30𓂃 ִֶָ

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madruguei glr 👍🏻

Narradora
: ˖𓂃 ִֶָ๋ 𖢆 ִֶָ

A garrafa long neck que outrora se encontrava cheia de cerveja, agora girava e girava repetidas vezes no chão amadeirado do deck, servindo como pilar de um jogo de verdade ou consequência.

— Arizona pergunta pra Meredith! — April gritou, num estado ligeiramente embriagado. Em determinado momento daquela espécie de "festa particular", que ocorria entre os jovens na praia, a garota despiu-se dos seus preceitos religiosos e se deixou levar pelo momento, acabando por ceder à bebida.

— Verdade ou desafio, minha amiga?! — Arizona gritou também, enquanto batia palmas em euforia.

— Desafio. — Meredith não tardou em responder, tampouco em corresponder o lampejo provocativo que irradiou dos olhos de Robbins, feito o brilho das estrelas no enegrecido céu.

— Vejamos... — A loira proferiu em delonga, percorrendo os olhos vagarosamente em todas as garotas que ali estavam. Até enxergar quem queria. Andrea Herrera. E piscou para ela. A garota não estava na roda, mas sim um pouco mais afastada, tomando uma cerveja, recostada no parapeito do deck.

Enquanto ainda estavam bebendo no bangalô, há menos de uma hora atrás, Andrea havia demonstrado interesse em Meredith, que, no entanto, estava alterada demais para perceber. Diferentemente de Arizona, que captou no mesmo instante o vislumbre de atração no olhar de Andrea, mesclado a relutância em se aproximar de sua amiga. Foi a oportunidade dos séculos. Porque, sim, Arizona sabia que Meredith precisava desencantar-se de uma vez por todas da ilusão nefasta que Addison plantara em seu coração. E começar a beijar outras bocas, sempre funcionava. Então ela prometeu para si e para Andrea, que faria algo rolar entre as duas ainda naquela noite. Tornasse ela um cupido ou propusesse um jogo idiota de verdade ou consequência.

— Eu te desafio beijar a Andy.

Meredith enrugou as sobrancelhas, e olhou encabulada para cada integrante daquela roda. Face a face. Mas conhecia todos presentes ali. E a correlação do nome jamais ouvido não fez referência a ninguém.

— Quem é Andy? — perguntou, acreditando veemente em ter se expressado em volume baixo. A surpresa veio quando ouviu uma voz preenchida e harmoniosa atrás de si, feminina apenas por reconhecimento.

— Sou eu.

Meredith se virou curiosa para trás, num movimento tão ligeiro do pescoço, que a cabeça girou e oscilou a capacidade de visão dos olhos por alguns milésimos de segundos. Assim que o globo ocular voltou ao foco perfeito, a figura que lhe foi disposta ultrapassou o sentido da visão e se ampliou à todos os outros. E, por instinto humano, seu corpo vibrou.

Andy era uma garota aparentemente comum, à olho nu, mas, no momento em que Meredith a viu, foi capaz de enxergar algo superior nela. Alguma característica inexplicavelmente atraente, que a fez descobrir que a beijaria sem que Arizona a tivesse desafiado. Talvez fosse a curva travessa em seus lábios, quando ela sorria de canto. Talvez a cor tão natural dos olhos castanhos. Ou talvez a autoconfiança que a postura esguia de seu corpo expressava.

Poderia ser por muitos motivos. Mas nem um terço deles foi necessário para Meredith balançar a cabeça em concordância à sua amiga, e se levantar.

Ainda se sentia aérea, pelo cigarro de maconha, a tequila e a cerveja. E Andy também notou ao aproximar-se dela, mas sem deixar de sorrir como se houvesse ganhado a noite. E havia. Segurou em sua cintura com uma força instigante, a salvando do leve embaraço de equilíbrio, e depois sorriu. Um hálito caloroso, os lábios molhados e convidativos, os olhos cor de mel num brilho desigual. Meredith ergueu a mão até seu rosto bronzeado, sentindo num arfar tênue de conclusão que era tão macio quanto imaginara.

Naquele momento, até se esquecera de que estava cercada de pessoas.

— Você é muito bonita... — Meredith disse depois de um longo suspiro, e quando um vento gelado perpassou-lhe o corpo, ela acabou se aconchegando ainda mais nos braços da morena, que lhe recebeu com uma placidez cálida, transformando-se lentamente em lasciva.

— Você é magnífica! — Andrea enfatizou, jogando para trás o cabelo loiro dela. Estava hipnotizada, os olhos incapazes de dissociar-se daquele rosto tão singular, dos traços tão individuais. Meredith era como a garota mais bonita que já havia tido o prazer de ver. E, graças à Arizona, que teria o prazer de beijar.

— Vamos, porra. Isso aqui não é peça teatral pra vocês ficarem fazendo ceninha, não. — Arizona gritou, com seu timbre reconhecidamente fino e esganiçado.

Meredith e Andrea soriram quando uma onda ampla de vozes começou a ressoar, um coro organizado proferindo incentivos. "Beija, beija, beija", eles gritavam, vibravam, eufóricos e ansioso, como se as duas fossem a maior atração da noite. Palmas, assobios e outros sons categóricos, ecoando em ondas atenuantes, tanto quanto aquelas que se quebravam no mar a poucos metros.

E então aconteceu. Andy curvou o rosto e beijou Meredith. Os gritos ficaram mais altos. A salva de palmas mais firmes. Os assobios mais agudos. E a brisa tão plácida feito seda, deixou de carregar apenas o perfume da maresia e passou e se encher daquela agitação sonora, transportando-a até alguém, que de repente ficara mais atenta do que deveria.

Addison fumava um cigarro do lado de fora de seu chalé, quando o ecoar de um escarcéu de vozes e gritos atingiu-lhe os ouvidos, feito uma decadência momentânea que acomete o sentido auditivo e de repente o potencializa. E se ouve além do que se ouvia antes. Pousou no sofá o livro que jazia em mãos e franziu o cenho em curiosidade, manejando a cabeça em direção a amplitude das dunas de areia. Mas a frustração de não conseguir ouvir nada além de gritos desconexos, dissipou-se quando enxergou a distante movimentação e o revérbero de algumas luzes, bem de onde sabia que se localizava o deck, cuja iluminação não existia na noite anterior.

Estivera ali, ontem, no mesmo lugar, também olhara para a mesma direção mas não notara aquelas luzes. Sequer ouvira aquela algazarra. Adolescentes farreando. Só podia ser, pensou . E se enraiveceu ao ter que se livrar do seu cigarro, no cinzeiro, e se levantar para ir verificar.

É claro que algo, muito em breve, aconteceria. Os alunos passaram dias demais quietos. E isso raramente acontecia quando todos eles se juntavam por mais de um dia. Addison bem sabia que, lidando com jovens, era grande a probabilidade de ocorrerem aqueles pequenos delitos envolvendo bebidas e festas, até então proibidos.

Só não fora capaz de imaginar que tais delitos sub-reptícios serviriam para lhe frear bruscamente ao chegar no deck e ver, antes de qualquer outra coisa, aquilo que seria o colapso de sua condição cardíaca. Aquilo que lhe doeria a alma como uma patologia infernal flamejando de dentro para fora. Aquilo que faria o tecido de sua pele comichar. Aquilo que faria sua boca arder como se o mel de que se recordava se transfundisse em fel.

Porque Meredith beijava outra mulher.

E enquanto negava para si mesma que diante de seus olhos aquela blasfêmia acontecia, flagrava a mulher tocando o corpo de Meredith, enquanto a beijava com a urgência de que se espera pela vitalidade de um órgão. E conseguia ver de longe. E no ímpeto súbito de cólera, que revirou-lhe o estômago e queimou a garganta, gritou em alto e bom som:

— O que é que está acontecendo aqui?!

: ˖𓂃 ִֶָ๋ 𖢆 ִֶָ

pimenta no olho dos outros é refresco né otária?
😘

Impermanência𓂃 ִֶָOnde histórias criam vida. Descubra agora