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Há aproximadamente duas semanas que Meredith tem ficado na escola após o horário do término das aulas diurnas, por vezes estudava as matérias daquele dia, ou fazia algum exercício pendente, ou simplesmente se empenhava a olhar para o nada. Tudo isso para não ter que ir cedo para casa. O clima no local não estava dos melhores, sua mãe vinha lhe importunando constantemente, e o pior é que não havia motivos aparentes. Ellis descontava na filha todas as suas frustrações, culpando-a de todos os problemas que surgiam. Meredith, porém, não se assustava, já havia se acostumado, até porque, quando seu pai foi embora, Ellis passou o resto do ano culpando a garota pelo fim do seu casamento. Que culpa Meredith tinha? Nem mesmo ela sabia.

Então, ficar na biblioteca da escola até o fim do turno da tarde, vinha sendo uma opção mais atrativa do que ir para casa.

Era uma tarde de sexta e fazia frio, embora os característicos raios de sol Californianos reverberassem de modo a abafar um pouco o clima. Estava Meredith, como de praxe nos últimos dias, sentada no chão da biblioteca, ouvindo música e lendo um livro de poesias que encontrou numa estante. 

Olhou de relance para o seu relógio digital no pulso, três da tarde ele demarcava, ou seja, ainda faltavam duas fatídicas horas até o momento de ir embora. Era um verdadeiro tédio. De fato, naquela biblioteca não havia movimentações, às vezes alguns alunos entravam para escolher um livro, ou algum professor. Mas, ao menos era silencioso.

Quando Meredith virou mais uma página do livro, pela trigésima vez naquela tarde, a porta da biblioteca se abriu. Como de costume, buscando alguma novidade a qual pudesse entretê-la, a garota ergueu os seus olhos. E que baita novidade. Havia entrado, ninguém mais e ninguém menos que sua professora de biologia, algo atípico demais para ela que estava ali há duas semanas e nunca havia experienciado a presença de Montgomery. Achou estranho, mas um estranho que seu coração já começava a moldar para fascinante, com batidas cutucando-lhe o peito em frenesi, como se houvesse festa dentro de si.

Viu, de modo maravilhado, Addison conversar com a bibliotecária, expressando aquele seu original jeito delicado, que fazia Meredith derreter por dentro. Para a garota, ela parecia ainda mais bonita e sorridente do que quando dera aula pela manhã, ou era apenas o sentido de Meredith que resumia o ato dela sorrir, ao seu estado como um todo.

A mulher usava uma blusa preta simples, uma calça larga azul marinho, nos pés um tênis azul e sua inseparável bolsa bege de tricô. Linda, pensou Meredith, deixando de lado seu livro. E a música melancólica e limerente que ressoava de seus fones de ouvido, fez senti-la como se vivenciasse uma cena surreal.

Sem saber como chamar a atenção da professora, que ainda não tinha percebido sua existência ali, Meredith tossiu, e nada. Depois de novo, e de novo (...) Nada. Sentiu-se então uma completa idiota, parecia piada que queria ser enxergada por Addison, por que essa necessidade? Ela era apenas sua professora. Mas o subconsciente da garota sabia que talvez fosse mais do que isso.

Sucumbindo ao fracasso, ela voltou a ler seu livro e recostou-se na estante, resfolegando para estabelecer autocontrole e não olhar para a ruiva novamente.

Entretanto, suprindo o desejo oculto de Meredith, Addison, ao findar sua conversa com a bibliotecária, viu sobre a mesa uma mochila conhecida. Poderia ter se confundido, afinal, mochilas iguais existiam várias, mas não. Soube que estava certa no segundo em que fixou sua atenção no livro disposto ao lado, o livro que emprestara à Meredith. E sorriu de modo agradável, aproximando-se da mesa em questão, para tentar encontrar a garota. Viu-a por fim, sentada no chão, com a atenção plenamente voltada ao livro que tinha em mãos.

O que ela não vira, porém, era que Meredith emanava uma ansiedade trêmula pelos poros do corpo, justamente por senti-la se aproximar. Mas, fingiu continuar a ler.

Impermanência𓂃 ִֶָOnde histórias criam vida. Descubra agora