34 - Manual para Crises

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— Tenho medo de que

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— Tenho medo de que... isso tudo seja o que serei pra sempre.

De moletom com o capuz posicionado na cabeça, a exaustão no olhar e o modo de alguém que quase não saiu da cama nos últimos dias. Precisei me esforçar bastante para não ter uma infecção urinária enquanto me fundia ao cobertor e torcia para o mundo inteiro desaparecer ao meu redor. Não consegui me levantar para a terapia na segunda, passei o dia inteiro me sentindo culpada por não poder ajudar Gaia como prometido — até o fim. Minha mente ficou inventando várias coisas e eu simplesmente... concordei com todas.

No meu celular, as mensagens aparecem na barra de notificação e eu as ignorei. Sei que entre elas há uma mensagem da tia da Mica, mas não me importo.

— Paloma, — me chama. — você não é isso. Toda semana estamos aqui comemorando seus avanços, não pode se martirizar por uma recaída.

Não é recaída! Não é! É sempre assim. Eu não aguento mais. Estou cansada! Exausta! Parece que eu não estou esforçando, mas eu estou! Eu não quero ser assim pra sempre. Qualquer dia feliz vai ser automaticamente estragado por míseras palavras. Não posso ter ninguém pra mim, não mereço isso. Até porque elas não merecem alguém assim. É um inferno.

As lágrimas escorrem. Eu paro, tenho medo que meus gritos a assustem. Nada, ela continua calma. As mãos sob a mesa, o olhar fixo em mim e meu colapso.

— Eu... quero ser feliz também. Não quero machucar as pessoas, não quero que elas se cansem de mim ou achem que sou defeituosa porque não consigo superar. É exaustivo segurar esse peso sozinha. E olha, Isabela. Vou parar as sessões. Você não é uma péssima profissional, mas eu já vi que não vou melhorar e não quero que sinta que é sua culpa. Você é a melhor, mas... não dá mais pra mim. Não dá para vir aqui, me esforçar e sentir que foi em vão. Que não importa o que eu faça, aquilo sempre vai me derrubar.

— Paloma.

— Por favor, não dá — a interrompo. — Você me viu querer morrer! Me acompanhou implorar para sumir. Viu eu cair.

— E estou te vendo levantar.

— E do que adianta? Do que adianta? Eu quero viver, quero sentir as coisas agora. Quero realizar meus sonhos. Mas dói e... é difícil perceber que você já devia ter superado. Você sabe tanto quanto eu que isso não é saudável. E... eu tenho uma profissional me ajudando, deveria ser mais fácil! Tenho apoio! Eu sou ingrata. E tô cansada de vir aqui e falar as mesmas coisas sempre que algo sai de linha.

Manual para Garotas (que gostam de garotas)Onde histórias criam vida. Descubra agora