Desci as escadas correndo, mas ele estava parado no último degrau, encarando a porta de saída do prédio. O observei por alguns segundos, as costas largas contraídas na camiseta, os dois punhos fechados, as veias dos braços pulsavam com a raiva e frustração. Ele contraía e relaxa os músculos dos punhos tentando aliviar a raiva, eu conhecia bem aquele sentimento, de ser a última nas decisões de todo mundo. Das pessoas resolverem toda a sua vida, sem nunca consultar você, de você ser o protegido ao invés do que é procurado. Me arrependi profundamente de o ter tratado como criança algum tempo atrás, mais do que ninguém, eu sabia como isso era decepcionante.
Ao invés de falar, me aproximei devagar do seu corpo, minha mão esquerda, abriu espaço pelo seu antebraço, dedilhando ele por dentro, até chegar ao seu pulso, desfazendo a posição cerrada do punho na mão tatuada. Ele estava com a cabeça erguida, de olhos fechados, mas abriu a mão suavemente para que eu entrelaçasse meus dedos a sua. O encaixe foi perfeito, e o contraste de temperaturas fez uma pequena corrente elétrica percorrer meu corpo. Eu o olhava enquanto ele segurava minha mão firmemente, agora deixando a raiva incontrolável esvair do seu corpo até o meu. Esperei pacientemente ele abrir os olhos e me encarar, ainda assim, com tudo que tinha passado, a galáxia se apresentou novamente ao me ver, me fazendo feliz mais uma vez.
Eu me sentia especial, de verdade.
Jung Kook segurava minha mão de maneira firme, sem soltar. Retirei a chave da minha moto do bolso com a mão livre e a entreguei, o semblante sério deu lugar ao sorriso mais contagiante do planeta, me deixando um pouco mais aliviada por ele estar bem.
— Não... - disse em um tom incrédulo.
— É melhor a gente ir, antes que venham atrás de nós dois. - respondi da mesma maneira que ele tinha feito comigo quando inventou de colocar fogo em meu apartamento por diversão.
— Você tá falando sério?
— Você quer que eu volte...
— Não! - o Jung Kook animado e destemido que eu conhecia tinha voltado.
Ele me puxou sem controlar a força, mas não me importei, eu sabia que era de propósito. Dui arrastada até a garagem, ele pegou meu capacete e subiu na moto primeiro, fazendo o motor ranger, me usurpei de um dos capacetes de Yoongi e subi atrás. A única pessoa que eu andava de carona era o mais velho, mas agora não mais. Ele saiu por Seoul como se estivesse sendo perseguido e sua vida dependesse disso.
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Jung Kook era um homem extremamente talentoso e ali eu reconheci isso, as costas largas, a risada satisfeita, o domínio que ele teve em segundos de um veículo que demorei meses para aprender a pilotar. Era um prodígio. Tudo que se propunha a fazer, dava o melhor de si, e era o melhor.
