Capítulo 5 - A Lua Vermelha

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Um ano depois da minha chegada ao reino de Morália já tinha me acostumado com a minha nova versão híbrida, eu e minhas companheiras criamos uma rotina e passávamos a maior parte do nosso tempo na cabana. Pela manhã tínhamos aula de magia, história, geografia, primeiros socorros e botânica com a Maria como professora, ela levava diferentes tipos de plantas e nos ensinava como elas podiam matar, salvar, ou alimentar, explicava sobre as criaturas mitológicas que já foram vistas e como poderiam ser derrotadas, quanto à magia... bem, eu evoluí cada vez mais, Safira e eu criamos uma rivalidade saudável que nos fazia querer ser sempre melhor do que a outra, eu já conseguia formar bolas de fogo nas mãos, controlar qualquer água e fazer objetos levitarem, Celeste não participava das aulas de magia, mas estava sempre debruçada sobre os livros aprendendo sobre magias novas que poderiam nos ajudar.

Depois do almoço, momento em que nos reuníamos no pequeno canto da cozinha que usávamos como sala, nós quatro tínhamos aula de autodefesa, na praia, com o Sr. Green, um gárgula já idoso, mas em boa forma física, os músculos eram bem definidos, possuía presas como de Vampiros e asas de morcego que quase tocavam o chão, orelhas pontiagudas, a personalidade muito séria não deixava espaço para brincadeiras. Maria explicou que havia feito um favor para ele há muito tempo e como pagamento ela pediu que ele nos ensinasse tudo o que soubesse, ele aceitou de bom grado, era exigente e não aceitava menos do que perfeição nos exercícios.

Pelo menos uma vez na semana íamos até a feira do castelo, lá diferentes criaturas vendiam todo tipo de coisa, comida, roupa, sapato, objetos perdidos, livros, armas... e em alguns pontos desenhos de objetos perdidos eram colocados oferecendo recompensa para quem os achassem, geralmente objetos valiosos ou de grande apego do dono, alguns eram fruto de naufrágios, às vezes provocados pelas próprias sereias, e eram esses que chamavam a nossa atenção. Nadávamos pela região do mar a procura do objeto, e quando uma de nós encontrava recebia a recompensa e dividia igualmente por quatro.

Durante uma das aulas de primeiros socorros aprendi que como uma sereia eu não era imortal, mas viveria mais tempo do que qualquer ser humano e caso me machucasse me curaria muito mais rápido, aprendi sobre a capacidade de controlar a minha ovulação e assim prevenir qualquer gravidez inesperada, mas deveria tomar cuidado pois o uso de magias fortes abalavam esse controle, aprendi que tentar arrancar uma única escama doía como arrancar uma unha e aprendi como controlar e direcionar a minha voz, não a minha voz normal que usava para conversar, a minha voz assassina, aquela capaz de seduzir e arrastar homens para o fundo do oceano, e em casos raríssimos até mulheres ou outras sereias, mas esse não era o meu caso.

                                         ...

- Acorda! Hoje é um dia especial! - Celeste falou enquanto me sacudia por cima dos lençóis.

- O que tem hoje? - levantei um pouco meu tronco perguntando com a voz rouca e preguiçosa e a vista embaçada.

- Hoje uma grande lua avermelhada ilumina o céu de todos os reinos, a maré sobe, o mar fica mais salgado e todas as sereias se reúnem na ilha das sereias – ela me explicou com empolgação enquanto organizava o próprio baú.

Me sentei na cama demonstrando interesse pelo assunto, olhei para o lado e a cama de Safira já estava vazia e arrumada.

- Não sabia que existia uma ilha para nós.

- A ilha não pertence a nenhuma sereia, mas sempre que precisamos nos reunir isso é feito lá.

- Interessante, e o que acontece nesse encontro? - perguntei já de pé enquanto começava a arrumar a minha cama.

- As sereias se reúnem, as mais antigas trocam novidades e as novatas são apresentadas. Não é nada formal, não precisa se preocupar. - ela deu um risinho tranquilizador em resposta a minha cara de pavor.

A Mesa E O MarOnde histórias criam vida. Descubra agora