A Dama da Noite

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É uma noite em que tudo parece cinza. Caí uma chuva lenta e sem muita vida, com algumas pessoas aproveitando-se dela, enquanto outras dela se protegem. Eu chego àquela casa noturna após um dia de trabalho no qual as horas foram mais que uma eternidade. Paro meu carro, que é entregue ao manobrista. Entro na casa e busco pessoas, olhares, algo que atraia e me desperte. Não que eu esteja morto por dentro, mas o tédio do dia me deixou à espera de algo que mude meu estado de espírito.

Vejo a pista cheia de pessoas que movem seus corpos, alguns muito bem e outros gerando vergonha alheia. Mas vivemos em um mundo livre. Quem sou para julgar ou desdenhar de alguém? Observo os cantos da casa, onde vejo casais e outros se beijando. Noto em um canto próximo ao banheiro que um rapaz e uma moça trocam carícias mais ousadas, ao mesmo tempo em que, em outro canto, três moças se beijam e se acariciam. Todos eles alheios ao que acontece na pista central.

Fico ali, bebendo meu drink, olhando para tudo ao meu redor como Robert Downey Jr. fez em Sherlock Holmes, na cena em que ele está no restaurante, enquanto usa suas habilidades de detetive para descobrir os segredos das pessoas. A música animada e o ambiente propício à uma boa curtição ainda não são suficientes para me despertar qualquer emoção. É uma noite comum demais para mim. Um dia sem novidades. Mas ver os casais ousando em determinados lugares da casa me deixa um tanto mais esperançoso de que algo ainda vai acontecer nesta noite.

Enfim, olho a entrada da casa e a vejo chegar. De repente, o som emudece e as pessoas se tornam invisíveis. Nada consegue bloquear minha visão. Ela entra e passa por todos irradiando luz própria, chegando ao bar sem ao menos notar que estou ali, olhando para ela de forma hipnótica, sem dar atenção à mais nada ao redor. Ela é belíssima, com seu vestido dourado envolvendo seu corpo. Sua pele é bronzeada e seus cabelos curtos. Uma visão contemplativa muito atraente e sedutora.

Ela encontra os amigos e sorri animadamente, quase me permitindo ouvir sua voz em meio àquele barulho absurdo. Entro em um transe que não me deixa tirar os olhos dela e não pronuncio nenhuma palavra ou esboço qualquer reação. Aliás, a única reação possível de se descrever é forte emoção que me toma ao colocar meus olhos nela. Os amigos dela me notam, mas ela não. Ela apenas entra na pista de dança e puxa uma amiga para perto, juntando seus corpos sensualmente. Elas passam as mãos pelos seus corpos e trocam carinhos ali mesmo, na presença atônita de todos.

Olho aquele corpo se movendo, não apenas no ritmo da música, mas como se a própria música a seguisse. É fantástico! Entre passos de dança, sensualidade e carícias, aquela mulher mexe com todos ao seu redor. Um rapaz de aproxima delas e entra na dança. Deixando todos atordoados, ela beija a amiga de forma a tirar seu fôlego. De repente ela vira o rosto para trás e beija o amigo deliciosamente. Que mulher incrível, capaz de protagonizar uma cena como essa de maneira tão sublime.

Sigo os seus passos intimamente, não a perdendo de vista. Ela é o que eu espero ver nesta noite. A sensação de olhar para ela é fantástica, instigante e provocante. Me olhar se perde e ignora a todos ali, captando apenas aqueles dois que a acompanham. Eles sobem até um camarote e eu não resisto, indo logo atrás. Assim, que eles entram, eu fico parcialmente atrás de uma cortina, à espreita, aguardando os próximos movimentos deles, quando ela me nota, lançando um olhar fulminante e cheio de malícia, que se soma à um sorriso arteiro, com direito à uma mordida atrevida nos lábios.

Sabendo que a estou observando, ela começa uma cena fantástica, que provoca e incita. O rapaz se afasta e se senta, enquanto ela toma a outra Mulher em seus braços, beijando-a de forma provocante, enquanto suas mãos passam pelo corpo dela o tempo todo. É um beijo demorado, quente, que as prende naquele instante, como se não houvesse nada ao redor. Apenas elas. O camarote está livre para elas se amarem loucamente. E assim elas o fazem, sob os olhares daquele rapaz e os meus. Não esboço nenhuma reação externa, mas, por dentro, ardo em chamas.

A moça sentada em seu colo levanta seu vestido. Ela está apenas com roupa íntima de baixo, deixando seus seios à mercê dos beijos dela, que também tem sua blusa tirada. Suas peles se tocam em meio a toda aquela pegação. Seus beijos se intensificam e as duas elevam a temperatura à níveis inimagináveis. O rapaz fica ali, assistindo a tudo, enquanto elas se deitam naquele sofá e trocam carícias calientes e beijos ardentes. Ela então abaixa e tira a saída daquela moça, deixando-a também apenas de roupa íntima. Elas se encaixam uma na outra e começam uma verdadeira dança de corpos entre elas.

Uma delas chama o rapaz a se aproximar delas, retirando suas peças íntimas. O toque entre suas intimidades as deixa em transe, enquanto elas se beijam mais uma vez. Ela, a Dama, puxa o rapaz para perto e tira seu cinto, abre sua calça e a abaixa, segurando seu membro ereto, enquanto faz amor com aquela moça. Assim que o rapaz é libertado de suas roupas, elas o envolvem naquele momento entre elas, enquanto as duas movimentam seus corpos maravilhosamente uma sobre a outra naquele sofá.

Vejo a Dama trocar de posição e pousar seu corpo sobre aquela moça, enquanto o rapaz se encaixa perfeitamente atrás dela. Isso mesmo. Enquanto ela roça seu corpo sobre a moça, ela é invadida pelo rapaz. As duas se beijam e deslizam suas mãos uma na outra, enquanto o máximo que o rapaz faz é se deleitar com sua participação. De qualquer forma, elas são as estrelas da cena, atuando de forma maravilhosa. Vejo aqueles dois se esforçarem para satisfazer a ela, que se mostra insaciável e querendo mais. Mas até ela tem limites.

Ambos começam a sentir seu ápice chegar. Eu fico ali, clandestino, observando o desfecho daquela cena. Elas caem uma sobre a outra, exaustas, abraçadas e trocando carinhos, enquanto o rapaz também se mostra exausto depois daquele momento. Ainda deitada sobre o corpo da moça, ela me olha e me dá uma piscada em um sinal de confiança, como se me dissesse para guardar aquilo em segredo. Eu volto à minha mesa e, alguns instantes depois, a vejo descer na companhia do casal de amigos, fazendo seu olhar encontrar o meu e mostrando um sorriso maroto e muito, muito sensual.

Aquela noite teve toda a emoção que eu poderia esperar. Vou para casa, mas levo comigo a lembrança de um momento inesquecível, que trouxe a mim todas as emoções que eu busquei sentir. E nem ao menos sei quem ela é. Para mim, é nada menos que uma Dama, a Dama da Noite.

Contos de Paixão: A Segunda OndaOnde histórias criam vida. Descubra agora