Molly Hill
– Parece que você falhou no que tinha pra resolver... – dou um pulo com a voz do James em tom de incredulidade bem ao meu lado.
– Não é o que você está pensando, James. – tento me explicar, mas que raios de desculpa seria convincente diante daquela cena que ele acabou de assistir?
– Não estou aqui pra te julgar, minha querida, até porque o Sr. Sawyer pode ser bem persuasivo. Só te peço cuidado. Não entre na jogada dele, você vai sempre sair perdendo. – me alerta, dando duas batidinhas em meu ombro, antes de sair.
O aviso do James serviu para me abrir os olhos de que eu havia lutado e nadado muito ao longo da minha carreira profissional para agora morrer na praia por algo tão evitável. Eu tinha que manter distância do Henrick, até porque nossa breve conversa, mais do que nunca, só me mostrou que ele pode ser capaz de sugar o restinho de autocontrole que o ser feminino presume ter, e que seu ato de gentileza, tal como um bom player, fora nada mais nada menos que em troca de algo posterior. Ele me fazia perder a total noção e eu, definitivamente, não pretendia deixá-lo atingir seu objetivo. Subo para o meu quarto e ao encarar o céu azul através da janela, decido que ficar fitando o teto não seria nada proveitoso, então saio para dar uma volta pela cidade. Afinal, quem em sã consciência fica trancado dentro de um quarto, rodeado de quatro paredes em plena Los Angeles? Queria passar um tempo sozinha e realmente era muito boa nisso, passeios disfrutando apenas da minha companhia fazia parte da minha rotina e eu curtia bastante.
Bato perna no shopping e faço algumas comprinhas, que me distraem um pouco, até passar por uma lojinha de souvenirs que opto por entrar. Meus olhos sem demora se fixam nos mais variados charms de vários pontos turísticos de Los Angeles e eu sou remetida a dez anos atrás quando a minha mãe me contara empolgada que esse se tornara o seu lugar preferido no mundo, pois foi onde conheceu o meu pai, compondo pela primeira vez a mesma tripulação que ela. Uma lágrima rola pelo meu rosto, Los Angeles não possuía mais suas cores vibrantes desde que eles foram tirados brutalmente da minha vida. Meu coração pesa dentro do peito. Lidar com a ausência deles era uma parte complicada da minha vida, mesmo depois de quatro anos, uma hora eu estava bem, não mentalmente, mas fisicamente bem, noutra eu desmoronava e o meu sorriso parecia que não brotaria nunca mais. A única coisa que ainda me dá forças para lutar contra essas recaídas e me acalma em partes, é saber que os responsáveis pela queda do jatinho que meus pais trabalhavam naquele dia estão atrás das grades, impossibilitado de interromper mais sonhos e destruir mais famílias. O sentimento de injustiça me levaria de volta para o buraco e me enterraria lá para sempre. Trabalhar para empresários envolvidos em coisas erradas infelizmente tinha seu preço hoje em dia, sua vida.
O céu escureceu sobre minha cabeça e eu não pude notar de imediato, shoppings têm essa técnica manjada de criar uma atmosfera diferente, como uma bolha, nos deixando inertes ao que acontece lá fora, desse modo, passamos mais tempo dentro dele sendo invisivelmente aliciados a usufruir mais e nem damos conta do passar do tempo. O horário da minha apresentação estava próximo, faltavam exatas duas horas. Merda! Eu tinha que correr. Se eu esperasse um taxi ou pedisse um Uber, correria o risco de me atrasar ainda mais, então na dúvida preferi ir a pé até o hotel, que não ficava muito longe, totalizando uns quinze minutos de caminhada. Quando cheguei, em nove minutos, com sorte, corri para o meu quarto. Tomo um banho rápido, me visto devidamente, faço uma maquiagem em tempo record de meia hora e jogo, literalmente jogo todas as minhas coisas espalhadas pelo quarto para dentro da mala, não me importando com a desorganização. Melhor uma roupa amassada do que uma chamada da empresa.
Desço apressada até o hall e encontro o restante da tripulação já se acomodando dentro da van, coloco minha mala no local indicado para bagagens e é quando me sento e o sangue esfria de toda essa correria que lembro que havia esquecido o celular em cima do balcão do banheiro. A pressa é mesmo inimiga dos descoordenados, e dos desmemoriados. Peço ao James que não deixe irem sem mim e me esgueiro para dentro do único elevador com as portas abertas no térreo, me imprensando entre as superfícies de aço agora prestes a se fecharem. Consigo entrar a tempo, mas meu corpo se choca violentamente em alguém e eu logo reconheço o toque, no minuto em que suas mãos me seguram firme, impedindo minha queda, de novo. Henrick Sawyer, a personificação dos meus problemas.
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Comissária do CEO
RomanceNão se deixar abater. Esse era o lema de Molly Hill, uma jovem comissária de bordo de jatos particulares, que carregava em seu peito mais dores do que demonstrava. Fixada em sua rotina de trabalho e almejando usar de seu ofício para suprir a falta d...