros, indicando que não sei, e depois olho para o céu. Eu só quero aproveitar essa beleza divinal ao qual Deus nos proporciona ver.
Eduardo entende a minha deixa, e cola uma de suas mãos às minhas costas, nos guiando por um caminho iluminado apenas pela luz da lua cheia. Seu toque me causa um arrepio diferente, um sentimento contrário aos do início, dessa vez, aceito o seu contato, mas com uma espécie de frio na barriga empolgante e, não cauteloso, algo que me causa um pouco de medo, mas um medo contrário ao que sempre sinto, e isso me surpreende. Ele diz alguma coisa que não absorvo, e começa a nos guiar, juntos andamos em silêncio, até encontrarmos um bom lugar para sentarmos.
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Um Toque Para O Amor
RomanceCatarina tinha apenas um um sonho, uma mochila, uma saia azul rodada e uma rua escura, quando viu seu mundo desmoronar pela maldade humana. Eduardo é um homem gentil, daqueles que passa pelos problemas com um sorriso no rosto, é quando se torna vaqu...