Molly Hill
Apareço no D.O. do aeroporto ainda meio sonolenta, mas com o coração saltitando ao relembrar da noite anterior, não pude conter minha alegria e surpresa e acabei passando a madrugada inteira fofocando com a Olivia por mensagem, contando tudo o que acontecera, ela parecia estar mais animada do que eu. O restante da tripulação chega alguns minutos depois de mim e então temos nosso briefing pré-voo, me exalto quando descubro que nossa viagem será para Paris, em meio aos últimos acontecimentos até esqueci de acompanhar nossa escala por e-mail e por esse motivo estava radiantemente boquiaberta enquanto o comandante James nos atualizava do nosso destino. Paris era um lugar especial que eu nunca tinha ido e sempre esteve nos meus planos conhecer, então não consigo reprimir minha empolgação para essa viagem, meu semblante muito bem-humorado é perceptível por qualquer um presente.
James e o novo copiloto se adiantam em ir até a aeronave para agilizar o serviço e eu acabo ficando alguns minutos para trás por diminuir meus passos enquanto digito freneticamente as teclas do meu celular ao enviar uma mensagem entusiasmada para a Olivia dizendo que irei finalmente conhecer a cidade luz quando sou pega desprevenida por uma voz que nem de longe eu esperava ouvir essa semana.
— Algum motivo especial pra você não estar dentro da aeronave prontamente à espera do seu cliente, senhorita Hill?
Arregalo os olhos ao me deparar com Henrick Sawyer ao meu lado.
— O que voc...? — franzo o cenho.
Mal termino o que tenho para questionar, olho rapidamente para a aeronave na pista e novamente para ele sem entender absolutamente nada, por que era o seu Cessna que estava pronto para decolar se a nossa tripulação recebera confirmação primeiro?
— Surpresa. — ele sorri de canto, satisfeito por não ter me feito desconfiar de nada.
— Você é o nosso cliente?
— Uma feliz coincidência a sua tripulação ser a única disponível pra essa semana, não? — ironiza.
— Henrick! — exclamo irritada, mal podendo acreditar que ele havia me contrariado.
— Não é um contrato fixo como antes, Molly. — explica. — Apenas essa viagem.
Continuo a encará-lo incrédula, mas não mais chateada uma vez que ele garantiu não ter nenhum contrato de exclusividade de novo.
— Você está jogando sujo! — balanço a cabeça negativamente, querendo sorrir, mas não dando o braço a torcer.
— Mas nada impede que não tenha outras. — ele provoca com um sorriso maroto nos lábios e segue em direção ao jatinho.
Mesmo estando a trabalho do meu novo namorado, preciso manter a compostura e ser profissional o bastante para tratá-lo apenas como um cliente da empresa. Caminho apressada até o jato onde o restante da tripulação está a cumprimentar o Henrick ao pé da pequena escada. O comandante me lança um olhar repreensor por esse pequeno descuido e atraso, logo peço desculpas ao motivo da minha distração fingindo que nada tinha acontecido e então entramos na aeronave atrás dele.
— Fiz o cheque pré-voo por você, Molly, mas que isso não se repita! — James me chama atenção assim que ponho meus pés no cockpit.
— Não irá, comandante. — pisco o olho, tentando me retratar.
Ainda que me considerando alguém da sua família, comandante Watson jamais passaria a mão na minha cabeça por um erro principalmente depois do acidente que sofremos, poderia custar caro ignorar algum desleixo e sob hipótese alguma eu ficaria aborrecida por sua censura, ele só estava a fazer seu trabalho da melhor forma.
Não demoramos a chegar na França, logo nossa aeronave estava a aterrissar no aeroporto Roissy-Charles-de-Gaulle há vinte e três km a nordeste da capital. Diferente do restante da tripulação, fico do lado de dentro perto da porta para me despedir do Henrick, evitando possíveis olhares caso ele quisesse me dar algum recado.
— Tenho um compromisso em quinze minutos. — ele checa o relógio de ouro em seu pulso. — Nos vemos mais tarde?
— Talvez. — respondo provocativa.
Ele balança a cabeça me olhando divertido e me dá um beijo casto antes de ir embora. Preparamos a aeronave para deixarmos na área privativa e de alto luxo do hangar e então nos direcionamos ao nosso hotel que ficava a poucos metros do ponto turístico principal, a torre Eiffel. Do andar que ficamos infelizmente não tínhamos a vista privilegiada dela, talvez os andares mais acima do nosso, mas de maneira alguma subtraía a excitação de saber que estávamos em Paris e que podíamos dar uma volta para conhecer a cidade assim que possível.
Tomo um banho e me arrumo para dar uma volta e aproveitar o fim de tarde em Paris. Peço na recepção indicação de alguma ¹boulangerie ao redor do hotel e vou até uma delas para provar o famoso croissant parisiense que faz jus a toda sua fama.
¹ – Boulangerie: Padaria.
Tenho vontade de ir até o centro, mas como está anoitecendo e o Henrick mostrou ter planos para nós mais tarde, contive minha afobação, óbvio que eu preferia mil vezes conhecer a cidade estando acompanhada dele. Volto para o hotel e quando aproximo o cartão do sensor da porta do quarto, ele não funciona, tento mais uma vez e nada, concluo que o mal de tripulante resolvera se fazer presente. Por estarmos quase todos os dias em lugares diferentes e acomodações diferentes, às vezes nos esquecíamos qual era o número do nosso quarto e acabávamos tendo que passar a vergonha de ir na recepção perguntar. Reviro os olhos e desço, agradecendo por esse hotel ter elevador já que Paris é conhecida por ter seus prédios baixos e suas instalações antigas, ao menos esse a tecnologia e modernidade destoava do restante.
Enquanto espero a moça da recepção checar no computador o número do quarto, ouço Henrick Sawyer adentrar o local com seu timbre inconfundível e seus guarda-costas que o seguem para todo lugar, assim que me vê, ele muda seus passos até mim, rapidamente agradeço quando a mulher em minha frente me dá um cartão magnético com um número cravado — certamente agora não tem perigo de eu me perder — e vou ao seu encontro.
— O que faz aqui? — ele pergunta.
— Nada demais. — dou de ombros, não querendo dizer que eu tive todo o trabalho de descer porque esqueci o quarto que eu estava hospedada.
— Quero que jante comigo no meu quarto.
— Por que não pode ser no meu? — ergo a sobrancelha. — É mais simples que o seu, mas deve caber dentro dele toda sua soberba.
— Outra hora, senhorita Hill, mas por hoje venha até o meu. — pisca o olho. — Na cobertura daqui a meia hora, nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. Não precisa ficar na defensiva, vai entender o porquê. — ele acarinha meu queixo e sai triunfante, por um instante até esqueço que ainda preciso me arrumar.
Subo para o meu quarto o encontrando sem demora dessa vez e começo a me arrumar, nada de muito especial já que de acordo com suas poucas palavras, presumo que não sairíamos da sua suíte. Coloco um vestido simples colado na cor preta e uma sandália de salto pequeno amarrada no pé, prendo meu cabelo num rabo de cavalo e faço uma maquiagem leve apenas cobrindo o que não me agradava em meu rosto, como olheiras e algumas manchinhas avermelhadas em volta do nariz, realçando então meus olhos com um rímel e minha boca com um lip balm. Fico pronta pontualmente no horário marcado, logo vou em direção à sua cobertura. Os seguranças espalhados pelo corredor do seu andar me reconhecem e me deixam entrar sem delongas.
Passo pela porta e imediatamente meus olhos varrem os cômodos à sua procura, o quarto mais parece um apartamento. O primeiro espaço que tenho contato é uma sala refinada com sofás e poltronas acolchoadas em couro que possui uma tv gigantesca e até uma lareira ao fundo, me impressiono com tamanha imponência, eu sabia que qualquer que fosse a cobertura seria encantadora, mas não pensei que fosse tanto.
— Aí está você! — Henrick aparece na sala com duas taças de vidro em mãos.
— O quarto é realmente lindo. — digo ainda observando alguns detalhes ao meu redor.
Estava acostumada com excentricidades de alguns de nossos clientes milionários, mas nunca estive em um quarto de hotel tão bem projetado e decorado numa mescla de moderno e rústico que combinava perfeitamente entre si.
— Você ainda não viu o gran finale. — sorri pelo nariz. — Venha comigo!
Ele me conduz até o outro cômodo que nada mais é que uma varanda enorme com uma piscina de borda infinita com vista privilegiada para a torre Eiffel que agora tem suas luzes acesas iluminando boa parte da cidade e parecendo um painel pintado à mão, a água reflete a vista de maneira estarrecedora.
— Uau! — olho admirada a paisagem em minha frente.
— Imaginei que fosse gostar. Projetei essa suíte há alguns meses, a altura de uma vista como essa.
— Projetou? — franzo a testa.
— Mandei construírem esse hotel onde e do jeito que eu julgava ser um diferencial dos outros, acho que as pessoas também aprovaram já que desde então a procura por esse quarto subiu. — ele fala com brilho nos olhos. — Queria que as pessoas tivessem o mesmo privilégio que eu ao idealizar tudo isso.
— Você tem mesmo uma veia empreendedora.
— Na verdade eu estava cansado de me hospedar em hotéis antigos, por mais confortáveis que fossem, faltava algo. Sentia que Paris e seus turistas mereciam mais.
— Você certamente encontrou esse mais. — o lanço um sorriso de aprovação.
Em outros tempos, há cerca de alguns meses, eu com certeza interpretaria suas palavras como sendo de extrema prepotência, como se ele como o Sr. Dono do Mundo — tal como eu julgava — usasse de seu dinheiro e influência parar mudar tudo ao seu redor para que ficasse do seu agrado sem se importar com o resto simplesmente para engradecer seu ego. Contudo, conhecendo mais dele, era visível que esse homem possuía um lado que poucos podiam ter acesso, talvez nem ele se desse conta, ele não arquitetou o hotel visando apenas dinheiro, ele teve o cuidado de perceber que poderia tornar ainda mais mágico a estadia de outras pessoas naquele lugar que já era incrível por si só e isso tinha uma sutileza tremenda, pela primeira vez ele não mostrara estar preocupado somente com o seu umbigo.
— Hoje sim. — ele me fita intensamente e eu o encaro sem entender. — Parece uma junção perfeita agora, essa vista e você.
Me pergunto se ele está querendo me encantar com essa declaração e ele parece ler minha mente, respondendo minha suspeita rapidamente.
— Eu sei que acha que quero utilizar o momento a meu favor, mas eu não estou mentindo, você é a primeira mulher que trago aqui e hoje mais do que nunca eu vejo que valeu à pena.
Envolvo meus braços ao redor do seu pescoço e embrenho minhas mãos em seus cabelos macios, selando nossos lábios com um beijo emocionado, Henrick estava se mostrando outra pessoa e não parecia forçação de barra.
Sentamos à mesa e então o seu chef particular trouxe nossos pratos, em seguida enchendo nossas taças com um vinho maravilhoso escolhido por Henrick. O jantar fora uma delícia, não somente pela comida saborosa, mas também pela junção do vinho, da companhia do meu lindo namorado e daquela vista estupenda em nossa frente.
Mais algumas taças de vinho e eu comecei a achar que subira um calor repentino, mesmo com o vento frio de Paris a se chocar conosco. Me levanto sob o olhar profundo de Henrick e caminho até a borda da piscina, tiro minhas sandálias logo após tirar meu vestido, ficando apenas com minhas peças íntimas e o lanço um risinho maroto antes de me jogar na água quentinha. Nado calmamente rente ao fundo iluminado da piscina e emerjo do lado oposto, me apoiando na borda a vislumbrar a cidade, esperando obviamente que ele deixe de lado a postura alinhada e se junte a mim.Votem e comentem! ❤️
VOCÊ ESTÁ LENDO
Comissária do CEO
RomanceNão se deixar abater. Esse era o lema de Molly Hill, uma jovem comissária de bordo de jatos particulares, que carregava em seu peito mais dores do que demonstrava. Fixada em sua rotina de trabalho e almejando usar de seu ofício para suprir a falta d...