Capítulo 2 - A Mesa Estrelada

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Acordei triste, não estava assustada nem agitada, apenas triste. Geralmente sonhar com a minha mãe era bom, não acalmava a saudade que eu sentia, mas aliviava o aperto no meu peito, como se eu pingasse uma gota d'água em uma terra seca. O difícil era acordar e perceber que foi apenas um sonho, um momento feliz que só aconteceu dentro da minha cabeça.

Levantei da rede com cuidado pra não acordar ninguém, calcei minhas botas, caminhei até o lado de fora e olhei pro céu contemplando a indescritível beleza das estrelas, respirei fundo e apreciei o ar puro e selvagem, tão diferente do ar da cidade. Aparentemente todos dormiam, a aldeia estava calma, silenciosa. Caminhei até um banco de tronco de árvore mais próximo à mata fechada, o som de alguns animais da floresta agradavam meus ouvidos e me deixavam confortável pra apreciar a melodia natural. Sentei e mais uma vez apreciei as estrelas, não era possível encontrar uma palavra pra elogiá-las, eram infinitas, perfeitas, dançavam em homenagem a toda a galáxia, reluziam em luzes mais fortes e mais fracas, cada uma ao seu tempo e ritmo, olhar para elas era hipnotizante, tirava o meu fôlego e me fazia querer ver mais e mais. O som da floresta foi ficando cada vez mais fraco, totalmente sem importância diante da imensidão da constelação que dançava no céu, levantei do banco e segui as luzes mais fortes, não existia nada como uma seta, mas eu sentia para qual direção o espetáculo seguia. As estrelas me chamavam e me guiavam ao mesmo tempo, eu me entreguei a elas, confiei meus passos como um cão leal confia em seu dono. Com a aldeia às minhas costas e a mata fechada à minha frente continuei seguindo, quanto mais escura ficava a floresta mais o brilho das estrelas se intensificava, o topo das árvores que se entrelaçavam pareciam abrir caminho, como as cortinas de um teatro que se abrem para o artista apresentar o seu show, não percebi os meus passos, nem sequer reparei na minha respiração, só existia o céu e o seu brilho espetacular.

Desviei meu olhar das estrelas para algo que chamou a minha atenção, uma mesa, era redonda e parecia ter um pouco mais de um metro, feita de terra ,como as esculturas de areia da praia, na superfície da mesa havia circunferências, as menores no meio ficando maiores e mais largas conforme se aproximavam da borda. Dentro das circunferências estrelas brilhantes, algumas maiores e outras menores se posicionavam como se fizessem parte de uma quebra-cabeça, sendo 3 pequenas no círculo menor no centro da mesa. As estrelas da mesa pareciam idênticas às estrelas do céu, reluziam com intensidade dançando num espetáculo de brilhos fortes e fracos.

Tudo aquilo não parecia real, era impossível que uma mesa de terra com luzes brilhantes estivesse no meio da floresta, mas se fosse um sonho seria o sonho mais realista que eu já tive.

A mesa me chamava, aquele brilho sedutor do céu também vinha dela, mas ela estava mais perto, caminhei dez passos com cautela, pronta pra recuar a qualquer sinal de perigo.

Quando eu ia à praia tinha medo de tocar as lindas esculturas de areia e elas se desmancharem, não queria estragar o trabalho dos artistas. Parada ali diante da mesa de terra também tive medo de tocá-la e ela se desmanchar, quem quer que a tivesse feito era certamente um grande artista, se é que ela era real.

Com toda delicadeza possível aproximei meus dedos das pedrinhas que brilhavam mais para a borda, quando as toquei o mundo parou e pareceu virar de cabeça pra baixo, tudo ao meu redor foi tomado por uma luz branca, senti o frio na barriga como se estivesse em uma montanha-russa, o gelo e o fogo tocavam partes diferentes do meu corpo, uma sensação de queda contínua me rodeava me causando enjoo e entupindo meus ouvidos, não sentia mais o chão, nem o cheiro da floresta, o ar era rarefeito e só existia o branco cegante.

A claridade excessiva foi diminuindo, a sensação de enjoo sumiu e eu percebi que estava deitada, senti meus cotovelos apoiados em alguma superfície arenosa, as partes da minha calça que tocavam o chão estavam úmidas. Aos poucos fui recuperando a minha visão e a primeira coisa que vi foi o céu, ele continuava lindo e brilhante.

A Mesa E O MarOnde histórias criam vida. Descubra agora