Molly Hill
Entramos no carro e só aí me dou conta do quão frio está lá fora, pelo contraste com o ambiente quentinho. O segurança de Henrick o entrega lenços umedecidos e ele rapidamente limpa suas mãos se livrando do sangue que continha ali, mas o pequeno rastro que estava em seu rosto passa despercebido, então sem pensar muito, tomo a única atitude cabível, pego o lenço das suas mãos e eu mesma higienizo o local. Ele me encara surpreso e continua com seu olhar fixo no meu até eu terminar e me afastar aparentando estar sem graça, logo que percebe o incômodo que se forma, ele pigarreia e desvia o olhar, o que era uma novidade, pois se fosse antes ele com certeza não perderia a chance de piorar a situação. Eu detestava o Henrick e toda sua prepotência, mas uma coisa era certa, ele ter me livrado de um gigante perigo mais do que iminente, me forçava a considerar como um sinal de trégua, pelo menos por hoje.
O caminho inteiro é feito em silêncio por nós dois, em momento algum ele pergunta sequer meu endereço, mas com presteza, curiosamente, chegamos ao meu prédio. Me assusta imaginar o oceano que esse homem pode saber sobre a minha vida, enquanto eu não sei nem ao menos uma gota sobre a dele, apenas sua descarada cafajestagem, que me leva a cogitar a ideia de que ele pode estar a fazer essa gentileza para se colocar numa posição um pouco mais favorável e se aproveitar disso, ou talvez só estava mesmo no lugar certo e na hora certa, sem mais. Henrick Sawyer é mesmo difícil de decifrar, ou talvez seja eu que esteja misturando as coisas e sendo uma completa mal agradecida, ou talvez os dois. Desço do carro e ele me acompanha, caminhando até a porta de vidro do hall de entrada comigo. O agradeço ainda meio sem jeito e sem saber o que dizer na intenção de me despedir, mas ele também não o faz, apenas insiste em ir comigo até a porta do meu apartamento e eu não me oponho.
– Obrigada mesmo, Sr. Sawyer, eu vou ficar bem. – o lanço um risinho de lado depois de destrancar a porta, o encarando mais uma vez envergonhada.
– Tem certeza? – assenti, mas não com a firmeza que eu gostaria. – Não quer que eu entre e fique um pouco com você? – continua, seus olhos azuis me fitam curiosos e suas mãos voltam a afagar a lateral dos meus braços.
Henrick não dá mesmo um ponto sem nó. Esse gesto que aos outros olhos poderia ser interpretado como de cuidado, naquele instante e sob todas as circunstâncias da nossa interação, é facilmente interpretado por mim como encenação, parte do seu teatro para que eu ceda e dê passagem para ele entrar, e então a realidade me atinge rapidamente.
– Não precisa. – respondo ácida e séria, me desvencilhando dele que ergue uma das sobrancelhas sem entender minha abrupta reação. – Já disse que estou bem.
– Tudo bem então. – dá de ombros. – Mas chega de Sr., por favor.
– Por que acha que pode me pedir isso? – pergunto num tom arredio. – Só porque me ajudou se sente no direito de achar que temos alguma intimidade? Eu deveria ter sacado que Henrick Sawyer jamais agiria de modo cortês sem que pudesse tirar proveito disso. – digo sorrindo pelo nariz em sinônimo de deboche.
– Seremos padrinhos no casamento dos nossos amigos, achei que por conta disso não houvesse necessidade de formalidade fora do seu ambiente de trabalho. – se apossa novamente da sua postura autoritária, fechando a cara para o meu lado, nem parece o Henrick de antes. – Somente por isto.
– Pois pensou errado! – bato o pé irritada. – Você é um tremend... – sou interrompida.
– Eu teria feito esse favor pra qualquer pessoa, não tem nada de especial nisso, você não é especial pra mim a ponto de valer um esforço meu que não seja puramente obrigação, senhorita Hill. – seu tom de voz engrossa e ele passa a me olhar com desprezo. – Acho que chegou a hora de cair em si que nem tudo que diz respeito a mim é sobre você.
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Comissária do CEO
RomanceNão se deixar abater. Esse era o lema de Molly Hill, uma jovem comissária de bordo de jatos particulares, que carregava em seu peito mais dores do que demonstrava. Fixada em sua rotina de trabalho e almejando usar de seu ofício para suprir a falta d...