A serpente levantou o corpo e bateu com a coroa da sua cabeça no escudo, repetiu o mesmo movimento se chocando contra o ponto fragilizado repetidas vezes, meu escudo trincou e eu usei mais magia para suportar as pancadas, seria possível desfazer aquele e produzir outro, mas não tinha certeza se conseguiria fazer isso antes dela matar um de nós dois.
- Rudi, não pode olhar, não olhe nos olhos dela. - eu sabia que ele tinha aquela informação e sabia até mais do que eu, mas reforcei.
Ele grunhiu em resposta.
Assim como a medusa, uma troca de olhares com o basilisco podia trazer maus resultados, o olhar dele era mortal e sua ruína era seu próprio reflexo, um deserto parecia ser a casa perfeita para manter distância dos espelhos, talvez eu também quisesse ficar longe do meu reflexo se tivesse aquela aparência.
Levantei uma cortina de fogo no ponto em que o basilisco insistia em se chocar contra meu escudo, ele recuou demonstrando incômodo e mergulhou novamente para dentro da areia, rapidamente desfiz o escudo e corri a procura de qualquer coisa que pudesse ser transformada num espelho, Rudi correu atrás de mim passando o focinho por baixou das minhas pernas e me jogando para cima do seu corpo, ele corria muito mais rápido do que eu, inclinei meu corpo agarrando o pescoço dele para não cair, o vento frio escovava meus cabelos e os pelos dele. Olhei para trás e vi a montanha que nos perseguia por baixo da areia, a serpente fazia movimentos de zig-zag e se movia rápido, se aproximando de nós muito mais rápido do que Rudi conseguia correr. Antecipei o movimento dela fazendo uma cortina de fogo surgir em seu caminho, a montanha de areia parou e se desfez.
De longe enxerguei uma sombra de algo que parecia ser outro cacto, não era um espelho, mas era água e água refletia imagens.
- Direita! - gritei para Rudi, ele mudou a direção correndo para a sombra que eu torci para realmente ser um cacto.
Olhei para trás e vi quando o Basilisco pulou para fora da areia e rastejou na nossa direção como se fosse a rainha das serpentes, e talvez fosse. Criei outra cortina de fogo na frente da besta, mas dessa vez ela mergulhou para dentro da minha cortina passando todo seu corpo pela chama, não demonstrou sentir qualquer incômodo e a pele preta e brilhante continuou intacta, muito bem hidratada... hidratada... a fonte de água mais próxima. Eu agradeceria se o cacto estivesse mais perto, mas não precisava dele, o corpo do basilisco tinha água suficiente para criar um espelho, eu só precisava me aproximar sem morrer e sem fazer contato visual.
A besta estava cada vez mais perto, mergulhou na areia e sumiu sem deixar pistas do seu enorme corpo, o chão sob as patas de Rudi subiu e uma explosão de areia nos jogou para o alto, meu corpo perdeu o contato com os pelos dele e eu senti o frio na barriga de uma queda livre, caí de costas na areia e senti todo o ar saindo dos meus pulmões, minha visão escureceu e uma forte dor de cabeça abafou meus outros sentidos, não tinha tempo para aquilo, levantei sem esperar meu corpo se recuperar. Rudi caiu mais próximo do basilisco do que eu, meu amado corria na minha direção, mais lento e cansado do que antes, sem olhar pra criatura eu corri na direção dela, lancei duas bolas de fogo seguidas na coroa dourada em cima da sua cabeça para me tornar o foco da sua atenção. Antecipei o momento em que Rudi tentaria jogar meu corpo para cima para me carregar para longe, permiti que ele me lançasse, mas usei o corpo dele como trampolim para pular mais alto e torci para que a serpente se aproximasse no tempo exato para eu me segurar no corpo dela.
Deu certo, agarrei o corpo úmido e gelado com meus braços e unhas, a pele era lisa e meu corpo escorregava com os movimentos que ela fazia pra rastejar. O Basilisco percebeu a minha presença como um carrapato agarrado ao seu corpo e se sacudiu como um touro, a cada movimento eu escorregava mais e ficava mais acessível às presas dele. Usando a minha magia na potência máxima puxei a água do corpo dele nos prendendo em uma prisão cilíndrica com paredes d'água, fazer paredes na altura do basilisco e com ele chicoteando o próprio o corpo para se livrar de mim foi um desafio, demorou mais do que calculei, mas eu consegui, a água se acomodou na forma determinada pela minha magia, lancei uma enorme bola de fogo para o céu fazendo com que a luz tornasse o reflexo nítido.
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A Mesa E O Mar
FantasyApós perder a mãe, sua única família, e descobrir que seu pai distante também morreu optando por não se despedir, Ayra sente-se sozinha no mundo. Mergulhada em luto e solidão ela é seduzida pela beleza das estrelas e atraída até uma mesa misteriosa...