CONCLUÍDA ✔
A primeira vez que Lyra viu Gabriel, estava pendurada de cabeça para baixo há mais de seis metros do chão. Ainda assim, o peso daquele olhar castanho sob o seu nos três segundos que eles se encontraram fez com que os cabelos da sua nuca...
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Eu não conseguia chorar.
Embora os olhos cheios de lágrimas, embora a tristeza, embora o caos, embora, apesar de tudo, o alívio, eu ainda não conseguia chorar. E eu queria poder fazer isso. Queria poder trazer o alívio por completo, amenizar o buraco no meu peito que as palavras de Luan tinham deixado.
Ok. Eu merecia, certo? E ele tinha razão. Eu era vazia. Tão vazia ao ponto de que nem chorar eu conseguia fazer direito. Vazia ao ponto de não ter mais ninguém do lado. Vazia ao ponto de ter medo de ficar sozinha, então eu apenas... preenchia o espaço.
Era o que eu era e tenho tempo para pensar e perceber isso desde o caminho até estar na casa de Michele. E quando Gabriel sai do quarto e eu entro no banheiro, pensar também é tudo o que eu faço. Chorar não.
Mal tenho cabeça para processar todo o resto. As últimas palavras de Luan tinham atingido a camada mais profunda e sensível minha, deixando-me tão desnorteada ao ponto de não conseguir fazer mais nada além de querersair dali, largando tudo para trás. Desnorteada. Era assim que eu estava na hora que esbarrei com Gabriel, mal processando nada quando ele me levou em direção ao carro e me tirou daquele lugar, fazendo o ar voltar para os meus pulmões e que só restasse eu e minha consciência me massacrando.
Vazia. Você é vazia, Lyra.
E um dia, quando vocênão tiver mais nada porque consumiu tudo ao seu redor, vai entender o que eu disse masnão vai ter mais ninguém disposto a te salvar de si mesma.
Seu medo sempre foi de ficar sozinha, não ter para onde voltar, e no fim é isso o que vai acontecer.
Você e o nada.
Nada era uma palavra assustadora, se fossemos parar para pensar. A ideia da inexistência de algo, da falta, parecia ruim. Para mim, que permiti que a intensidade me levasse para onde for sendo demais em tudo, o nada embrulhava o estômago. Eu tinha tanto medo do nada quanto tinha de ficar só e, aparentemente, meu medo estava perto de se tornar real.
O banho quente é a única coisa capaz de me relaxar minutos depois. Solto um suspiro fraco, deixando os ombros relaxarem enquanto repito para mim mesma dezenas de vai passar e mergulho de cabeça na água espremendo os olhos, porque o cansaço e o esgotamento me atingem em cheio. Vai passar.
