29𓂃 ִֶָ

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voltei!
👀

Meredith Grey
: ˖𓂃 ִֶָ๋ 𖢆 ִֶָ

Mal havia anoitecido e eu já me encontrava em um estado ligeiramente ébrio.

Pouco antes do sol se pôr, e junto dele o meu ânimo de viver, Arizona me arrastou para fora da nossa barraca, onde eu me escondi desde o ocorrido de ontem. Desde ser presenteada com baque de ver a mulher que eu amo beijar outra pessoa, árduo feito um tapa no rosto. Desde Addison deturpar o resto de serenidade que ainda me habitava. E, numa reação que só podia ter originado da compaixão, minha amiga disse que não suportava mais me ver enclausurada no saco de dormir e me levou para encher a cara. Porque, de acordo com as palavras sábias dela, nada melhor que um porre dos bons para esvair com amargura a dor do amor. Fomos a um bangalô. Distante. Bem no alto de uma íngreme colina. Tão no meio do nada, que uma pessoa podia se considerar fodida caso bebesse demais e não tivesse alguém por perto para salvar-lhe. Corria-se o risco dela se desequilibrar e descer aquela duna rolando, facilmente. O que, sim, também podia facilmente ocorrer comigo.

Ao entorno de nós, um amontoado de folhagens erguiam-se, enquanto algumas árvores, com seus troncos robustos de tão antigos, entrelaçavam-se. O glorioso resultado de tantas primaveras depois.

Resfoleguei, serenando meu espírito.

Será que também eu irei ser tão forte quanto elas, algumas primaveras depois? Será que serei forte o suficiente, para não mais permitir que as pessoas pisem em mim como se eu fosse um zero à esquerda?

Eu não fazia ideia. Mas sequer me dava ao trabalho de descobrir. Não iria fazer diferença. Porque para que haja a primavera, o inverno precisaria vir de qualquer forma. E ele já me tomava por inteiro. Aquela sensação impotente de se estar com os pés mergulhados num gelo rígido e sólido. O desatino gélido e alucinante de estar cercado por tantas pessoas mas tão só por dentro. Claro. Era Addison a única que me tirava da zona cinzenta. Mas agora… Novamente, não iria fazer diferença. Porque, independentemente de mim, ela tinha a faca e o queijo na mão, mas preferiu usá-la para cravar no meu peito.

E o que me restava, era encher a cara.

o perfeito para quem está a sofrer e não pensa em nada além do que encher a cara e ouvir música barata numa vitrola antiga. Para ser honestamente, eu repudio a bebida, perdi meu pai para esta droga, que não é mais primitiva que as outras só porque mata aos poucos. Mas eu sentia que precisava beber. O vazio dentro de mim precisava preencher-se com a pungência horrível de algumas doses de… qualquer coisa com elevado teor alcoólico! Não sou tão exigente. Não quando o assunto é me foder. Eu só queria qualquer líquido amargo queimando a minha garganta, revirando-se em meu estômago. Para dissolver a nebulosa que Addison deixou. E quando Arizona pediu uma rodada de tequila para a nossa mesa, mesmo que eu nunca antes tivesse bebido, soube que não seria de mau-grado.

: ˖𓂃 ִֶָ๋ 𖢆 ִֶָ

Alguns shots depois, April, a professora Torres e algumas garotas do time feminino de futebol da escola, apareceram. E eu nem me dei ao trabalho de me preocupar que tanta gente iria assistir de camarote a minha derrota. A garota que foi trocada por macho, às lágrimas, hoje, na sessão das oito da noite, não percam essa.

Porra, eu só queria sofrer em paz.

Ao som de alguma canção extremamente antiga, as mesmas que deveriam tocar nos bares que meu pai frequentava quando jovem, algumas garotas do time de futebol convidaram-me para dançar. E não me recordo bem se eu concordei ou se fui arrastada por elas, devido a minha momentânea inaptidão de conscientizar. Mas, puts, elas eram extremamente gatas, com uns corpos de se invejar, resultado de correrem por horas em um campo de futebol. Eram legais também. Mas, de repente, eu senti que não deveria estar ali. E tentei. Fingi estar gostando do clima, das garotas me incentivando a dançar no centro da roda. Juro que tentei. Mas meu coração estava inerte.

Impermanência𓂃 ִֶָOnde histórias criam vida. Descubra agora