New York City, New York.
Sábado, 3:00 PM.
Molly Hill
Encaro com atenção meu reflexo no espelho à minha frente, me sentindo completamente radiante ao voltar a vestir meu uniforme social de trabalho. Essa sim sou eu. Passo a mão no meu cabelo contido com bastante spray fixador num coque alinhado, tendo a leve impressão de que um fio acabara de ficar em pé. Tenho que estar impecável, principalmente hoje que é meu primeiro dia depois do meu afastamento por conta de uma contusão no tornozelo, onde a recuperação perdurou por quase dois tediosos meses. Minha maquiagem é suave, porém realça com graciosidade o tom dos meus olhos verdes, e eu logo sorrio orgulhosa do meu trabalho que durou só alguns poucos minutos.
Olho de relance para o relógio prata em meu pulso e falta apenas uma hora para a minha apresentação, então constato que é hora de partir rumo ao aeroporto, rumo ao meu voo de retorno. Eu não poderia estar mais feliz. Desço a escadinha de três degraus meio desajeitada tentando equilibrar minha mala — que está um pouco mais pesada do que o usual, ou talvez eu tenha perdido o costume mesmo — e minha bolsa de mão que mais parece uma outra mala de tanta coisa que levo. Melhor ter e não precisar do que precisar e não ter, esse sempre vai ser meu lema desde o dia em que rasguei por acidente minha meia-calça a caminho de uma entrevista e fui enxotada de lá sem dó e nem piedade. Ao chegar no meu carro e finalmente me livrar da mala ao colocá-la no porta-malas, me pergunto de novo, pela milésima vez, qual a necessidade de uma escada de acesso do elevador ao estacionamento, e mais uma vez chego a conclusão nenhuma. Vai entender esses arquitetos nova-iorquinos!
— Bom dia, senhores! — cumprimento animada a tripulação que conversa despreocupadamente ao fundo do pequeno ¹D.O. do aeroporto, duas figuras que eu reconheço ser o comandante James e outro rapaz que deve estar no lugar do nosso copiloto por algum motivo que estou prestes a descobrir, estava ansiosa para ser calorosamente recepcionada pela minha equipe depois de tantos dias longe deles.
¹ - D.O.: Despacho operacional. Dependências da empresa em aeroportos onde os tripulantes se apresentam para efetuar programações de voo ou reserva, checar escalas e etc.
— Olha só quem está de volta! — James Watson abre um sorriso genuíno e vem até mim para um abraço. — O tornozelo está 100%, filha? — pergunta carinhosamente, me dando uma ajudinha com as minhas coisas.
— Quem vê até pensa que sentiu minha falta assim... — digo em tom de brincadeira, arrancando-lhe uma gargalhada.
O comandante James é um coroa já na casa dos cinquenta e pouco, super alto astral e que parece não perder seu espírito jovial nem mesmo diante da fadiga que enfrentamos em alguns momentos que derrubam até a mim que sou mais nova. Desde que entrei na empresa e formei sua tripulação, ele me chama de filha e me trata como tal, é acolhedor e nostálgico.
— Mas é dramática! — ele me caçoa. Em resposta, mostro minha língua. — Molly, quero que conheça o Patrick Jones... — se dirige pela primeira vez ao jovem que está ao seu lado, que assim que ouve seu nome, dá um passo à frente para falar comigo.
— Muito prazer, senhorita. — o rapaz de olhos claros marcantes estende a mão para mim, acompanhado de um sorriso de canto a canto.
— Prazer em conhecê-lo. — aceito seu cumprimento formal.
— Ele é o nosso novo copiloto.
— Ah, que legal! Ainda bem que estamos livres do mau humor do George. — levanto as mãos para o céu agradecendo por essa notícia.
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Comissária do CEO
RomantizmNão se deixar abater. Esse era o lema de Molly Hill, uma jovem comissária de bordo de jatos particulares, que carregava em seu peito mais dores do que demonstrava. Fixada em sua rotina de trabalho e almejando usar de seu ofício para suprir a falta d...