Capítulo 4 - A Cabana Da Floresta Do Penhasco

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Quatro dias depois eu já dominava a minha cauda, havia me acostumado com o peso dela e conseguia olhar para ela sem repulsa. Havia aprendido algumas coisas sobre o canto das sereias e algumas advertências quanto a magia e aos perigos do reino de Morália e dos reinos vizinhos. Maria disse que queria me apresentar a cabana da floresta do penhasco e queria testar a transformação da minha cauda em pernas. Fiquei animada em poder sair da caverna, em poder sair da água e em poder andar sobre duas pernas novamente.

- Está pronta? - me perguntou Maria quando estávamos prestes a sair da caverna – se não estiver segura podemos deixar para amanhã.

Eu sentia atrás de mim os olhares de Celeste e Safira cheios de expectativa. Nesses quatro dias também nos adaptamos umas às outras, Safira pareceu mais amigável e até disse que a minha cauda era bonita, e Celeste era sempre um lindo raio de Sol que espalhava carinho e felicidade por onde passava, ela não era enjoativa, sabia sempre a hora certa de falar, o tom e as palavras necessárias, distribuía gentilezas e enxergava o lado positivo quando eu fazia um exercício errado.

- Estou pronta! Quero sair dessa caverna – respondi com determinação.

Passamos pela entrada estreita da caverna e depois pelo caminho entre as fendas, enxergar o oceano com a luz fraca do Sol vinda da superfície era um colírio para os olhos, cada detalhe da vista era lindo demais. Maria e Safira passaram por mim nadando como foguetes, Celeste me deu um leve sorriso de incentivo antes de fazer o mesmo. Eu usei meus treinamentos dos últimos cinco dias e tentei alcançá-las, a sensação de liberdade era maravilhosa, a água escovava meus cabelos e minhas escamas da mesma forma que o vento balança a crina de um cavalo veloz.

Quando consegui alcançá-las, elas já estavam perto da praia.

- Você consegue tocar o chão com as barbatanas? - perguntou Safira.

- Sim – respondi.

- Então toque e pense na sensação dos seus pés fazendo isso, pense em como é colocar uma perna na frente da outra e andar.

Pensei com o coração cheio de saudade das minhas pernas, querendo poder sentir a areia entre meus dedos. Um formigamento percorreu a minha cauda e em poucos segundos senti o chão com os meus pés, levantei cada um dos joelhos e os toquei com as mãos, estalei o dedão, e apertei a minha própria bunda para ter certeza de que ainda tinha o mesmo tamanho e formato. Não pude deixar de sorrir e fazer uma pequena festa com pulinhos silenciosos, acabei arrancando um grande sorriso de Celeste e Maria, e um discreto de Safira.

Com a água no pé da barriga tomei um susto quando reparei que estava pelada, todas nós estávamos, mas só eu parecia me importar.

- Não deveríamos usar roupas? - perguntei para ninguém específico.

- Não, – respondeu Safira – somos filhas do mar, nosso corpo é tão natural quanto uma fruta, nosso corpo é uma arma e nosso corpo é livre. - ela se virou de costas para a praia e de frente para mim, abriu os braços em sinal de liberdade e se jogou para trás na água calma - As sereias não costumam sair do mar usando sutiã, - continuou ela com apenas a cabeça fora d'água - não temos vergonha, temos orgulho. Se sair da água usando roupas vai ser vista como fraca ou, no mínimo, estranha.

Olhei pra ela com vontade de dizer que eu gostaria de ser a estranha que usa roupa, mas se o código de vestimenta era sem vestimenta eu tentaria fazer um esforço para seguir o código.

- Nós não ficamos o tempo todo peladas – esclareceu Maria – apesar desse ser o desejo da Safira, - olhou com divertimento – nós apenas saímos do mar assim. Quando chegamos à praia colocamos roupas que deixamos guardadas na rocha.

A Mesa E O MarOnde histórias criam vida. Descubra agora