19 - Manual para Gagueira

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Maia voltou logo em seguida e saiu novamente. Dessa vez não voltou e eu passei a maior parte do tempo querendo enfiar meu rosto dentro da mochila e esperar até o final do primeiro tempo. Quando a detenção acabou, além de sair coincidentemente junto a ela (que estava na sala do grêmio estudantil), lembrei que tinha algo pra lidar agora. No meio do caminho, me fazendo travar e observar a professora antipática passar por mim. Será que é corajoso da minha parte voltar pra detenção? Não, não é. Não dá pra fugir da Fernanda pelo resto da vida só porque nos beijamos.

Vamos lá, Paloma. É super normal.

Respiro fundo antes de entrar na sala, junto a professora. E eu subestimo muito a minha capacidade.

No mesmo lugar de sempre, Fernanda me observa entrar e sorri. Do jeito dela.

Quero bater a cabeça na parede.

Meu Deus.

Sorrio toda destrambelhada antes de raciocinar o quão esquisito é ficar na frente da sala.

— Tá melhor? — pergunta e eu franzo o rosto.

Lembrei da desculpa esfarrapada que eu dei ontem.

— Tô sim. — assente enquanto me sento.

— O que você faz na detenção, ein?

Olho para os braços dos outros, derrubo carteiras, passo por flagras de beijos, constrangimentos, vejo Maia despenteada e diálogos que me matam de vergonha.

— Absolutamente nada. É só uma sala vazia que a gente fica olhando pro teto. Tipo Clube dos Cinco.

— Como?

— The Breakfast Club. A galera considera um filme clássico, você nunca ouviu falar? Um grupo de pessoas vai pra detenção. Um popular, um nerd, uma patricinha, um valentão e uma gótica — franze o rosto.

— Acho que já li uma fanfic baseada nisso. Não sabia que era um filme.

— Fanfic de quê?

Ela me fita.

— Eu disse fanfic?

— Por que você não fala logo de quem lê? Estou começando a me preocupar com suas preferências — sussurro.

— Eu não gosto, tá? É que... as histórias são boas.

— Cuidado com o que você vai falar. Alguns são temas proibidos e eu nunca mais falo com você — brinco.

Se bem que eu olharia torto pra ela pelo resto da vida, dependendo do que for.

— Não vou contar. Presta atenção na aula, ela vai começar — avisa, mesmo que a professora ainda esteja procurando a página do livro.

— Anda, Fernanda. Tô curiosa.

— Quer que eu conte?

Óbvio.

— Então vamos fazer uma troca.

— O que você quer saber?

— Saber nada, mas se você me der uns beijos no intervalo eu dou até meu CPF.

Congelo e ela ri. Alerta de incêndio. Estão tentando apagar o fogo na minha cabeça com líquido inflamável.

— Presta atenção na aula, Paloma.

Coloco as mãos na boca, sufocando o riso em pânico. Ela passa a mão pelo meu cabelo, se inclinando.

— Você é bonitinha nervosa, mas nem precisa disso. Você se torna muito mais destrutiva quando se tocar que quem tem que ficar nervosa é as garotas que tiverem interessada em você — sussurra se ajeitando na cadeira.

Manual para Garotas (que gostam de garotas)Onde histórias criam vida. Descubra agora