Pipa escreve histórias sáficas.
Ela não é uma escritora famosa, tão pouco profissional e é segredo de estado. Não que precise fazer muito além de ficar com bico fechado, claro. Enquanto sua terapeuta contesta a falta de experiências reais e sua mãe...
EU ESTOU EXTREMAMENTE APAIXONADA por Laura. Isso já estava óbvio, mas está ainda mais nos últimos dias. Cair na real é perigoso demais desde que ela começou a ficar estranha. Tudo bem, foi exatamente isso que me fez perceber. O modo como nos sentimos em relação a algo fica muito mais nítido quando essa coisa para de acontecer.
Meu Deus, eu estou muito apaixonada.
E ela me odeia. Não sei o motivo, muito menos o que fiz. Talvez tenha percebido que os beijos que me deu foi por pura impulsividade e notou que eu já estava apaixonada demais. Decidiu cair fora.
Isso me atormenta demais. É claro que eu não tive coragem de enviar mensagens, ser direta... se ela não respondia as mensagens descontraídas, não seria um "fiz alguma coisa?" que seria respondido. Eu estava ferrada. E, para completar, ainda tinha prometido antes disso ir até a festa de Halloween.
Será que eu deveria? Ela não estava falando comigo e... eu tinha medo de ficar sozinha. Ainda sim, a fantasia de uma pobre indefesa, como havíamos intitulado, ainda estava bem organizada. O vestido de camponesa, o laço e... coisas que seriam sem graça se não estivermos juntas. Um consenso de uma tarde é que deveríamos ter uma foto onde ela, de vampiro, morderia meu pescoço tal como artes sáficas com temática vampiresca.
Será que ela desistiu da fantasia de vampiro?
Respiro fundo. Eu não quero receber um não, mas não dá pra ficar assim.
É um passo muito grande para mim. Ser corajosa o bastante para lidar com as consequências.
Quando me visto e peço para meu pai me dar carona, minhas mãos estão inquietas de puro nervosismo. Eu penso no que vou falar quando nos esbarrarmos, como vou agir se tudo der errado e o que fazer se eu tiver que chorar uma noite inteira. Sério, eu não estou preparada para minha primeira desilusão amorosa.
Mesmo que já tenha valido a pena só por ter me feito finalmente ir, mesmo com medo.
E ele é gigante no meu peito. Parece que nenhuma das anotações que fiz para lidar com garotas me preparou para uma situação como essa. Uma em que... estou lidando com uma garota de verdade. Não com a teoria, nada. Não é um "se", não é centena de palavras ensaiadas. É uma garota imprevisível. Por mais que essas palavras tenham me ajudado a me aproximar de Laura e tenham provado meu ponto, no momento não sei se devo usá-las.
Papai estaciona o carro e sinto um dejá-vù. Me despeço e entro, sentindo mais frio do que a noite deveria me dar. Medo. O frio sempre é pior se junto ao medo.
No meio das pessoas, eu vejo Laura. De vampiro. Com o sangue falso escorrendo no queixo e tudo como combinamos. Mas ao invés de ter uma reação legal ao me ver, ela só muda a direção e entra no mar de pessoas.
O que eu fiz?
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Minha fantasia sempre será coisa que consigo no meu guarda-roupa. Sem lavar meu cabelo, jogo no search "fantasias simples" e o resultado é um vestido preto, meia-calça que eu nem sabia que tinha e meu all star vermelho antigo. Não tenho batom preto, mas usa um delineado da mamãe para dar o toque final. Pela tarde inteira, estou dando meu melhor. Converso com meus pais, evito me trancar no meu quarto e demonstro animação.
