voltei rápido heinmm.
Eu consigo entrar em uma rotina ótima para quem estava com a vida em completo caos. Isso porque quando não estava ensaiando, eu estava cansada demais para pensar em qualquer outra coisa além de dormir e descansar o máximo que podia porque no dia seguinte a rotina com certeza ia me pegar de jeito novamente.
As audições para a remontagem de 'Os Miseráveis' acontecem duas semanas e meia depois que chego ao Brasil, ou seja, uma e meia após o início dos meus ensaios. Como manda praticamente a tradição, ela é divida por três longas etapas eliminatórias que mesmo eu recebendo o convite para o teste vindo diretamente de um dos produtores, tenho que fazê-las e aguardar por dias até que tivéssemos uma resposta, o que aconteceria apenas três semanas depois. A peça estava prevista para estrear dois meses após o início dos ensaios e ficaria um mês e meio em cartaz, até onde eu sabia.
Por isso, até que tivesse uma resposta, eu preferi seguir com minha dieta e ensaios constantes para não perder o ritmo e os intercalei com as audições, só pensando em voltar a dar aulas no tecido acrobático quando tudo acabasse e eu pudesse ter tempo para pensar nisso, o que só ia acontecer de verdade (se tudo desse certo) no menino em três meses e meio.
─── E por hoje é isso. ─── Meu coreógrafo sorri quando a nossa aula acaba e tudo que posso fazer é sorrir de volta, enquanto tentava recuperar o fôlego. ─── Peguei pesado hoje?
─── Nada, eu poderia fazer isso por mais três horas se você quisesse. ─── Pisquei um olho, apoiando as mãos nos joelhos e ele riu, negando. ─── Eu sei que você parou só porque não aguenta mais, confessa.
─── Claro, eu me rendo. Não dá para competir com uma artista de alto nível. Você é maluca, garota.
─── É, dizem isso às vezes.
Ter uma meta para atingir, um foco central em um papel que eu queria tanto era a única coisa que me mantinha sã em meio a tantas coisas, então quanto mais entretida eu pudesse me manter nesses momentos, melhor. É por isso que eu acredito que que se não fosse essas metas, eu já teria entrado em pane há muito tempo e, provavelmente, não teria suportado metade de tudo que suportei sem enlouquecer.
Muito se fala de pessoas que te salvam no momento certo, do jeito certo, mas quase nunca falam sobre coisas que também fazem o mesmo. O teatro era isso para mim. Ele me salvou nos momentos que eu mais precisei, fazendo toda aquela turbulência caótica no meu peito extravasar quando eu não conseguia colocá-la para fora de outro jeito, acalmando minha mente e o meu coração. Estar em um palco era minha salvação. Me preparar para estar em um era minha salvação. Era tudo que sempre restava, no fim, seja para a Lyra que eu era hoje ou a que costumava ser. A única coisa minha que não tinha mudado de lá para cá.
Meu traço amarelo em meio ao branco.
─── Enfim, estou morrendo de fome! Quer carona até em casa?
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𝚂𝙸𝙽𝙰 • bak
FanfictionCONCLUÍDA ✔ A primeira vez que Lyra viu Gabriel, estava pendurada de cabeça para baixo há mais de seis metros do chão. Ainda assim, o peso daquele olhar castanho sob o seu nos três segundos que eles se encontraram fez com que os cabelos da sua nuca...