CAPÍTULO 10

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Molly Hill

Poderia esperar qualquer coisa de Henrick Sawyer, mas jamais que ele iria abrir mão de nos ter como sua tripulação tão rapidamente, sua decisão mostrou para mim que, assim como eu, ele também já estava cheio de toda essa situação, foi nobre de sua parte me deixar respirar outros ares e parar com sua implicância comigo, mas não consigo ficar feliz com essa notícia, não sei que tipo de sentimentos eu posso desenvolver estando longe dele.

Passo um bom tempo do meu dia anterior a nossa última viagem relembrando as palavras do Patrick sobre as atitudes dele, eu estava convencida de que algo tinha despertado em seu coração, ainda que por mínimo que seja, porém faz sentido pensar por esse lado de que Henrick tenha concluído que suas investidas não surtiram o efeito esperado e que agora que engatei um novo relacionamento seria como uma confirmação de que suas tentativas não adiantariam.

Fico confusa analisando amadoramente os fatos, não sou tão boa em sacar as coisas no ar como minha querida amiga, mas alguma coisa simplesmente não se encaixava, Henrick só ficou sabendo de mim e do Patrick na noite do casamento e aquele envelope já estava em sua posse, os tramites da quebra do acordo já estavam resolvidos e sendo o Sr. Dono do Mundo ou não, esse é o tipo de coisa que não fica pronto de uma hora para outra, leva legalmente pelo menos alguns dias para ser solucionado, então sua decisão fora tomada muito antes, não foi pelo impulso da raiva, ou ele realmente estava nutrindo um certo interesse por mim que o fazia ser um pouco mais sensato e menos cafajeste, me afastando para que assim não me machucasse com suas duras palavras e incertezas, ou ele tinha virado a página para fazer a fila andar. Eu precisava entender o que o levou a tomar essa medida drástica.

Balanço a cabeça espantando meus devaneios e vou fazer algo útil, arrumar minha mala. Nunca tinha visitado a América do Sul, estava curiosa para sentir o clima e ver de perto se tudo o que constava em depoimentos e relatos na internet sobre o calor, as praias, a cultura, a receptiva calorosa dos brasileiros e a comida fazia jus aos boatos positivos. Duas horas depois, quase finalizando, procuro pelo meu chapéu de palha customizado com minhas iniciais que não o uso faz um tempo e é por isso que não o acho, acho que é a ocasião perfeita para expor ele, mas não lembro onde posso ter guardado. Abro diversas gavetas e compartimentos do guarda-roupa meio chateada de ter que revirar e bagunçar tudo, mas não vou sair de Nova Iorque sem o meu lindo chapéu. Subo em uma cadeira para me ajudar a alcançar a parte superior, até que na última divisória, tateando o espaço com as mãos, um livro cai na minha cabeça, praguejo de raiva. O pego e me dou conta de que fazia um tempo que eu não o lia, era a minha apostila do curso e treinamento de comissária de voo, continha informações importantíssimas ali quanto a primeiros socorros, emergência a bordo, sobrevivência e muito mais, sinto uma fisgada no coração ao folheá-lo, espero nunca colocar esse tipo ensinamento em prática, mas tenho medo de que se um dia eu precisar dessas técnicas e ações imediatas, eu não consiga a excelência do meu profissional e trave sem saber o que fazer ou por onde começar. Então, como estar em dia com esse lado da aviação é imprescindível, decido dar uma lida, enquanto meu chapéu se esconde de mim.

Na euforia de rever o Henrick, acabo chegando duas horas mais cedo no aeroporto, então fico a mexer no celular no D.O. enquanto ninguém aparece. Cerca de meia hora depois, James chega, seguido do Patrick, meu semblante não está muito animado e eles logo percebem, os despisto dizendo que estou com dor de cabeça, não quero que o comandante Watson saiba que caí nos encantos do nosso chefe, mesmo que me conhecendo bem seja decifrável minhas reações, por sorte meu namorado falso entende o recado e não toca no assunto.

Fizemos o briefing que durou mais do que normalmente duraria, pois estávamos a ir numa rota nunca traçada por nós, Brasil, e alguns pontos e observações eram muito importantes. Fiz o check da aeronave, bem como conferi a presença do kit de sobrevivência, que geralmente passava despercebido por mim, presumindo que jamais precisaríamos usá-lo, mas dessa vez eu sentia que devia dar uma atenção especial para esses elementos, não por achar que seria necessário, mas por perceber que fora muita displicência da minha parte não incluir a verificação dele na minha checagem. Patrick e James estavam preparando o cockpit e fazendo as anotações básicas no diário de bordo, como os cálculos de combustível, peso, rota e passando todas essas informações para a torre para que eles pudessem liberar ou não nossa decolagem para agilizar o processo, já que o Sr. Sawyer não gostava de aguardar muito tempo em solo.

Comissária do CEO Onde histórias criam vida. Descubra agora