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Ainda estava nua, deitada ao peito de Addison. Do meu cabelo, ainda molhado do banho recente, finas gotículas de água escorriam, molhando a pele dela sob mim e escorrendo mansamente por seu abdômen. Sentia seus dedos movendo-se plácidos e carinhosamente nos meus cabelos e, às vezes, o calor repentino de seus lábios me aquecia num beijo singelo no topo da cabeça, causando-me sensações vibrantes no baixo ventre e um desejo íntimo de que aquele momento jamais acabasse. Addison era meu porto seguro, e até seu cheiro fazia com que eu me sentisse em casa, descansando o coração num abrigo de paz depois de tantas desavenças. Gosto dessa sensação de conforto que ela me traz, sobretudo por saber que, se algum dia eu me sentir perdida, posso me reencontrar no aninhar de seus braços.

— Por que você tem estado tão silenciosa ultimamente? — ouvi seu sussurro ressoar bem acima de minha cabeça, tão perto que pude sentir o calor de seu hálito no meu couro cabeludo. Levantei meramente minha cabeça, alcançando a nuance duvidosa que cobria o verde dos seus olhos.

— Eu...? Por nada — respondi, arrastando o dedo nas pintinhas diversas que coloriam seu pescoço.

— Hum... Não me convenceu, mocinha — suspirou, cerrando o olhar em minha direção. — Está preocupada com alguma coisa? — Neguei com a cabeça. — Pensando em alguma coisa?

Mordi o lábio em desconcerto, descendo o olhar para encarar unicamente suas pintinhas e tocá-las.

— Acho que estou certa. — Sorri brevemente, ainda sem ter coragem de encará-la. — Vai me contar o que está havendo nessa cabecinha?

— Eu só, eu... — balbuciei, prensando os dentes com força sobre o lábio inferior, a forma como Addison consegue me entender pelas entrelinhas é mesmo surreal. — Estou pensando que... hum... você... — Addison me surpreendeu com um selinho repentino nos lábios, para em seguida sua gargalhada soar por todo o quarto. — Não ria de mim, Montgomery... — Escondi o rosto na curva de seu pescoço, sentindo o nervo de sua mandíbula pulsar sobre meu rosto.

— Eu não sei lidar, M... Me desculpe. — Resquícios de sua risada ainda eram notáveis, ao passo que sua voz ainda tremia com nuances claras de divertimento.

— Não tem graça, porra — falei baixo, querendo enterrar meu nariz cada vez mais fundo em sua pele, como se pudesse me tranfundir lá e permanecer para sempre. No entanto, suas mãos tocaram-me no rosto, e ergueu minha cabeça com cuidado. Havia espontaneidade no brilho de seus olhos, assim como uma pitada de curiosidade o circundava.

— Me conta, vai... Adoro ouvir sobre as minhoquinhas da sua cabeça.

— Ei, não são minhoquinhas, tá legal? — exprimi o ar impacientemente, mas o sorriso largo de Addison, aquele mesmo que me faz ir de um universo a outro em questão de segundos, reverberou, desincrustando toda a nebulosa do meu coração. Suspirei aprazível, que poder é este que as ações de Addison têm sobre mim? Como será que funciona essa dicotomia de conseguir me desalinhar e depois me pôr nos eixos novamente?

Talvez eu jamais saiba, o que sei, realmente, é que esse sentimento paradoxal que ela me causa e que me faz tremer dos pés a cabeça, só pode se atrelar àquilo que as más línguas chamam de estar apaixonado.

Retornei à órbita quando mãos quentes com um toque certeiro me apertaram a cintura nua, fazendo com que um pequeno grunhido escapasse do vão entre meus lábios. Vi com clareza quando um sorriso provocativo nasceu na curva dos lábios da ruiva.

— Eu preciso pegar algo... — Me levantei depressa, vestindo o robe de seda lilás de Addison que estava ao pé da cama. Vi-a sentar no colchão e me direcionar perguntas que buscavam saber o que eu estava prestes a fazer, mas ignorei, assim como fiz quando encontrei o verde ansioso de suas íris e apenas lancei-lhe uma piscadela.

Impermanência𓂃 ִֶָOnde histórias criam vida. Descubra agora