Meredith𓂃 ִֶָ
Na manhã seguinte, quando meu pai entrou no meu quarto e arredou estrondosamente a cortina no trilho, minha cabeça rodopiou. E num estado psicologicamente dissociativo, eu não sabia o que sucedia ao meu redor. Me levantei depressa, e num erguer inconsciente de coluna, uma dor lacônica e fina feito um alfinete comprimiu meus miolos e depois bagunçou-os, sem que nenhum fosse capaz de executar sua função com sucesso. Era assim que eu me sentia.
Thatcher estava ao telefone, e enquanto gritava com quem quer que fosse do outro lado da linha, eu fazia gestos mudos para que ele diminuísse o tom de voz ou eu iria ter um colapso. Minha cabeça doía tanto, que eu podia socá-la na parede para testar se meus sentidos ficariam dormentes. Mas ele não entendeu, ou não quis entender. Então eu me deitei outra vez e cobri a cabeça com o travesseiro, pressionando-o contra meus ouvidos com o mínimo de força que eu conseguia, para não piorar a dor que já transcendia ao delírio humano. Abafar, então, a voz rouca e falha do meu pai, discutindo com quem eu deduzi ser minha mãe, foi como uma ponte para que alguns flashs efêmeros, porém explicativos, esclarecessem alguns questionamentos. A começar por "como acordei em casa se a última coisa que eu me lembrava era de estar aos beijos com Maya, no banco de trás do carro dela?".
Como assistir a uma gravação barata, em um cinema mudo e preto-e-branco, a cena pixelada de Maya dirigindo, em direção à minha casa, atingiu-me. Não me lembro, porém, de como ela soube do meu endereço. Mas saber que havia sido ela a me trazer, já estava de bom tamanho. Depois, a lembrança nada agradável de ir virando uma bebida atrás da outra, sem me preocupar que eu acordaria tão nauseada como se ainda estivesse bêbada e que em meu estômago teria mais toxinas do que no lixo químico de uma drogaria. E, por fim, a memória que eu sequer havia evocado, muito menos questionado: eu, ao telefone, aos prantos, falando com ninguém mais ninguém menos que Addison. E no momento específico em que o ato até então inofensivo de rebobinar, foi longe demais eu consegui ouvir minha voz, dizendo que ainda a amava, ecoando infindavelmente na minha cabeça. “Eu ainda te amo, com todo o meu coração”, foi o que as ruínas de mim evocaram coração a fora.
Eu literalmente enlouqueci.
De repente me sentei à cama, ainda mais ligeira que antes, derrubando meu travesseiro no chão. Eu não disse a ela aquilo. Não é possível que eu tenha tido a audácia de dizer aquilo para Addison. Que burrice foi que eu fiz?
— Ellis, escuta... Eu já chamei ela, caramba... Sim... Sim, ela vai!
Thatcher estalou os dedos na minha frente e o mundo existencial me sugou para fora do caos da minha mente por três segundos. Olhei para aquela cara feia dele, ele tapou o microfone do celular e sibilou um: lavanta.
— Por quê? — Eu ouvi o quão minguada e quebradiça minha voz estava e pigarrei. Mas era sede.
— Porque sua mãe tá enchendo a porra do meu saco falando que suas aulas voltam hoje.
Nesse momento, Thatcher livrou o microfone e falou bem próximo a ele. Eu quase consegui ouvir minha mãe dizer: “O que foi que você disse? Repete?!”. E provavelmente foi exatamente isso que ela disse porque meu pai respondeu: — Foi isso mesmo que você ouviu. Tá com algum probleminha de audição agora, é? — Ele revirou os olhos. — Porra de mulher chata, eu já falei que a menina vai para a escola.
— Eu não vou não — intervi, incisiva como se a escolha estivesse ao alcance de mim, pegando meu travesseiro no chão e me deitando sobre ele outra vez.
Ellis deve ter ouvido o que eu disse, porque seus gritos soaram claros e nitidamente para mim.
— Cala a boca, Ellis... Menina! Faz o favor de ser menos mimada e levanta dessa cama. Eu não tô afim de ficar ouvindo essa desequilibrada da sua mãe gritando no meu ouvido, não.
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Impermanência𓂃 ִֶָ
FanfictionMeredith Grey ingressa no terceiro ano letivo do ensino médio, no L.A College, mas com o sentimento persistente de que não irá aguentar mais um ano de sua caótica vida. Mas, para sua surpresa, um fulgor de esperança reverbera sobre si quando seus o...