Legacy • Jung Kook

Double

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— Unnie, onde você está? - a voz de Alyss parecia trêmula.

— Na HYBE até 8 da noite, por quê?

— Você pode conversar comigo, agora?

— Posso, eu só vou... - ouvi alguém abrir a porta e ela se materializou em minha frente.  — Aish, eu achei que...

Taehyung entrou logo atrás, nem me deixando terminar a fala, com roupa de academia, todo suado. A caixa preta que eu tinha acabado de receber com uma estrela na tampa, estava sobre o canto direito da minha mesa. Me calei na hora em que o idol entrou, já fechando a porta.

Essa é uma combinação bem improvável.

Alyss parecia indubitavelmente nervosa, ela era bem mais nova, assemelhava-se à uma adolescente, as mãos estavam ao redor do tronco, inquietas. Bastava conviver dois minutos com ela para entender que não era uma pessoa fácil, tinha crescido em uma realidade dura e complicada, não tinha uma pátria, se sentia maioria das vezes excluída e renegada de uma sociedade cheia de padrões e status. No começo, quando nos conhecemos, assim que montei a ONG e comecei a ajudar refugiados, eu achei que ela tinha ódio do mundo inteiro por tudo que tinha sofrido, recusava sempre ajuda, era muito dona de si, jamais admitia estar errada e era mestre também em se meter em problemas. 

Mas quando viramos amigas de verdade, eu percebi que sua raiva não era do mundo, nem das pessoas, era do sistema em que ela tinha que conviver. Você quando olha a dura realidade das pessoas que sofrem questiona como a consciência dos que têm tudo não os consumiam, o mundo é injusto, mas uma de suas belezas era justamente não aceitar essa injustiça e lutar contra ela o tempo todo, nesse meio termo, odiava os idols, porquê para ela, eles conseguiam tudo tão facilmente, tinham tudo tão fartamente, e viviam em uma rede de falsidades e aparências distópica do mundo real. 

Sentei-me, sem saber se deveria esconder a caixa que tinha recebido ou não, talvez eles suspeitassem ainda mais, então resolvi ignorar, fiz sinal para os dois sentarem-se à frente.

— Deve ser bem urgente. - concluí com tom de deboche.

— Eu preciso da sua autorização, Yun. - ela ergueu o tronco e respirou pausadamente como se recuperasse as forças.

Taehyung levantou a sobrancelha direita, me encarando. Ele, ao contrário dela, estava sereno, parecia que a guiava sem falar uma palavra. Meu senso de problema ativou no mesmo instante. Fiz sinal pra ela prosseguir a fala, levando a mão direita ao queixo, pensativa com aquela situação. Já que ela estava ali para falar com a relações públicas da HYBE, era o que ela teria.

— Eu... eu preciso da sua autorização para seguir o Kim Taehyung pelo próximo mês. - ela falou tão rápido que precisou respirar ao fim da frase.

Encarei Taehyung processando o pedido, ele curvou um pouco a cabeça em minha direção e seus olhos voltaram para a caixa à minha direita, curioso.

— Seguir? - questionei, ainda o encarando.

— Sim, preciso ir à todos os lugares que ele frequentar, inclusive aqui na empresa e seus compromissos públicos.

Impossível!

— Alyss, eu não acho que... - ela fez sinal de silêncio e eu parei de falar.

— Ele vai se responsabilizar pela minha segurança pessoal, meu transporte e tudo mais. Só preciso que você libere meu passe para os compromissos.