CAPÍTULO 5

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Molly Hill

Nossa tripulação estar à disposição do Henrick agora 24 horas, 7 dias na semana era simplesmente a representação perfeita do inferno, não só porque o cliente em questão era ele, mas também porque voaríamos muito menos do que realmente gostaríamos. Tento olhar positiva para o fato do meu sonho não ter sido interrompido com uma demissão súbita, mas não consigo, a outra dúzia de milhares de contras fazem minha cabeça dar voltas. Quero xingá-lo de todos os nomes feios possíveis e dizê-lo uns belos desaforos, porém o restinho de equilíbrio mental que ainda possuo me lembra que não posso porque ele é meu chefe a partir do dia que essa merda de contrato foi assinado, ou seja, provavelmente hoje. Mando uma mensagem para a Olivia a mantendo informada dessa bagunça e ela, como sempre, leva na esportiva e responde que eu pelo menos terei um colírio para a vista mais frequentemente do que eu talvez merecesse. Às vezes eu odeio seu bom humor.

Aproveitei que o James estava online e lhe mandei inúmeras mensagens desabafando sobre nossa mais nova profissão, a de ser escrava do Sr. Dono do Mundo, ele já esperava por isso, disse que conhecendo um pouco do humor – ou ausência dele – do Henrick não era de quem estava puto e iria me demitir, mas sim de quem estava puto e faria de tudo para me fazer pagar pelas minhas escolhas, ou seja, infernizar minha vida. Então das duas uma, ou eu ficaria com ele assim como água mole em pedra dura tanto bate até que fura ou eu continuaria o rejeitando e a nossa convivência seria insuportável. Prefiro ficar com a segunda opção.

Passado uns três dias em casa mofando de perna pra cima, sem ter nada mais interessante para fazer já que até a Olivia precisou se ausentar da cidade a trabalho, voltei a minha programação normal. Nosso voo seria para Seattle e fora anunciado de última hora, Sr. Riquinho pelo visto gostava de bancar o "foda-se sua vida social, só esteja à minha disposição e faça sempre o que eu pedir, vulgo mandar", até se virar nos 30 para se arrumar, arrumar mala e estar no aeroporto em menos de uma hora, por exemplo. Já falei que odeio esse homem? Ah, já. Inúmeras vezes. Mas não posso ignorar a empolgação em minhas entranhas com a notícia, ansiosa para revê-lo. Que contraditório.

Não ter desfeito minha mala por completo foi a melhor decisão que tomei na vida, a base que me acompanhava em qualquer viagem que fosse permanecia lá, tinha tirado apenas as roupas sujas, precisando agora só colocar roupas limpas porque as demais coisas já estavam lá, é, preguiça às vezes ajuda. Consegui ficar pronta em exatos trinta e cinco minutos, nem sei como, mas em menos de uma hora eu já caminhava pelo longo saguão do aeroporto internacional John F. Kennedy em direção ao D.O. Estive em Seattle várias vezes graças a minha profissão e não era novidade alguma o Q desse briefing, as mesmas informações, os mesmos alertas de tempo fechado para essa época do ano, então fiz pouco caso. A verdade é que eu estava um pouco fora do ar com uma certa inquietude para dar de cara com o meu mais novo patrão e usar o meu melhor sorriso. Se ele acha que vai ser fácil infernizar minha vida, está muito enganado porque eu estou dedicada a não dar o braço a torcer.

Não demorou muito para que o Henrick chegasse em companhia da sua típica cara de quem acordou com a pá virada, não cumprimentando sequer o James. Verifiquei rapidamente a posição das poltronas ocupadas por ele e sua equipe e os cintos se estavam devidamente afivelados e então fui para o cockpit para a procedência da decolagem. Quis passar o mínimo de tempo que eu pudesse na cabine de passageiros, evitando cutucar a onça com a vara curta já que ele entendia minha presença como um sinal verde para encher o meu saco, mas como nem tudo na vida é como a gente quer, tive que ir lá muito mais vezes do que eu gostaria, para servir o jantar e ajudar um dos seguranças que tinha problemas com o sistema de tv que misteriosamente resolveu dar pau numa hora muito inconveniente.

Faltando apenas duas horas para o tempo estimado de chegada, eu já descansava tranquila na minha poltrona conversando lorota com o Patrick e o James achando que lá trás não precisariam mais do meu serviço uma vez que eu tinha recolhido os pratos e organizado tudo, então aproveitei para ir no banheiro traseiro, único na aeronave, passando pelo Henrick e os demais que mexiam no celular sem se importarem com mais nada. Engraçado como ocupam posições diferentes, possuem classes sociais diferentes, um até se considera o dono do mundo, mas todos eles têm o mesmo vício em tecnologia em comum. Balanço a cabeça rindo baixinho comigo mesma, se a inteligência artificial não dominar o mundo, eu não sei mesmo mais o que pode dominar. Sr. Sawyer, talvez. – Meu pensamento fala mais alto e eu sorrio de lado, mais uma vez. Que pena seria.

Comissária do CEO Onde histórias criam vida. Descubra agora