Pipa escreve histórias sáficas.
Ela não é uma escritora famosa, tão pouco profissional e é segredo de estado. Não que precise fazer muito além de ficar com bico fechado, claro. Enquanto sua terapeuta contesta a falta de experiências reais e sua mãe...
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MEU CORAÇÃO BATIA. Claro que batia, é a função dele! Mas tinha um quê de diferente nisso tudo. Eu só queria ir pra casa, me isolar depois de tudo o que aconteceu. Falando assim, até parece que algo muito mais dramático aconteceu. É que eu, Loisa, sou dramática por natureza. O que diabos eu estava esperando? Sério? Não é uma pergunta retórica. Eu realmente quero entender o que diabos estava esperando quando resolvi vir nessa festa. A culpa é inteiramente minha mesmo, por ter criado tantas expectativas.
Ela estava sendo gentil comigo. Gentil. Se eu fosse um pouco menos emocionada, talvez tivesse percebido isso. Então a frustração é totalmente minha e Laura ainda continua sendo a garota mais incrível de todas.
— Ei, o que tu tá fazendo aqui fora?
Que azar. Que azar. Com as mãos na cintura, Laura está ao meu lado. Com seu blazer bonito, a quantidade de anéis nas mãos negras. Ela me olha preocupada, como se tivesse a certeza que algo ruim aconteceu. Jeito de garota incrível. Tento olhar para as ruas vazias de um condomínio de luxo. A qualquer momento um Chevrolet omega antigo vai aparecer na porta e meu pai vai gritar meu nome para avisar que chegou.
— Eu sou muito idiota. Agi como se isso aqui fosse um filme e tudo desse certo. Balde de água fria, entende? Eu nunca vou beijar na vida! O que eu tô pensando? Sério. Que estupidez. Acho que eu não tenho um espelho em casa ou a positividade está me engolindo a ponto de eu me esquecer que este corpo aqui nunca vai ser desejado. E não importa o quanto eu o ame, isso não faz diferença para as pessoas. Elas sempre... sempre vão preferir as garotas magras, de corpo perfeito.
— Você queria beijar um garoto?
— Não, eu não queria beijar um garoto.
Eu queria beijar você. Que droga, eu queria beijar você. Mas tudo o que me fez foi me deixar de lado a festa inteira! Festa em que você me convidou e eu só vim por sua causa.
— Uma garota? — pergunta, me fitando. — Era uma garota? Nós somos amigas, Loi. Precisa confiar em mim.
— E que diferença faz? Se é um garoto, se é uma garota? Tem dez milhões de garotas mais bonitas do que eu. Acho que quanto mais rápido eu aceitar isso, menos me frustro.
O pior de ser uma garota sensível é que você acaba ficando sensível por coisas que não deveria. Não é fácil explicar que você está a ponto de chorar porque ficou a noite inteira segurando um copo de bebida, do qual você não toma porque odeia abacaxi, e tentando não parecer tão fora da caixinha.
— Vamos voltar pra dentro. Prometo melhorar a noite.
— Já liguei pro meu pai. Ele deve estar fazendo um drift nesse exato momento pelas ruas de Albuquerque para chegar até aqui. Não se preocupe, não é culpa sua. Além disso, esse vestido está me sufocando e eu nunca mais acredito nas malditas vendedoras e seus discursos "cabe sim, só é estranho de início" apenas para conseguir vender algo.
