CAPÍTULO 23

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Molly Hill

— Podemos ir fazer nossa própria social em casa? — Henrick pede ao meu ouvido, abraçando-me por trás enquanto a gente observa a Olivia dançar com o Connor um pouco mais afastado de onde estávamos.
Sorrio maliciosa, mesmo sabendo que talvez não seguíssemos seu plano à risca, pois seu olhar cansado denunciava o quão saturado de trabalho ele estava.
— Claro.
Despedimo-nos da Olivia e do Connor e fomos até o lado de fora da boate, assim que a gente põe os pés na calçada, seu motorista para em nossa frente quase que de maneira sincronizada.
— Onde estamos indo? — pergunto vendo que o caminho que estava sendo percorrido era o contrário do meu prédio.
— Pra minha casa, se você não se incomoda.
— Nem um pouco. — retribuo um sorriso que fala por si só.
Apesar de me esforçar para não demonstrar quão nervosa eu estava internamente por estar aos poucos conhecendo as demais camadas que envolviam Henrick Sawyer, estar a caminho da sua casa simplesmente me fazia repensar inúmeras questões e era inevitável meu semblante sério, não que eu estivesse intimidada, desconfortável ou algo do tipo, mas ele estava se mostrando tão à vontade comigo, sentindo-se assim no direito de me levar para dentro da sua intimidade que talvez fosse uma barreira que inconsciente ele ansiava por ultrapassar e assim que teve a chance, o fez sem hesitar, e ter sido eu a pioneira me fazia sentir ainda mais realizada, porém receosa.
O edifício luxuoso em que vive surge no horizonte, localizado na 5th Avenue, o que não me surpreende em nada, pois é onde os metros quadrados valem uma fortuna e é claro que alguém como ele só poderia escolher viver ali. O exterior do prédio me tem fascinada e sei que por dentro não será muito diferente, mas finjo indiferença e contenho meus olhos curiosos. O carro estaciona em uma das vagas disponíveis e a julgar pelos outros modelos que já pude vê-lo usando, constato que todos os quatro carros ali pertencem a ele. Entramos no elevador juntamente com mais dois seguranças que antes checam o espaço para nós, um deles gira a chave da cobertura e então somos conduzidos até ela sem mais delongas, Henrick tem sua expressão de quem faz pouco caso, afinal, já está acostumado a todas essas particularidades.
Em poucos minutos seus seguranças checam novamente toda a extensão do apartamento e nos liberam para que possamos entrar, remexo-me inquieta doida para que fiquemos a sós e eu possa perguntar o porquê da sua feição fechada. Enquanto aguardamos, observo tudo ao redor, a decoração é toda em tons claros e tudo ali parece ter sido projetado para que ficasse a cara do Henrick, pois cada detalhe exala sofisticação e bom gosto, mas o que mais me agrada são as paredes sendo de vidro que vão do teto ao chão de modo que dá para ver o Central Park e os demais arranha-céus em volta.
Quando por fim ficamos sozinhos, Henrick me conduz a sua suíte e ele mesmo prepara a banheira com água morna e alguns sais de banho. Tiro minha roupa percebendo que ele está a fazer o mesmo, mas seus olhos, através do espelho à minha frente, não saem do meu corpo, sorrio travessa. Ele me ajuda a entrar na banheira e se junta a mim logo após, posicionando-se em minha frente, de costas para mim. Em silêncio, pego a esponja e passo por sobre seus ombros e costas desnudas, ele permanece quieto e eu sem demora entendo que algo realmente está a incomodá-lo, algo que ele se esforçara para não transpassar para mim na boate, mas que já não estava a conseguir mais.
— O que está acontecendo, Henrick? — questiono com uma voz branda, não querendo que ele entendesse como se eu estivesse a pressioná-lo a dividir seus problemas comigo. — Problemas na empresa?
— Bem que eu queria que fosse. — ele declara após um longo respirar fundo. — Mas problemas de família me desgastam muito mais, simplesmente fogem do controle.
— Se não se sentir à vontade pra falar, não precisa.
— Você está comigo agora, Molly, não vou te esconder nada.
— Fico feliz por ter conquistado sua confiança a ponto de me confidenciar a intimidade da sua família. — deixo um beijo carinhoso em seu ombro.
— Nos reunimos pra um almoço em família há alguns dias e como de costume eu e meu irmão nos estranhamos — começa. — Tento ficar longe deles o máximo que consigo, mas às vezes esqueço os motivos pelos quais mantenho distância e acabo levando em conta a consideração que infelizmente ainda tenho. — ele passa a mãos pelos cabelos mostrando estar desconfortável com a menção da sua família.
— Seus pais também entram nessa conta?
— São tão desagradáveis quanto o meu irmão e só o que fazem é serem coniventes com as atitudes dele como se fossem justificáveis, como se dinheiro e status fosse mais importante que caráter, e é por me opor a certas coisas que já aconteceram que sou a ovelha negra da família. Fui um tremendo canalha com as mulheres boa parte da minha vida, Molly, não nego, mas eu nunca passei por cima de ninguém pra conquistar tudo o que eu conquistei, nunca fiz nada absurdo contra a vontade de alguém a ponto de destruir a vida dessa pessoa.
— Infelizmente questões familiares são sempre as que requer mais jogo de cintura pra lidar. — mal tenho palavras para respondê-lo, sinto que não devo invadir seu espaço ao perguntar o que de fato teria acontecido, a conversa já estava pra lá de incômoda.
— Principalmente quando se nasce em meio a milhões de dólares onde é fácil perder os valores e a moral. Ele é o retrato perfeito da nobreza, bem-sucedido, semblante amigável e um passado sujo, toda essa hipocrisia me irrita. — ele rosna, desabafando por completo.
— Você está tenso. — mudo de assunto, sentindo seus ombros enrijecidos ao apertá-los. — Posso resolver isso pra você, huh? O que acha? — sussurro em seu ouvido, dando uma leve mordidinha em sua orelha.
— Entrei nesse assunto porque querem conhecer você, não entendi o interesse já que nunca se importaram com quem passa pela minha cama, mas eu acho justo te deixar à vontade pra aceitar ou não. — Henrick ignora o que eu digo e segura minha mão boba que ia em direção à região mais embaixo do seu tanquinho, a fim de fazer eu prestar atenção.
— Não sabia que estava de passagem pela sua cama. — provoco, mesmo sabendo que não fora sua intenção a escolha dessa junção de palavras.
— Você foi a única que conseguiu fazer morada, senhorita Hill, mas eles não sabem disso. — seu olhar terno se intensifica sobre mim como um pedido silencioso de que eu não duvide outra vez dos seus sentimentos.
— Não tenho certeza de que quero conhecer os seus pais. — entorto a boca pensativa.
— Não me surpreende, mas é você quem decide.
— Você quer que eu vá?
— Sinceramente? Eu quero ver a cara da minha mãe quando eu exibir você, vai ser impagável. — confessa, rindo pelo nariz.
— É uma responsabilidade e tanto assumir esse posto.
— Imagino que seja, também é novidade pra mim, mas podemos fazer isso juntos.
— Podemos fazer muitas outras coisas juntos. — abro um sorriso sugestivo e ele então deixa esse assunto para outra hora.
Henrick fica de escolher um melhor dia que seja conveniente para todo mundo para que possamos marcar algo com sua família e eu não o apresso para uma data próxima, sinto que preciso desse tempo para me preparar psicologicamente para ser julgada por seus pais.

Comissária do CEO Onde histórias criam vida. Descubra agora