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Uma espécie de sensação afável, que se instala no coração e o deixa tão aprazível como se estivesse sendo carinhosamente cuidado; uma sensação que ora causa uma calidez intensa noutra uma vontade persuasiva de sorrir, está, Meredith ainda sentia. Seu corpo ainda se assemelhava ao de uma borboleta voando livremente pela primeira vez, adquirindo aquela tão surreal sensação de levitar no ar. Suas asas, mesmo que sem experiência, esvoaçavam contra o vento primaveril, rodopiando e rodopiando, de um lado a outro. Pouso, pólen e voo.

Sentia-se pela primeira vez viva.

Era uma borboleta realizada ao pousar em solo fértil e encontrar a rosa de cor mais reluzente, cuja beleza atrai feito magnetismo. Addison era sua flor. E era o pólen para manter vivo seu espírito. Podia com clareza dizer, que aquela mulher foi o melhor que já aconteceu em sua vida.

Passou o melhor domingo de sua vida ao lado dela. Tomaram banho pela manhã juntas, fizeram o café, cuidaram do jardim, passearam com os bichinhos... E vivenciaram um sentimento genuinamente agradável. Enquanto ao lado uma da outra, tudo pareceu-lhes tão perfeito, tão certo, e gostavam disso. Addison principalmente, pois não mais sentia-se culpada, mas sim livre.

Com o fim de seu noivado, perdeu um certo brilho natural que emanava de suas entranhas. Sentiu-se vazia, solitária, sem nenhuma emoção que lhe invadisse. Mas Meredith corrompeu com este paradigma. Chegou a sua vida de um modo sorrateiro e aos poucos foi mostrando à mulher que era possível fazer irradiar aquele brilho novamente, que era possível ser acometida pelo fervor da paixão, que era possível sorrir. Addison reluzia novamente, e sentia-se tão completa, que às vezes transbordava: em sorrisos, e olhares furtivos de paixão, em desejo.

Meredith lhe possuiu como pouquíssimas pessoas antes conseguiram. Tocou seu corpo de uma maneira tão certeira, que parecia já ter decorado todos os traços de sua pele anteriormente. Fizera-lhe queimar, no mais puro do ser humano, no mais inerente da condição humana. Depois de tempos, sentira aquela intensidade novamente. E, honestamente, passou a ter consciência de que não mais poderia viver sem ela.

Não obstante, como em todo momento bom ocorre uma interferência indesejada, a de Meredith e Addison viera com a chegada do anoitecer.

Meredith precisava voltar para sua casa, no dia seguinte seria segunda-feira, ou seja, teria de ir para a escola. Então, mesmo que contra sua vontade, mesmo lutando para não ter que pisar naquele apartamento novamente, seguiu para lá.

— Você tem certeza, M? — Addison perguntou, numa preocupação que emergia pelos olhos, enquanto olhava para as janelas do prédio que Grey morava.

— Sim... Não precisa se preocupar, ok? Eu consigo lidar com ela — respondeu, segurando o rosto da ruiva, trazendo-o para baixo. Fixou o olhar incisivamente no seu, intercalando entre as verdes orbes atraentes.

— É claro que me preocupo... Sua mãe não é normal e eu não gosto da ideia de você ter que sofrer sozinha os abusos dela — inconformada, afirmou, adquirindo naturalmente uma tristeza na face.

— Eu já me acostumei — garantiu num sorriso, que para Addison não fora nada sincero.

— Não deveria — enfatizou. — Você não deveria ter que se acostumar com uma barbaridade dessas… Você é uma pessoa tão boa, tão…

— Addie... - interrompeu-a Meredith, sorrindo abafado. — Infelizmente, a vida funciona assim. Precisamos naturalizar algumas coisas, para continuar sobrevivendo. Caso contrário, enlouquecemos.

— Por que é mais fácil moldar a vítima do que quem a prejudicou? Isso não é justo.

— A vida, meu amor, não é justa… — sussurrou, roçando a ponta do nariz arrebitado no nariz gelado de Montgomery.

Impermanência𓂃 ִֶָOnde histórias criam vida. Descubra agora