Na minha frente Louise me olhava com o semblante pesado, sabendo exatamente o que havia feito para mim e para ela mesma, ciente de que havia condenado nós duas, as sentenças seriam diferentes, mas as duas sairiam perdendo. Olhei para os seus pés e reparei que usava lindos saltos pretos com pedras de diamante negro, pernas nuas até o meio das coxas, onde uma pequena saia preta e lisa cobria o essencial, blusa cor de vinho com um generoso decote em V, quatro cordões de ouro de diferentes tamanhos ocupavam seu pescoço, o cabelo vermelho na altura da bunda, livre e sensual. Louise era a sereia mais bonita que eu já tinha visto, e a mais traidora também.
Ao lado dela, como a dona de uma escrava, Ravena me olhava com o sorriso de uma criança, ostentando um belo sari indiano laranja, para combinar com o ruivo do cabelo, com uma faixa de barriga aparecendo pela transparência do pano muito bem decorado nas pontas, uma blusa branca e curta com muitos diamantes colados fazia parte do look, o salto branco preenchido de pequeninas pedrinhas de diamante, deixando somente a fivela branca à mostra, e uma tiara de ouro na cabeça com três pequenos rubis no centro.
Olhei ao redor vendo que o chão e a parede arredonda no fundo eram feitos de tijolinhos de pedra, não quatro paredes, uma única, sem cantos, uma cama de ferro com correntes grossas penduradas fez meu sangue gelar e a iluminação fraca vinha de uma única bola de fogo, não sei quem a sustentava, se era Ravena ou Louise.
- Ayra, é um prazer recebê-la em minha casa! - Ravena me cumprimentou como se fôssemos amigas.
Não respondi nada, só conseguia olhar para Louise. Ela evitava me encarar, seus olhos buscavam refúgio no chão.
- Por favor, Louise! Não seja mal-educada, cumprimente nossa convidada. - Ravena percebendo nossa relação deu um pequeno empurrão na mão de Louise.
- Seja bem-vinda, Ayra...
- O que você fez? - balancei a cabeça lentamente, perplexa com a forma como ela tinha ferrado com as nossas vidas.
A regra era clara, "não faça um mal injusto a uma irmã de água", o mar não deixaria o ato de traição sem punição, se Louise quisesse continuar viva teria que aprender a viver sem ele, ou sofreria as consequências.
- Ela fez o que é muito bem paga para fazer. - Ravena respondeu. - Espero que não haja ressentimentos entre vocês. - a rainha olhou de uma para a outra. - Afinal, vocês podem ser amigas, podem ser vizinhas de quarto, parceiras de trabalho, Louise pode ensinar muito a você, Ayra. - terminou exibindo um sorriso astuto.
Não me dei ao trabalho de olhar para Ravena, estava decidida a ignorar as provocações, no entanto, Louise era o alvo do meu olhar indignado e raivoso, condenou tanto a mim quanto a ela mesma. A troco de quê?
- Como foi a viagem, minha querida empática? - Ravena perguntou com o olhar mais atento.
Não respondi. Ergui o queixo demonstrando que não abaixaria a cabeça para ela.
- Vou presumir que foi boa, já que está viva na minha frente. - usava uma simpatia que chegava a dar nojo. - Por acaso, algo novo foi descoberto? - me olhou como um aparelho de raio-x, enxergando até meus ossos e órgãos. Meu coração acelerou.
Ela abriu um sorriso maquiavélico, me deixando espantada com o quanto a boca dela podia se alargar, parecia o Gato de Cheshire, o do país das maravilhas.
- Pode me agradecer mais tarde, eu espero. - lançou uma piscadela, tive vontade de apertar seu pescoço magro, segurei meus dedos tentando impedir atitudes por impulso.
Ravena olhou para Louise parecendo se perguntar o que ela ainda fazia ali, a sereia traidora com um olhar submisso me indicou com um movimento de sobrancelha e cabeça. Lembrei-me do que ela poderia querer em troca, invejosa como manda a espécie.
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A Mesa E O Mar
FantasyApós perder a mãe, sua única família, e descobrir que seu pai distante também morreu optando por não se despedir, Ayra sente-se sozinha no mundo. Mergulhada em luto e solidão ela é seduzida pela beleza das estrelas e atraída até uma mesa misteriosa...