Molly HillDeveríamos ter levantado um abrigo, pois não sabíamos quanto tempo podíamos passar no meio daquela mata, mas por essa primeira e agitada noite só queríamos descansar e esperar otimistas que o socorro chegasse ao menos no dia seguinte. Não choveu, o que foi de uma sorte imensa, do contrário, teríamos problemas em nos aquecer, sem abrigo e sem fogueira.
Fiquei um bom tempo pensando no que o Henrick tinha dito, me perguntando se era possível que ele estivesse a falar sério, que quisesse algo comigo, uma parte de mim diz que eu deveria ignorá-lo porque os efeitos da nossa queda consequentemente podem ter mexido seriamente com suas emoções e impulsos, já que é comum quando estamos em uma situação que nos parece sem saída, tomarmos algumas decisões por impulsividade, decisões que geralmente em perfeito estado de sanidade não tomaríamos, gera uma necessidade de que precisamos fazer algo antes que seja tarde demais, o medo às vezes nos torna corajosos; outra parte de mim diz que eu deveria dar uma chance a ele, observá-lo, mesmo que eu dê um passo por vez, que não me entregue totalmente ao que eu não tenho cem porcento de certeza, o deixando se aproximar de mim calmamente e cautelosamente.
O sol aparece bem cedo e todos ainda continuam a dormir, faço um mapa mental de como poderíamos nos dividir, eu e Patrick, para encontrar mais água, pois a que tinha fora usada para higienização dos ferimentos, e alguma fruta para comer, mais um dia e nossos estômagos — antes saciados pelo prato delicioso que saboreamos no voo — já reclamariam. Para a minha surpresa, escuto o barulho de um helicóptero se aproximar do local do acidente. Alguns poucos destroços da nossa aeronave ainda queimam por conta da explosão e uma nuvem preta de fumaça se espalha acima de nós, mas estamos suficientemente afastados para não sermos atingidos e razoavelmente perto para sermos notados. Patrick levanta num pulo e começa a gritar, balançando os braços de um lado para o outro, meu corpo reage querendo fazer o mesmo, mas a bolsa do kit de sobrevivência capta minha atenção e me faz lembrar que nela há foguetes pirotécnicos que facilitariam na sinalização diurna, então corro para pegá-lo e acendo, erguendo e segurando em ângulo de 45º a favor do vento para que o rastro de cor alaranjada ficasse evidente.
— AQUI! — Patrick berra, pulando e se gesticulando freneticamente.
O helicóptero sobrevoa nossas cabeças e balança lateralmente a asa, indicando que a mensagem fora recebida e entendida, respiro mais aliviada com lágrimas de alegria nos olhos.
— O que quer dizer isso? Por que passaram direto? — é a vez de Henrick questionar.
— Quer dizer que nos viram, vão voltar pra nos resgatar! — respondo eufórica e, no calor do momento, acabo o abraçando apertado, ele não retribui, mas também não diz nada.
— Graças a Deus! — comandante Watson demonstra gratidão. — Minha perna dói como o inferno.
— Vai ficar tudo bem, James. — o lanço um sorriso. — Vão fazer um trabalho melhor que o meu na sua perna.
— Não seja modesta, Molly! Não sei o que seria de mim sem os seus primeiros cuidados, você foi excelente!
— Não mais que você, comandante. Você nos salvou. — dou um beijo em seus cabelos grisalhos, emotiva.
O resgate não demora a chegar, o único problema é a área de difícil acesso, então os bombeiros tiveram que cortar algumas árvores ao redor para que o helicóptero pudesse aterrissar e toda essa movimentação dura cerca de duas a três horas, mas achar ruim ou reclamar da espera não faz parte do nosso vocabulário, não sob tais circunstâncias.
Quando a engenharia de asas diagonais que veio nos salvar alça voo, podemos ver toda a extensão do estrago e tamanho do acidente lá de cima. Como disseram os profissionais, estarmos vivos era uma realidade um tanto enigmática para se acreditar. Infelizmente, tínhamos perdido três passageiros, os três que no momento do acidente estavam sem cinto, se não fosse por isso, talvez estivessem entre nós, com ferimentos e fraturas, porém vivos. Não me culpo por não ter pedido que o colocassem, nem eu, nem ninguém jamais imaginaria que uma tragédia fosse anunciada. Mas não havia o que pudéssemos fazer para mudar tal fato.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Comissária do CEO
RomanceNão se deixar abater. Esse era o lema de Molly Hill, uma jovem comissária de bordo de jatos particulares, que carregava em seu peito mais dores do que demonstrava. Fixada em sua rotina de trabalho e almejando usar de seu ofício para suprir a falta d...