42 - Manual para Amor Falso

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O clima pré-formatura está perfeito. Se o objetivo for alguém matar o outro na viagem para Nascente, claro.

Depois da festa, tudo ficou pior. Na verdade, eu voltei ao início. O momento em que eu não queria de jeito algum viajar junto a pessoas de quem não gosto. Mas dessa vez, sinto que não sou a única que penso assim. Um efeito dominó que começou com um beijo invasivo, passou por um tapa de Rafaela em André e terminou em uma lavação de roupa suja. Não voltei pra festa, mas não precisei pra saber o que aconteceu.

Sentada na calçada, esperando meu pai chegar e tentando não chorar. Falhei miseravelmente.

Sempre estive sozinha, mas sem atritos. Agora eu não conseguia olhar na cara das duas pessoas que fizeram minha vida mudar de repente. Não olhava pra Fernanda por raiva e indignação. Não conseguia entender o porquê ela fez aquilo, se sempre pareceu tão.. legal. Compreensível.

Já Gaia... eu simplesmente não conseguia olhar por culpa. Não que ela já não cortasse o contato antes mesmo dele acontecer.

No grupo da formatura, a confusão atual era uma só: André tinha criado um motim. Depois do tapa — que todo mundo acha que foi só por ter rido da Gaia, mas eu sei que tem mais coisa acumulada —, ele se sentiu constrangido e se juntou aos amigos para pedir o dinheiro de volta. Impossível, até porque como parte da organização da formatura ele sabia que não poderia.

E com o termo assinado, tentou prejudicar absolutamente todo mundo. Como responsável pelo contrato de locação do lugar onde íamos ficar, ele ligou para o dono cancelando. A última mensagem que tinha lido era que eles precisaram de um bom tempo para explicar a situação e manter a pousada.

Sortudos eram os que só participariam da festa ofertada pelo colégio, com os pais.

Não que eu não tenha desistido e jogado todo o dinheiro no lixo, mesmo que não oficialmente.

E é claro que tudo pode piorar. O aniversário de Micaela está chegando e a tia enviou uma mensagem confirmando que viria. Estava tentando me manter firme para não desistir.

É importante pra mim.

Mas Gaia também é. E cada vez que eu penso a quantidade de vezes que a repeli, consequentemente a machucando, me sinto mal por querer que a gente fique bem novamente. É que... não é justo que eu perceba onde estava errando, mas por culpa de outra pessoa eu não vou poder acertar. Não com Gaia, ela me odeia.

E eu não sei expressar o que sinto por Fernanda por ter a feito virar motivo de piada.

Sentada em uma parte de concreto que me faz ver a quadra, estou assistindo o penúltimo jogo de queimada da interclasse. Minha turma se classificou pra final. Eu sei quem vai se classificar agora pra jogar com a gente, mesmo que eu não esteja participando, porque bem... Gaia está lá. E vez ou outra, consigo ver o olhar firme dela e como ela mantém uma expressão hostil.

Como poderia não manter depois de virar chacota?

— Ei, Paloma — levanto o rosto, observando Caio me chamar.

Da minha turma, mas nunca falou exatamente comigo.

— A gente tá com alguém a menos. A Ana teve que ir pra casa, você entra no lugar dela.

— Usa a vida pra salvar alguém. Eu não sei jogar.

— Não precisa jogar, só... complementa o time — pede e eu arqueio as sobrancelhas.

— Não acho que seja uma boa.

Ele suspira.

— Se a gente perder, não é sua responsabilidade. Só acho que todo mundo tá tenso demais pra faltar alguém no time.

Manual para Garotas (que gostam de garotas)Onde histórias criam vida. Descubra agora