22 - Manual para Sáficas

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Minha cabeça latejava tanto que eu precisei ir pra casa. Humilhante e constrangedor, mas era isso ou apagar no meio da escola. Em casa, eu passei boa parte do tempo deitada e pensando se dava tempo de pedir um laudo que comprovasse minha falta de aptidão por esportes violentos. Fernanda me mandou mensagem pedindo desculpas por ter me acertado, mas estar sentindo dor por cada movimento me fez só ver no dia seguinte quando olhei o celular no caminho para o colégio.

Eu não queria ir, claro. Depois de passar mal na frente de todo mundo e levar uma bola de outro mundo, precisava me recuperar pelo final de semana inteiro. Mas decidi ir, ainda sim. Depois de um comprimido de doralgina e um pedaço de bolo de fubá.

— Ei, você não tá chateada, né? — Fernanda pergunta, se aproximando.

— Não, claro que não. Era um jogo, não foi de propósito — digo. — Desculpa não ter respondido, minha cabeça tava doendo muito.

Solta um gemido irritado.

— Tudo culpa daquela idiota — resmunga. — Eu juro que não queria ter feito aquilo, mas ela é patética. Não sei como você consegue ter aulas com ela. É extremamente grossa e agressiva.

Assinto, apenas por não saber o que responder. Não estou concordando, só quero encerrar o assunto. Não imagino Maia assim, mas minha opinião se torna inválida quando o colégio inteiro tem o mesmo pensamento que Fernanda. Talvez seja só... defensiva.

— E sua cabeça?

— Bem, tô acostumada. Meus primos são tão agressivos quanto e a bola é muito pior — ri. — Levei uma advertência, mas nada demais. Acho que foi pior pra ela, a garota é um desastre em todos os âmbitos. A diretora disse que a conduta dela é "irresponsável".

Suspiro.

— Não brigue mais desse jeito com ela. Não tem prós algum e não vale ter competitividade fora do jogo — tento.

Fernanda me fita, incrédula.

São meus primeiros laços depois de tanto tempo, é justificável que eu não queria algo assim. Não que eu ache que Maia realmente queira um laço de verdade comigo, mas meu cérebro já está a incluindo como um.

— Nem vou citar mais o nome dessa. Prometo.

— E você deveria pedir desculpas.

— Por quê? Ela que me acertou e foi uma sem noção.

— Mas você também estava objetivando acertar com a mesma força. A desculpa é pelo atrito criado — digo. — Vocês duas deveriam fazer isso.

— Não vou fazer isso. Faço qualquer coisa por você, menos isso. Nem tudo a gente precisa pedir desculpas.

É meio difícil ser conciliadora quando seu discurso é retirado de livros e não funciona na vida real até porque sua experiência é nula. Sou boa com palavras, mas isso não significa que saiba utilizá-las direito. No fim, uma frase mais ou menos que não servirá de nada.

— Vou procurar algum lugar pra andar de skate na cidade, quer ir? Amanhã?

— Amanhã tem o festival geek, vou vender cachorro-quente — explico.

— Droga. Domingo?

— Pode ser — concordo. — Qualquer coisa, a gente decide por mensagens.

— Hum... como moradora oficial, você poderia me mostrar lugares que ache digno de eu não cair em um buraco.

Sorrio.

— Não sou a melhor pessoa pra isso, mas posso tentar.

O sino bate. Saímos do lugar, mas percebo que preciso ir ao banheiro antes.

Manual para Garotas (que gostam de garotas)Onde histórias criam vida. Descubra agora