Foi divertido. Muito mais divertido do que eu imaginaria na programação assistir um filme em espanhol. Maia gosta de falar curiosidades cinematográficas, dizer inúmeras sugestões e explicar qualquer coisa que eu menciono não entender. Ela cita filmes que eu deveria assistir e eu pareço um pouco bocó por não saber, nem de longe, nenhum deles. Não quis ir na sorveteria, mas ficamos juntas até meu pai sair do trabalho e isso foi tempo demais para duas conhecidas. E em nenhum segundo ficou em silêncio. Não o silêncio ruim, pelo menos.
Mas eu não entendi nada do filme. Não porque ele era dificílimo ou qualquer coisa do tipo, mas porque minha mente ficou aérea. Eu só me perdi nos meus próprios pensamentos e fiquei imaginando ideias que poderiam girar em um cinema improvisado de universidade pública.
Não aprendi nenhuma palavra em espanhol. Talvez o objetivo principal não seja obtido com êxito. E apesar dos meus pais estarem pagando pra isso, uma parte de mim diz que não liga muito pra isso. Sim, eu sei que a Maia está fazendo pelo interesse no dinheiro e a gentileza está completamente concentrada no fato de que sou uma garota de porcelana, mas... é bom. Eu não tenho relações orgânicas há muito tempo, Fernanda e ela estão sendo o mais próximo disso. É óbvio que eu não quero acabar com isso.
E eu não sei se isso é bom ou ruim.
— Ah, ela é crítica de cinema também — Fernanda cruza os braços.
Eu sorrio.
— Ela gosta bastante, pelo visto. Filmes bem conceituais. Fiquei com vergonha de não conhecer nenhum.
— Pessoas cult são chatas. Mas essa garota tem tudo de ruim em si, como é possível!
— Ela não agiu como um babaca opinador de filmes. Na verdade, acho que ela foi muito coerente falando sobre os filmes e não fez só pra mostrar que conhece — digo.
Maia dificilmente está no pátio, independente se é o intervalo ou não. Ela está em meio a pilha de mesas descartadas e com defeito no corredor atrás das salas. E quando está, pelo jeito a crítica sobre água com gás vai ser sempre sustentada por Fernanda. Ela bebe muito. Não é uma garrafa reutilizada, ela realmente usa todas as oportunidades para beber água com gás.
Desvio de caráter, posso ouvir Fernanda murmurar sempre que a vê com a garrafinha na mão. E nós estamos sempre sentadas no mesmo banco observando o tempo passar.
— Depois da aula, a gente tem reunião da formatura. Ouvi dizer que vai ter uma festa, pelas mensagens no grupo.
— Sério? Eu não li.
— Na sexta que vem. Com ingresso e tudo. Parece que alguém aqui realmente é filhinho de papai e o pai emprestou uma casa pra fazer a bagunça.
— Com bebidas?
— Impossível que não seja. Festa com adolescente assim normalmente só tem três coisas: bebidas, um ou outro escondido com cigarro ou maconha e vape.
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Manual para Garotas (que gostam de garotas)
Ficção AdolescentePipa escreve histórias sáficas. Ela não é uma escritora famosa, tão pouco profissional e é segredo de estado. Não que precise fazer muito além de ficar com bico fechado, claro. Enquanto sua terapeuta contesta a falta de experiências reais e sua mãe...