quem falar do bak vai levar cascudo já vo falando logo
A pequena abertura da cortina da janela no consultório na terça pela tarde queima meu braço apoiado no encosto do sofá. No entanto, eu não me importo com isso como deveria; na verdade é o contrário.
Eu encaro o raio de sol na minha pele com cuidado, sentindo ela arder e só tiro quando a dor se insuportável. Ao invés disso, movo meu braço para trás e abro a palma da mão, deixando que aquela fosse a parte castigada da vez.
Existe um silêncio na sala. A recepcionista está focada no computador, mas seus olhos estão em mim atentamente. Provavelmente ela está procurando o motivo de eu estar aqui, já que teoricamente eu não deveria, mas está era a parte engraçada de você ter tudo e nada ao mesmo tempo. Às pessoas de fora não entendiam. Elas nunca iam ou se quer imaginavam.
Minha mão arde também. Acho engraçado. Engraçado porque aquele tipo de dor não é comparado com o que sinto, mas ao mesmo tempo é o que me distrai enquanto o tempo não passa.
Estou esperando aqui há quanto tempo mais ou menos? Dez, quinze minutos? Não é culpa da minha terapeuta também, posso dizer, até porque fui eu quem chegou cedo demais.
─── Ei Gabriel, vamos lá?
Ela me chama. Eu tiro minha atenção e lá está ela, já me analisando antes mesmo que eu me levantei e faço o caminho que já sei de cor e salteado. Antes de ir, dou um aceno para a recepcionista. Ela não está olhando, mas sei que percebe porque seu rosto cora.
Eu quero sorrir.
─── Como foi sua semana?
Eliza tenta começar o assunto. Eu olho para a janela de novo, pensativo.
Começar terapia nunca pareceu um assunto tão relevante até que minha vida desse uma volta inteira um ano atrás. Obviamente, eu talvez precisasse ter feito isso antes, mas desde a minha saída da LOUD um ano atrás, o relacionamento estremecido com tudo em relação a eles e tudo o que veio depois, entendi que minha vida tinha virado um caos muito maior do que ja era.
As pessoas costumavam pensar que aquilo não tinha me atingido também. Que tinha sido fácil ter que escolher entre seu bem e estar físico e mental e continuar em um ambiente que não me fã bem. Que tinha sido fácil dizer para os meus companheiros de time que eu queria simplesmente desistir. Que eu estava feliz em tomar uma decisão que dizia muito mais sobre mim do que eles.
Eu não estava. Não foi assim. Minha mãe costumava dizer que tinha sido um ato de coragem e eu era grato por tê-la ao meu lado quando o mundo caiu sobre os nossos ombros, porque não sabia se teria suportado tudo sozinho.
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𝚂𝙸𝙽𝙰 • bak
FanfictionCONCLUÍDA ✔ A primeira vez que Lyra viu Gabriel, estava pendurada de cabeça para baixo há mais de seis metros do chão. Ainda assim, o peso daquele olhar castanho sob o seu nos três segundos que eles se encontraram fez com que os cabelos da sua nuca...