Maia voltou logo em seguida e saiu novamente. Dessa vez não voltou e eu passei a maior parte do tempo querendo enfiar meu rosto dentro da mochila e esperar até o final do primeiro tempo. Quando a detenção acabou, além de sair coincidentemente junto a ela (que estava na sala do grêmio estudantil), lembrei que tinha algo pra lidar agora. No meio do caminho, me fazendo travar e observar a professora antipática passar por mim. Será que é corajoso da minha parte voltar pra detenção? Não, não é. Não dá pra fugir da Fernanda pelo resto da vida só porque nos beijamos.
Vamos lá, Paloma. É super normal.
Respiro fundo antes de entrar na sala, junto a professora. E eu subestimo muito a minha capacidade.
No mesmo lugar de sempre, Fernanda me observa entrar e sorri. Do jeito dela.
Quero bater a cabeça na parede.
Meu Deus.
Sorrio toda destrambelhada antes de raciocinar o quão esquisito é ficar na frente da sala.
— Tá melhor? — pergunta e eu franzo o rosto.
Lembrei da desculpa esfarrapada que eu dei ontem.
— Tô sim. — assente enquanto me sento.
— O que você faz na detenção, ein?
Olho para os braços dos outros, derrubo carteiras, passo por flagras de beijos, constrangimentos, vejo Maia despenteada e diálogos que me matam de vergonha.
— Absolutamente nada. É só uma sala vazia que a gente fica olhando pro teto. Tipo Clube dos Cinco.
— Como?
— The Breakfast Club. A galera considera um filme clássico, você nunca ouviu falar? Um grupo de pessoas vai pra detenção. Um popular, um nerd, uma patricinha, um valentão e uma gótica — franze o rosto.
— Acho que já li uma fanfic baseada nisso. Não sabia que era um filme.
— Fanfic de quê?
Ela me fita.
— Eu disse fanfic?
— Por que você não fala logo de quem lê? Estou começando a me preocupar com suas preferências — sussurro.
— Eu não gosto, tá? É que... as histórias são boas.
— Cuidado com o que você vai falar. Alguns são temas proibidos e eu nunca mais falo com você — brinco.
Se bem que eu olharia torto pra ela pelo resto da vida, dependendo do que for.
— Não vou contar. Presta atenção na aula, ela vai começar — avisa, mesmo que a professora ainda esteja procurando a página do livro.
— Anda, Fernanda. Tô curiosa.
— Quer que eu conte?
— Óbvio.
— Então vamos fazer uma troca.
— O que você quer saber?
— Saber nada, mas se você me der uns beijos no intervalo eu dou até meu CPF.
Congelo e ela ri. Alerta de incêndio. Estão tentando apagar o fogo na minha cabeça com líquido inflamável.
— Presta atenção na aula, Paloma.
Coloco as mãos na boca, sufocando o riso em pânico. Ela passa a mão pelo meu cabelo, se inclinando.
— Você é bonitinha nervosa, mas nem precisa disso. Você se torna muito mais destrutiva quando se tocar que quem tem que ficar nervosa é as garotas que tiverem interessada em você — sussurra se ajeitando na cadeira.
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Manual para Garotas (que gostam de garotas)
Ficção AdolescentePipa escreve histórias sáficas. Ela não é uma escritora famosa, tão pouco profissional e é segredo de estado. Não que precise fazer muito além de ficar com bico fechado, claro. Enquanto sua terapeuta contesta a falta de experiências reais e sua mãe...