Capítulo 31 - Criatura Magnífica

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Acordei com um pequeno raio de sol incomodando meus olhos, os abri e fechei tentando me livrar da luz, as folhas ainda cobriam o céu e pequenas frestas deixavam filetes de luz do sol entrarem para iluminar parcialmente o pântano. Me sentei procurando por Rudi, ele logo saltou da árvore ao lado com um ramo de muitas flores brancas.

- Café da manhã na cama? - sorri brincalhona.

Ele abaixou a orelha branca e me estendeu o ramo. Eu devorei todas as flores em menos de um minuto, não matou a minha fome, mas ajudaria a percorrer o resto do caminho. Olhei para baixo e percebi que a água estava baixa, as raízes estavam bem visíveis e o lodo continuava por toda parte. Respirei fundo recuperando a coragem.

- Pé na estrada?

Rudi abaixou a orelha branca, desceu o tronco e pulou na água que cobria apenas as patas dele. Eu fiz o mesmo, me colocando ao lado.

Caminhamos uma curta distância para percebermos que estávamos muito perto do final do pântano, logo a água sumiu do chão e mais para frente as árvores retorcidas se transformaram em pinheiros altos, o clima ficou frio e menos úmido, como costumava ser na aldeia. Foi um alívio andar no chão de terra e sentir o calor do sol, mesmo que fraco e bloqueado em parte pelas árvores muito altas, ao menos a luz entrava e o caminho era bem visível.

Alegrei-me quando um coelho branco passou pulando na nossa frente, Rudi sem perder tempo correu atrás dele e em menos de cinco pulos capturou o coelho dando a ele uma morte rápida e limpa. Aproximou-se de mim com o pequeno corpinho e o jogou aos meus pés.

- Obrigada. - sorri encantada pelo gesto dele.

Alfas nunca deixavam que outros lobos comessem antes deles, eles ficavam com as melhores parte das presas e o resto da alcateia dividia as outras partes. Em gesto tão simples possuía um grande significado para um alfa, e também para o meu coração.

- Você come cru?

Ele abaixou a orelha branca.

Olhei para o coelho analisando as minhas opções, ainda estava fraca para praticar magia, meu braço ainda apresentava pequenos sinais de queimadura e minha garganta parecia inflamada, mas não gostava de comida crua, podia valer a pena usar um pouquinho de magia para esquentar e limpar a comida.

Sentei no chão e usei uma das magias que havia aprendido recentemente, uma magia de sangue, puxei para fora do corpo do animal todo o sangue dele, jogando aos pés de uma árvore, quebrei a junção das pernas traseiras com o corpo e pedi que Rudi cortasse a pele com os dentes e eu separei a parte que queria comer.

Juntei algumas folhas e galhos próximos e lancei uma pequena fagulha na direção do montinho, a minúscula fogueira se acendeu, retirei a pele peluda das pernas e as espetei com um galho fino e longo, levei ao fogo e esperei pacientemente que a carne ficasse pronta enquanto eu segurava o galho. Ao lado, Rudi destroçava o resto do corpo e comia cada parte com dedicação.

Quando a refeição acabou continuamos nosso caminho, deixando os restos do animal para trás, a floresta era silenciosa, assim como o deserto e o pântano, reparei na ausência de pássaros, grilos e outros animais que costumavam formar uma sinfonia na aldeia, pareciam não existir ali. A ausência de animais inofensivos era sempre um mau sinal.

Ouvi um barulho de bater de asas, eu e Rudi olhamos juntos para a mesma direção, não havia nada. Caminhamos mais alguns passos e o barulho se repetiu, olhamos novamente e nada se apresentou, Rudi rosnou para nenhum lugar específico, alto para afastar qualquer animal com instinto de sobrevivência.

Continuamos andando, atentos a qualquer ruído, o barulho não se repetiu. Pensei o quanto seria bom achar alguma cachoeira, minha boca estava seca e meu corpo imundo, meu cabelo que costumava se soltar quando era preso num coque frouxo estava imóvel pela sujeira do pântano que formava um gel impedindo que qualquer fio se mexesse, Rudi continuava com os pelos brancos, como se usasse uma roupa impossível de sujar.

A Mesa E O MarOnde histórias criam vida. Descubra agora