Capítulo 15 - Oito Anos

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Voltamos para a aldeia a passos rápidos, tínhamos pressa em levar as notícias, saber como andava o treinamento e eu tinha meus próprios planos para criar uma barreira de proteção, ou várias, se fosse preciso.

- Eu preciso caçar. - Rudi falou.

- Vocês caçam por que precisam comer ou é uma necessidade, assim como eu preciso do mar?

- Alguns lobos da alcateia têm a função de caçar para levar comida para o refeitório, principalmente agora que temos outras criaturas conosco, mas de tempo em tempo todos nós sentimentos a necessidade de libertar o lobo e correr atrás de qualquer coisa que represente um desafio.

- Como os cachorros com as bolinhas? - soltei um risinho.

- Exatamente. - ele concordou com humor.

- Ironias da espécie. Eu nado como um peixe num aquário, vejo sempre o mesmo coral e os mesmos animais, como sempre a mesma alga.

- Como um peixinho dourado. - ele riu com diversão.

- Como um peixinho verde-esmeralda. - Corrigi a fala dele.

- Por que verde?

- Por que é a cor da minha cauda. - falei como se aquela informação fosse óbvia.

- Cada uma de vocês tem uma cor de cauda? - ele perguntou como se aquela fosse uma informação oculta recém-descoberta.

- Sim... você nunca viu uma sereia antes? Digo com a cauda? - olhei surpresa para ele.

Nós não éramos seres desejados em muitos lugares, a maioria, principalmente homens, tinha medo de nós, mas tínhamos orgulho da nossa cauda e não escondíamos a beleza dela de ninguém, as escamas coloridas eram como uma obra de arte da natureza, um presente do mar. A maioria tinha mais interesse em se exibir do que em matar sem motivo.

- Nunca troquei mais do que duas palavras com uma sereia, você é a exceção.

- Mas você já foi à praia, né? Sempre tem alguma sereia tomando sol em alguma pedra e exibindo a cauda.

- Apenas uma vez, e a sereia que eu vi saiu do mar usando pernas. - ele me olhou deixando claro que se referia a mim.

- Você não sabe nadar?

- Eu sei.

Lembrei do dia em que ele foi me esperar na praia, de como ficou sentado com as costas ao paredão, tão distante do mar e apesar de parecer querer aproveitar, insistiu que tínhamos que ir embora. Fez sentido as vezes que me perguntou se eu não o afogaria e o receio em receber uma sereia em sua casa.

- Como você veio para este mundo?

- É uma longa história. - ele suspirou parecendo indisposto para revelar.

Não sabia até onde podia ir com as minhas perguntas, até onde seria aceitável eu me meter na vida e nos medos dele, mas queria ajudar, com qualquer que fosse o problema.

- Não precisa acelerar o coração, não tenho problema em contar... só que a história é grande e já estamos chegando. - ele apontou para o caminho de terra que levava à aldeia. - se quiser saber, pode ir à minha cabana hoje à noite.

- Está bem.

                                                    ...

Quando chegamos pude notar que a aldeia parecia mais cheia, Scarlett treinava mais pessoas do que no dia em que saímos, um outro grupo treinava arco e flecha com Derek e alguns poucos treinavam magia com Maria. Os três deram uma pausa nos treinamentos e foram nos receber, Maria me deu um abraço tão apertado que quase quebrou minhas costelas, logo atrás Celeste e Safira vieram correndo para fazer o mesmo, Scarlett como sempre me incendiou com os olhos e Derek fez um sinal para que eu não ligasse para ela.

A Mesa E O MarOnde histórias criam vida. Descubra agora