Era uma comum noite de domingo. As duas amigas, Callie e Addison, bebiam no gramado da casa da ruiva ao som de um rock alternativo que ressonava em volume ambiente. Por mais que tudo parecesse habitual, pois aos domingos as duas sempre se empenharam a esta atividade, havia algo de muito atípico sucedendo. No âmbito psíquico de Montgomery, ocorria um naufrágio de pensamentos, tão desordenados que a afundavam num mar de emoções, e tudo que ela buscava era conseguir flutuar sobre elas.
Enquanto fixava os olhos num ponto adiante qualquer, do qual nem se preocupou em tomar consciência, seus nervos pareciam concentrar-se estritamente em seu estômago, pois ele revirava e revirava. O porquê? Bom, pensava em Meredith. Rememorava a feição daquela garota e perdia todos os seus alicerces de mulher. E, pior, lembrava do seu maldito beijo. Das sensações intensas, dos lábios doces e macios…
É… Que bela noite estava tendo.
Não obstante, era péssima em esconder, pois a amiga ao lado, investigando seu silêncio aterrador e o olhar perdido, desvendou no mesmo segundo que algo a assombrava. Justo ela, que sempre fora tão centrada e abstraída.
— O que te passa, ruiva? — perguntou a latina, ainda olhando para o rosto da outra, que se iluminava a partir da pouca luz das lâmpadas da guirlanda.
(...)
Efeito nenhum aquele pronunciamento surtiu, a mulher continuou calada, em estado de pleno silêncio. Não porque ignorava, mas porque seu sentido auditivo estava em falência.
— Addison? — (...) — Montgomery?! — Callie teve de gritar e, para melhor resultado, chacoalhou a outra pelo braço.
Um sobressalto considerável atingiu a ruiva, que levou a mão contra o peito e ofegou pelo susto.
— Que porra, Torres! — repreendeu, passando a olhá-la incisivamente. — Se quiser me matar me avisa, droga!
Dissociar-se de seus devaneios foi quase tão árduo como ultrapassar a escuridão e pôr-se diante da claridade.
— Montgomery perfeitinha xingando? — Fingiu um estado de incredulidade. — Há algo de muito errado mesmo.
— O que foi? — perguntou, após regularizar a frequência de sua respiração.
— Eu que te faço essa pergunta...
Addison recorreu aos seus exercícios de respiração e tranquilidade, originais de sua prática de yoga, pois realmente estava exaltada. Em seguida deu um gole em sua cerveja, fugindo da direção dos olhos negros de Callie.
— Cara... Eu nunca te vi assim. Você está passando mal? — O estado de Callie mudou-se para preocupado.
Addison sorveu longamente sua cerveja, bebendo diretamente na boca da garrafa.
— Estou bem, Cal. — garantiu, mas ao olhar para a outra, ela reparou que a nuance alterada de seus olhos não fazia jus.
— Perfeitamente bem! — em sarcasmo, a morena falou, e a ruiva revirou os olhos. — Fala logo, Addison.
A mulher imergiu num silêncio sem igual, apenas aproveitando sua bebida.
— Tá apaixonada?! — Callie, em estado de euforia, ascendido por ajuda da leve embriaguez, questionou, e Addison a olhou exorbitante.
A bebida, que a ruiva engolia no momento que ouviu aquela barbaridade, fez arder sua traquéia e quase voltou à boca novamente. Ela tossiu por longos segundos, sendo ajudada por alguns tapinhas que a latina desferiu em suas costas. Depois do desengasgo, foi que ela conseguiu forças para respirar aprazível e falar.
— O que você... Está enlouquecendo, porra? — Balbuciou.
— Calma aí, ruiva. Não sabia que ia te afetar tanto. — Callie se explicou e Addison a relanceou impacientemente. — Mas você tem certeza?
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Impermanência𓂃 ִֶָ
FanfictionMeredith Grey ingressa no terceiro ano letivo do ensino médio, no L.A College, mas com o sentimento persistente de que não irá aguentar mais um ano de sua caótica vida. Mas, para sua surpresa, um fulgor de esperança reverbera sobre si quando seus o...