16 - Manual para Sex Appeal

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Eu fiz a coisa mais certa que poderia pensar no momento.

Virei a direção para lado e ao invés de ir para o portão, entrei para dentro da casa e fingi que era a fiscalização dos quartos e expulsei um casal que estava se beijando em um deles. Em um cômodo vazio e de porta fechada, eu me sentei no chão e enviei uma mensagem para meu pai avisando que estava bem e esperei o tempo adequado para enviar pra Fernanda que cheguei em casa. Assim como esperei o tempo adequado para ela ter ido embora e meu cabelo rosa não ser um ponto fácil de ser achado. Durante trinta minutos, rindo igual uma idiota eu pensei que tinha beijado uma garota pela primeira vez na vida.

E eu nem sei como fiz isso.

Eu estava sozinha em um quarto de uma casa lotada pensando que pela primeira vez estava sentindo uma euforia digna de adolescente. Muito mais confortável do que comecei a noite. Sei lá, eu nunca me senti assim. Como uma adolescente boba vivendo coisas de adolescente e não trancada no quarto com medo de crises de ansiedade ou que nada seja o mesmo.

Quando eu saí do quarto, observando as pessoas no corredor e descendo as escadas com o celular na mão, me senti bem. Bem por ser a primeira vez que estar trancada sozinha em um lugar cheio não significasse algo ruim. E sei lá, errado da minha parte e um tanto burro, mas eu quis ter essa sensação por mais tempo. Mas eu estava sozinha em uma festa onde eu não conhecia praticamente ninguém.

E pra manter essa sensação por mais tempo, eu tive que tomar decisões precipitadas.

Era isso ou ficar parada e vê-la esvair.

Então sim, eu pego mais uma garrafa em cada dupla de turno e entro novamente no personagem adolescente se divertindo fazendo besteira. Fernanda estava certa. A gente precisa fazer isso às vezes. É bom. Meu cérebro parece esquecer qualquer problema que eu tenha e tenta se divertir, mesmo que sozinha. Mas depois de engatar terminar a segunda garrafa, eu preciso parar. Não é mais uma boa ideia. Porque a diversão da mente leve passa por uma leve ruptura.

Eu começo a sentir minha visão falhar. O pouco consciente que tenho em mim me faz perceber que passei do ponto. E que estou sozinha. Que eu nunca bebi tanto de uma vez, em um curto período. E olhando para o relógio, já passa das uma. Todo mundo está em pleno vapor. Eu não toquei no meu celular e sinto que se minha visão estiver desfocada, escreverei tão errado que meus pais vão perceber que tem algo de diferente. E assim que eles me verem, também perceberão isso.

Não tem um espelho, mas sinto que está gritante. E o pouco consciente. O pingo sóbrio que tem em mim e que sabe que eu estarei ferrada me faz procurar uma fuga do problema.

E a pouca interação com qualquer pessoa na festa me faz procurar um ponto ruivo e torcer para que ainda esteja aqui. Acho que fiz uma oração e uma promessa no meio da procura. E sei lá, não estou tão ferrada. Eu enxergo Maia, encostada de lado na parede no corredor e apreço o passo em sua direção. Ela está tentando dizer algo pra alguém, que está de costas pra mim. O sorriso entortando.

— Maia, preciso conversar com você. É urgente.

Ela desmancha o sorriso, desviando o olhar pra mim.

— Você pode me dar um minuto? Eu já volto — pede.

— Claro, ruivinha. Te espero com todo prazer.

Eu olho pra garota, observando o delineado perfeito e o piercing nos lábios. Por um segundo, esqueço que pedi a ajuda de Maia até voltar a órbita e segurar sua mão, procurando o lugar mais vazio possível. E perto do portão, junto a um canteiro de flores e um lâmpada, paramos uma de frente pra outra.

Manual para Garotas (que gostam de garotas)Onde histórias criam vida. Descubra agora