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o surto vem...

: ˖𓂃 ִֶָ๋ 𖢆 ִֶָ

— Agora você acredita? — Addison perguntou.

Meredith, que ainda segurava nas mãos a carteira de identidade de Addison, ergueu um olhar incrédulo para ela.

— Ainda não sei... — Respondeu-lhe, olhando pela milésima vez a data de nascimento que constava no documento.

— Pois está aí — fixou a mulher, e num segundo momento, subitamente, sentiu-se constrangida, tanto que fugiu do olhar estupefato que lhe transmitia a loira.

— Mas, de qualquer forma, você não aparenta ter essa idade. — Não mesmo. Qualquer pessoa que olhasse para Montgomery, não imaginaria que ela já estivesse no auge de seus quarenta anos. Oras, não foi atoa que Meredith pedira a carteira de identificação da mulher para lhe servir como prova.

O documento foi entregue nas mãos da professora, que o recolheu.

— Às vezes, quando me lembro da minha idade, percebo o quão atrasada estou. — confessou, sem olhar para a garota, pois guardava seu documento na carteira.

— Atrasada... Em que sentido?

— Bom... — Resfolegou, pousando as duas mãos plácidas sobre a mesa do café. — Perdi metade da minha vida me doando para um relacionamento que, no fim, não deu em nada. Agora estou sozinha e velha.

Numa reação que excedeu os conceitos de "natural", os olhos redondos de Meredith exorbitaram e uma ruga nítida sobressaiu em sua testa. Barbaridade maior jamais ouvira.

— Espera... — Fez, naturalmente, uma pausa. Resfolegou para se refazer, pois se exaltara com aquilo que lhe fora dito. — Atrasada você estaria se caso continuasse com aquele cara. Sozinha... Bom, antes sozinha do que mal acompanhada. E velha...? Você tem mesmo coragem de dizer algo assim?

A mulher sorriu morbidamente, murchando toda a expressão de seu rosto.

— Eu não sei... — Finalmente, ela ergueu o olhar e encarou Grey, que imergiu os olhos no mais intrínseco de si. — Sinto como se tivesse perdido muito de mim, e que agora não há mais como recuperar.

— Eu entendo, Addison... — De certa forma, aquilo a confortou. Não pelo simples dizer, mas pela compaixão no olhar da garota, que transcendeu. — Mas... Pensa. Você saiu de um relacionamento que estava te prejudicando. O que exatamente foi que você perdeu? Nada.

— Se não perdi nada... Por que é que me sinto vazia? — perguntou, num suspiro carregado.

— Um palpite? — A ruiva assentiu. — Talvez porque você estava acostumada demais a se sentir completa com ele.

No mesmo segundo os fragmentos internos de Addison sofreram um retrocesso, todos os seus nervos aquiesceram lânguidos, e seu coração, na mais solitária das arritmias, bateu intensamente em seu peito desolado.

Era mesmo isso. Ficara tempo demais em sua zona de conforto. Viveu uma relação falsa. Tudo porque, daquela forma, sentia que pertencia a alguém; não suportaria a ausência. Tudo porque não conseguia imaginar lidar com o nada; e qualquer coisa era melhor que o nada.

Impermanência𓂃 ִֶָOnde histórias criam vida. Descubra agora