Pipa escreve histórias sáficas.
Ela não é uma escritora famosa, tão pouco profissional e é segredo de estado. Não que precise fazer muito além de ficar com bico fechado, claro. Enquanto sua terapeuta contesta a falta de experiências reais e sua mãe...
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— Paloma Pimenta, eu sei que parece difícil, mas não tanto quanto você pensa.
Cruzo as pernas. O consultório branco, minúsculo e com a parede com vários certificados da minha psicóloga, Isabela. Acabei de contar o que aconteceu na semana inteira que antecedeu a consulta, animada para mostrar que progredi, mas pelo olhar da Isa — só a chamo assim nos pensamentos e bem longe dela, uma falsa intimidade — parece que não. Ter conseguido mil visualizações não é um progresso.
— Se você se sente mais confortável se expressando na internet, por que não tenta participar de uma comunidade ou jogo com interação? — pergunta, anotando algo na ficha.
— Não quero criar laços com pessoas que nunca me viram na vida. Primeiro, eu assisto o jornal. Segundo, não quero que fujam de mim quando souberem como sou, ao vivo e em cores. Você sabe como sou uma pessoa difícil de superar! Está ouvindo minha ladainha desde que tenho onze anos! Isabela... estou dando meu máximo. Juro que estou tentando ser comunicativa! Mas...
— Eu sei, meu bem. Nós estamos trabalhando cada passo de cada vez, mas para isso nós temos que seguir em frente. Você devia aproveitar para fazer algo diferente! Não disse que sua turma é sempre a mesma? Se encontrar alguém diferente, talvez te ajude.
— É uma cidade pequena. Todo mundo deve saber e eu não quero ser coitadinha, tá bem? Igual quando aconteceu e todo mundo que mal olhava na minha cara veio falar comigo — retruco, cruzando os braços. — Por que não foca nos meus avanços? Eu tô ficando famosa! Além disso, escrever é se expressar. Tô me expressando! E ter meu próprio universo fictício é bom porque ninguém precisa morrer.
— Paloma...
— Acredite em mim! — reforço e ela suspira.
— Só um passatempo... Já sei! Pensa que se você fizer algo extra, vai ter mais conhecimento para colocar nas suas histórias! O que sua personagem faz?
— Qual? A da história da personagem sem graça como eu ou a da bonitona que toca guitarra, faz jiu jitsu, joga vôlei, sabe inglês, francês, espanhol, alemão...
