31 - Manual para Momento de Liberdade

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Acho que rejuvenesci bastante desde que gritei com minha avó. Óbvio que fiquei olhando a porta esperando meus pais chegarem e me darem um sermão gigantesco sobre como eu era irresponsável e grosseira, mas tudo o que eles fizeram foi me abraçar. Estão tão esgotados quanto eu. Minha avó não falou comigo pra mais nada. Em silêncio o grupo da família ficou. A única coisa que recebi sobre o ocorrido foi um obrigado de Laura.

Era ela quem devia ter feito isso, mas sempre esteve em uma posição de adoração nessa família. Duvido que deu importância esse tempo inteiro pras coisas que a gente escutava o tempo inteiro.

Pelo menos uma das coisas do passado, eu consegui dizer chega sem sofrer demais por isso. Agora meu objetivo é... mesmo que pouco, mudar o que acontece lá em casa. Não sou lá alguém pra fazer isso, mas só quero que meus pais caminhem pra ficar bem tanto quanto eu.

O apito ecoa.

É jogo de vôlei, mas a professora sempre inicia a partida com um apito. Faz tanto tempo que não vou em um JETs. As arquibancadas estão preenchidas e eu estou no canto observando o jogo. Depois de um pedido de desculpas e uma conversa com a professora, as duas estão jogando. Com coletes vermelhos para diferenciar do outro tipo, mesmo que a rede já faça isso. Não sei nada sobre o jogo, mas assisto atentamente e tento seguir a comemoração das pessoas minuciosamente.

Palminhas sem som, joinhas quando Gaia me fita e todo o esforço para ser uma torcedora presente. É o dia inteiro de jogos e minhas únicas companhias se enfiaram em tudo que é possível. Não são amigas, mal trocam palavras, mas ainda sim estão uma do lado da outra.

Não é nossa escola.

— Vocês ganharam, né?

— Mais um set — Fernanda avisa, bebendo água. — Tá 1 a 1.

— E eu pensando que vocês estavam indo super bem.

Ela ri, se sentando ao meu lado. Em meio a um gole de água, ela coloca a mão no meu queixo e me dá um beijo rápido.

— Ei, a gente tá indo bem — me cutuca e eu sorrio.

Do outro lado da quadra, Gaia me olha antes de se virar a irmã. Laura.

— E eu já aviso de antemão que não vou assistir todos os jogos. Quero descansar hoje a tarde.

— Tudo bem, não apoie sua futura namorada.

— Ah, futura namorada?

— Estou trabalhando pra isso — suspira antes de me beijar de novo. — Vou voltar para o time.

Sorrio.

— Vai lá, cuidado pra não perder!

Ela ri, saindo.

Me encosto na arquibancada, cruzando os braços. Pelo menos não é no ginásio. Se fosse lá, estaria morrendo de calor.

— Ei... posso falar com você? — levanto o rosto, observando a apreensão de Laura.

Ah.

— Claro, vamos lá pra fora da quadra — me levanto e ela assente.

Sei sobre o que quer falar. O papel, pintado de rosa e azul, está em algum lugar no meu quarto. Eu o deixei de lado nos últimos dias, não é como se eu precisasse incomodá-la contigo. Sabia que havia algo mais do que simplesmente uma pintura boba que você faz no meio da aula, mas também não esperava que ela viesse falar comigo e não simplesmente fingir que não aconteceu.

— Olha... eu... — pausa. — Não é nada demais. Eu desenhei por acaso... não conta pra ninguém, tá?

Tem pouca gente no pátio do colégio. Estamos em pé, encostadas em um dos pilares.

Manual para Garotas (que gostam de garotas)Onde histórias criam vida. Descubra agora