Pipa escreve histórias sáficas.
Ela não é uma escritora famosa, tão pouco profissional e é segredo de estado. Não que precise fazer muito além de ficar com bico fechado, claro. Enquanto sua terapeuta contesta a falta de experiências reais e sua mãe...
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— A Gaia tá vindo estudar aqui, tem algum problema? — pergunto, me aproximando dos dois e mesmo depois de já a ter chamado. — Na segunda que vem tem prova de química e eu prometi que vou ajudá-la. É que... a casa dela é muito cheia pra se concentrar.
Minha casa é quieta. Talvez a dificuldade dela seja porque sua casa está sempre em movimento e na aula é difícil de se concentrar. Não vou mencionar isso, mas pesquisei um pouco pra encontrar uma forma de ajudar de verdade.
— Hoje é dia de jogo.
Separo os lábios.
Isso definitivamente é um problema. Meus pais são... animados. Mesmo que meu pai seja um torcedor fervoroso, minha mãe não fica tão atrás.
— Mas ela pode vir! A gente assiste o jogo e depois vocês estudam. Que tal? Nada como apresentar o futebol para Gaia com um clássico.
— Clássico? — pergunto, mesmo entendendo exatamente o que é.
— É — diz, animado.
Ah, agora tudo faz sentido. Os dois terem acordado com a camisa do Vasco, a fornada de petiscos sendo preparados e refrigerante na geladeira. Minha família não tem costume de beber bebida alcoólica e refrigerante não é algo tão consumido aqui dentro — preferência por sucos.
Hoje tem jogo de Flamengo e Vasco. A final do campeonato.
E... isso não vai dar certo. Eu deveria ter me tocado antes, mas agora já é tarde demais.
— Agora é objetivo do Vasco vencer pra impressionar a namorada da nossa filha.
— Meu bem, eu já falei pra não ficar pressionando a Paloma — Mamãe dá um tapinha no ombro.
— Estou demonstrando apoio, é diferente — ele sorri de canto.
— Ela tem outra namoradinha.
— Essa namoradinha não apareceu aqui em casa ainda, então... Paloma, veste sua camisa pra dar sorte! — pede, relembrando, e eu nem contesto.
Dia de jogo, dia de usar a camisa. Mas antes de vesti-la, envio uma mensagem pra Gaia. Apesar disso, tenho absoluta certeza que ela está chegando. Ao perceber que ela não vai ver antes de chegar aqui, abro a porta e estou prestes a descer as escadas quando aparece.
