𝚂𝙸𝙽𝙰 • bak

10 - Como posso sentir sua falta, se nunca te tive antes?

oi, boa leitura ♡

A escuridão da noite era silenciosa. Por mais perturbador que pudesse parecer, porém, era tambem a única coisa onde eu podia buscar conforto em meio a turbulência.

Turbulência, sim.

Talvez era esse o significado real que definia a minha vida. Bagunça, balbúrdia, desordem. Caos. A personificação exata da lei de Murphy: "qualquer coisa que pode dar errado dará, da pior maneira possível, no pior momento, que cause o maior dano."

Ou danos.

Danos estes que não estavam premeditados por mim. Danos que perfuravam meu coração, transformavam meu corpo de maneira acelerada enquanto as cidades vazias passavam diante dos meus olhos em cada uma dessas viagens e eu só tinha a mim e, talvez, num futuro cada vez mais próximo, a única coisa real que tinha me restado dele. Danos que desconfiguraram minha mente, abalada pela dor do luto de tal forma que, a única forma de lidar com ela, escolheu a pior: de fazê-lo estar por perto, criando imagens, cenas, momentos ilusórios, dos quais eu sabia que não eram reais. Ele não estava aqui, mas era como se estivesse.

Eu estava ficando maluca, sabia disso. A cada dia, mais e mais, cada vez que meu cérebro aprendeu a vê-lo em tudo o que fazia ou por onde dia, até mesmo quando cedia ao cansaço do meu corpo e me permitia dormir poucas horas de sono. Em sonho, pesadelos, em tudo, ele estava lá. Seus olhos estavam lá. Pareciam reais para mim, porém ninguém mais o via, só eu. Ninguém mais podia falar com ele, somente eu. Ninguém podia tocá-lo e, dessa vez, nem mesmo eu, por mais que pudesse sentir o seu toque em mim.

Eu estava ficando maluca, sim, mas não ironicamente era assim que tinha aprendido a viver dia após dia: criando sua presença, agindo como se ele estivesse aqui comigo, como se ele pudesse viver esse momento que era para ser nosso mudando cada aspecto da minha vida mais drasticamente do que o esperado. Em breve, em um futuro não tão distante, não seria apenas eu.

─── Eu queria que você estivesse aqui para ver isso de perto.

Sussurrei para o nada. Fora o silêncio de onde estava, mais distante, quase que imperceptívelmente, o barulho das apresentações do único lugar onde eu havia achado refúgio um tempo atrás soava com música e risadas. Como eu podia me sentir tão infeliz em um lugar como aquele? Repleto de alegria?