O modo como Addison burlou o requisito de Meredith, ao correr em alta velocidade com sua moto, fez com que a densa ventania perpassasse aceleradamente, castigando o rosto da garota. “Devagar”, ela havia deixado bem claro para a mulher, antes de subir na moto, ainda com os pés plantados no chão em um sutil pavor. E acreditou mesmo que ela acataria, até porque concordara que não iria correr. Sendo assim, Grey deixou aberto o visor de proteção do capacete que usava, pois queria sentir o vento em seu rosto.
Mas se arrependeu amargamente depois que passou a sentir sua pele incontestavelmente gelada, já tornando-se sensível. Poderia, sim, abaixar o visor para proteger o rosto, mas não queria afastar os braços que circundavam com uma força instintiva a cintura de Addison. Sofria de um medo terrível por motos, não iria se arriscar a tanto.
Suportaria com humildade aquela ventania que lhe rasgava feito navalha.
A fim de buscar algo que lhe servisse como ajuda para seu pequeno grande problema, recostou a cabeça nas costas da ruiva, escondendo o rosto. No entanto, quando inspirou para inflar o pulmão com oxigênio, foi o cheiro dela que lhe imiscuiu, que havia de ser bom o suficiente para ela inspirar novamente — só que dessa vez com mais intensidade, soltando um pequeno sorriso satisfeito no fim. Ali, apesar do frio delirante, sentiu com graça seu interior se aquecer, então aninhou-se ainda mais contra aquele corpo robusto e perfumado.
Quando Montgomery estacionou defronte o café, Meredith garantiu que estavam em inércia absoluta para só depois abrir os olhos. Finalmente, pode até comemorar ao conseguir respirar sem sentir o vento com pressão lhe congelar por dentro. Mas logo ouviu uma risada ressonar abafada dentro do capacete e Addison virou a cabeça parcialmente para trás.
— Acho que agora você já pode me soltar... Não corre mais perigo. — Meredith olhou estupefata para baixo, e concluiu que ainda mantinha Addison presa no entrelaço de seus braços.
— Oh... Que bela idiota eu sou — falou, afrouxando os braços — , me desculpa.
— Bobagem, querida... — A ruiva desceu da moto e só então retirou o capacete, sentindo um primeiro vento frio entremear em seus cabelos. Diante do olhar apreciativo de Grey, ela balançou vagarosamente a cabeça, fazendo dançar a cabeleira ruiva no ar e por fim jogou para um único lado do pescoço.
Ainda com os olhos fixos na mulher, que exalavam nuances do seu encanto desmedido, faltou pouco para que Meredith perdesse a consciência dos seus mecanismos. Muito pouco.
— Não vai descer? Ou precisa de ajuda? — perguntou Addison, contento um sorriso que violentava-lhe a garganta a fim de vir à tona. Era hilário ver Meredith lhe olhando daquela forma, descaradamente, como se quisesse devorá-la.
— Oh... — murmurou, recobrando-se ao plano existencial.
— Se você quiser que eu te ajude... — Addison se aproximou ligeiramente quando achou que Meredith cairia no chão, pois seu pé colidiu violentamente contra a borracha de estribo da moto.
Sem pestanejar, ela segurou com firmeza cada lado da cintura da garota, que ergueu a cabeça e lhe olhou sem reação.
Addison resfolegou lentamente, afastando com os dedos os fios de cabelo rebeldes que caíram contra o rosto de Meredith. No entanto, por um desejo que nem mesmo soube de onde teve origem, baixou o olhar até fitar seus lábios finos e secos tão de perto.
Contornou com o polegar o lábio inferior da garota e, com o restante dos dedos, alisou a lateral de seu rosto. Meredith eriçou. No segundo seguinte, a mulher se afastou, exibindo um sorriso estreito e amarelo, mas a ponta de seus dedos e a palma inteira da outra mão queimavam, como se ainda estivessem postas sobre a pele da garota. Meredith, por sua vez, sentia sua cintura, seu lábio e seu rosto formigarem.
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Impermanência𓂃 ִֶָ
FanfictionMeredith Grey ingressa no terceiro ano letivo do ensino médio, no L.A College, mas com o sentimento persistente de que não irá aguentar mais um ano de sua caótica vida. Mas, para sua surpresa, um fulgor de esperança reverbera sobre si quando seus o...