Com o serviço feito eu sabia o que deveria fazer, deveria ir embora. Senti um pouco de angústia no meu coração por saber que nunca mais veria a aldeia, tinha me afeiçoado a algumas pessoas, gostado da comida e mais ainda dos treinamentos com arco e flecha, mas eu não podia pertencer àquele lugar e eu precisava tanto do mar, precisava desesperadamente dar um mergulho e passar horas nadando como se fosse a dona de todo aquele oceano.
Sem esperar por qualquer palavra voltei para a minha barraca, arrumei os lençóis da mesma forma que estavam quando eu cheguei, organizei e limpei o melhor possível e deixei um bilhete de cinzas chamuscado no chão "obrigada, por tudo".
Peguei minhas moedas e fui embora, em poucas horas o Sol nasceria e eu poderia chegar em casa ainda de manhã. Andando pela floresta do penhasco avistei a cabana, estava fechada, presumi que todas estavam dormindo. Entrei devagar e sem fazer barulho, caminhei até o quarto e encontrei três lindas sereias dormindo como se fossem princesas. Sentei no chão de frente para a cama do meio, a minha cama vazia, e de uma a uma fui jogando as moedas no chão, fazendo barulho proposital para que elas acordassem.
Na segunda moeda Safira acordou, na terceira Maria acordou e quando chegou na décima segunda moeda tive que jogar o restante das moedas em Celeste para tentar acordá-la.
Maria saiu da cama rapidamente para me abraçar.
- Que saudade de você! Estava tão preocupada... - segurou meu rosto com as duas mãos, olhou meu cabelo, tocou meu braço e segurou a minha mão para saber se eu estava bem e inteira.
- Eu estou bem. - sorri tentando tranquilizá-la.
Safira e Celeste se apressaram para me abraçar. Eu peguei todas as moedas e distribuí oito para cada uma, ficando com onze para mim. Todas ficaram muito felizes.
Sem esperar muito corri para o mar, deixei minhas roupas no paredão de rocha e entrei livre na água, me atirando nela quando chegou na altura do joelho. Troquei minhas pernas por cauda, cauda que agora eu amava e admirava, minhas escamas cor de esmeralda e minha barbatana manchada de azul como se a natureza tivesse feito uma obra de arte com suas próprias regras, seguindo instintos selvagens, tão livre quanto as asas de um beija-flor.
Nadei sentindo a água e o sal, apreciando a beleza que é quando a luz Sol se infiltra pelas águas do mar, os corais levando a vida ao seu próprio ritmo. Tudo era perfeito, a natureza era perfeita.
Voltei para a cabana radiante como o Sol, já fazendo planos de como gastaria minhas moedas. Não daria para comprar outra casa em Gomisty, mas talvez desse para comprar botas novas, panelas, roupas ou armas.
Usando meu vestido verde que fora presente de Maria caminhei alegremente pela floresta me aproximando da cabana. Quando abri a porta, para a minha surpresa, Rudi estava sentado no sofá de madeira, ao lado de Maria que conversava como se não estivesse recebendo um lobo dentro de casa, Celeste o servil um copo de água e eu fiquei parada, em choque com aquela estranha hospitalidade. Todos olharam para mim com se estivessem me esperando, eu olhei diretamente para Rudi, raivosa por ele ter ido atrás das minhas amigas.
- O que você quer? - perguntei sem esconder a hostilidade.
- Eu só vim conversar – ele respondeu calmamente.
- Eu cumpri o combinado e você me pagou. O que mais temos para conversar?
Fechei a porta e andei para perto dele.
- Eu tenho um convite, para todas vocês – ele olhou para Safira e Celeste. - por favor, só ouçam.
- Não custa nada ouvir – Maria o defendeu, parecia interessada no que ele tinha a dizer.
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A Mesa E O Mar
FantasyApós perder a mãe, sua única família, e descobrir que seu pai distante também morreu optando por não se despedir, Ayra sente-se sozinha no mundo. Mergulhada em luto e solidão ela é seduzida pela beleza das estrelas e atraída até uma mesa misteriosa...