Capítulo 16 - Os Lobos

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- Eu não preciso me transformar para arrancar seu coração, fica quieta ou ele vai ser uma recompensa melhor do que as moedas que barganhei com a rainha. - a voz era de Kerem.

Criei uma bola de fogo a lançando nas costas dele, ele me apertou com mais força, soltou um rosnado de dor e me mostrou os caninos. Lembrei do que Safira havia me ensinado, como transformar folhas de árvores em lâmina cortante, puxei o máximo de folhas que consegui, as posicionei como se fossem meus soldados, rígidas como espadas flutuaram ao redor de Kerem ameaçando o rosto, a cabeça, o pescoço e as costas. Com a mão dele ainda tapando a minha boca nos encaramos em uma disputa silenciosa do que seria mais rápido, os dentes dele ou as minhas folhas.

- Eu não tenho medo de você e da sua magia, você já acabou com tudo o que eu tinha e poderia ter, mas você vale algumas boas moedas, - soltou um sorriso perverso – o bastante para eu começar uma vida em outro lugar.

Eu precisava pensar rápido, não conseguiria fazer ele me soltar com ameaças, eu precisava espantar o corpo dele de perto do meu, colocar uma distância ente nós dois para que eu pudesse correr ou mesmo cantar, mas não conseguia pensar em nada, nenhuma magia que saísse de tão perto do meu corpo. Lembrei.

Criei uma bolha, como a bolha que Maria usou para capturar nossa cobaia para o treinamento com a dor, uma bolha sem oxigênio, faria tão mal para mim quanto para ele, mas me daria tempo e distância. Envolvi nossos rostos dentro da bolha, Kerem tentou respirar e não encontrou o ar, não conseguiu falar e apertou com mais força a minha boca, logo a força das mãos dele diminuiu, a cor da pele ficou pálida e ele se jogou no chão tentando fugir da minha bolha, eu reduzi o campo de atuação permitindo que o ar chegasse até mim, coloquei distância entre nós e esbarrei em Rudi, parado às minhas costas ele me olhou procurando por algo.

- O que aconteceu? - ele perguntou.

- O Ke... - ele não estava mais lá.

Por um minuto de distração ele se desfez da minha bolha e sumiu por entre as árvores, sem deixar rastros.

- Eu sei, consigo sentir o cheiro dele. - Rudi olhava minuciosamente para todos os lados, esperando Kerem saltar da escuridão.

Criei cinco bolas de fogo iluminando tudo ao nosso redor, a floresta estava vazia, nem sinal dele. Um grito rasgou a noite vindo do centro da aldeia, puxei minhas bolas comigo correndo para lá, sabia o motivo do grito, mas não sabia de quem ele saíra.

No centro estava Kerem fazendo Helen de refém com uma faca apontada para a linda barriga de grávida por cima da camisola. As portas das cabanas começaram a se abrir uma a uma e todos se depararam com a mesma imagem.

- Uma troca Rudi! A sereia pela fada grávida.

Helen chorava incessantemente e Kerem sussurrava ao ouvido dela coisas que eu não conseguia ouvir, mais pela forma que ele olhava para Rudi, concluí que ele conseguia.

- Kerem, eu vou, - me aproximei com passos cautelosos – só solte ela, eu vou.

- Você vai apagada! - ele tirou do bolso um frasco de vidro com uma flor diferente, laranja e coberta de pólen, pétalas em formato pontudo e balançou no alto para que pudéssemos ver.

Rudi rosnou dando um passo a minha frente, eu não conhecia aquela flor, mas pela reação dele senti que não devia ser coisa boa.

- Eu vou como você quiser, mas primeiro largue ela.

- Não, não, Ayra. - ele alargou os lábios expondo os caninos – primeiro nós vamos fazer uma caminhada, só nós três e você vai amordaçada. E nem pense em cantar! - ele gritou raivoso – eu tomei precauções quanto a isso. - ele virou a cabeça mostrando os tampões nos ouvidos, tampões que cortavam a magia.

A Mesa E O MarOnde histórias criam vida. Descubra agora