Capítulo 19 - Sangue Na Areia

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Meus movimentos eram lentos, a minha visão turva, meu estômago embrulhado e meu corpo todo dolorido, me sentia doente e o meu ferimento não parava de sangrar, olhei para trás e vi o rastro de sangue que me seguia e lembrei o quanto aquele sangue podia ser precioso para alguns, para mim principalmente.

Parei a poiei meu corpo em uma árvore, precisava pensar em como poderia parar o sangramento ou diminui-lo, precisava entender o que estava acontecendo com meu corpo.

Será que é só efeito da falta de sangue?

Meus pensamentos eram embaralhados e eu não conseguia me concentrar, uma dor de cabeça fortíssima dificultava a elaboração de qualquer pensamento inteligente.

As coisas podiam estar ruins, mas eu sempre teria um lugar que me receberia de braços abertos, eu precisava ir para o mar, precisava da água salgada para estancar o sangramento. Cambaleei pelo caminho usando as árvores como apoio, os movimentos cada vez mais lentos, a dor cada vez mais forte e uma queimação agonizante na minha ferida.

Fiz um caminho que eu não conhecia, ou talvez só não estivesse conseguindo reconhecer, mas independente do caminho a direção era só uma, ao sul havia mar, sempre haveria. Eu usava todas as minhas forças e forçava os movimentos, me recusava a sentar ou parar. No mar me sentiria segura, o mar me daria a cura e no mar ficaria longe de qualquer híbrido canino.

Não sei por quanto tempo andei, não sei por onde passei, no entanto, o mar estava lá, lindo como sempre, receptivo com suas areias negras e sua água de um verde tão escuro que parecia da mesma cor que a areia, toquei a sola dos meus pés na água já sentindo a segurança que o meu lugar favorito me passava, não tentei tirar o vestido, não tinha equilíbrio nem força para aquele simples ato, entrei na água e senti o sal entrando em contato com a ferida, convoquei minha cauda e... nada aconteceu, pensei com mais força... e nada de novo, joguei todo o meu corpo dentro da água implorando mentalmente para que minhas escamas verde-esmeralda aparecessem, mas elas não apareceram...

- Não!!! Não! Não! Não! - descontei minha raiva batendo com as mãos na água ao meu redor.

O mar se agitou e uma onda me engoliu, revirou meu corpo e me abandonou nas areias negras da praia, a meio caminho do paredão. Levantei furiosa e molhada, mancando com a perna machucada me aproximei da água para gritar.

- Se você não me quer, eu também não quero você! - respondi para a água que acabara de me expulsar.

Caminhei até a flor do paredão deixando um rastro de sangue pela areia, abri a porta a procura de roupas secas, mas só havia moedas, talvez desse para pagar por uma curandeira, eu não conhecia nenhuma, mas Madame La Belle com certeza conhecia.

Não podia andar pela feira deixando o meu sangue pelo caminho, precisava fazer o caminho mais vazio e mais longo, por dentro da floresta do penhasco, passando pela floresta das fadas e atravessando a ponte que ficava de frente para o bordel.

Quanto mais eu andava, mais difícil ficava, meus olhos queriam fechar, minha respiração era difícil, minhas mãos e meus pés estavam dormentes, qualquer movimento rápido com a cabeça fazia tudo girar e meu corpo implorava por qualquer apoio que ajudasse a ficar de pé.

Quando cheguei à ponte vomitei, esperava que meu estômago melhorasse, mas o enjoo se transformou em dor. Caminhei a passos lentos fazendo com que diversas criaturas cheias de pressa esbarrassem em mim.

Girei a maçaneta com uma enorme dificuldade, os músculos da minha mão eram fracos e meu cérebro não dava ordens perfeitas. Entrei e logo vi o sofá vermelho na entrada, era exatamente daquilo que eu precisava, um sofá confortável. Sentei sentindo o mundo girar como se o chão estivesse no teto.

- Menina! O que houve com você? - eu não identificava a figura na minha frente, mas a voz parecia de Madame La Belle.

- Scar... - tentei responder, mas abrir a boca e emitir sons era demais, exigia uma energia que eu não tinha mais.

- Meninas! Ajudem aqui! - ela gritou fazendo a minha cabeça latejar.

- Eu vou dar uma olhada nesse ferimento.

Ela tocou na minha perna que já não sentia o toque como antes, a dormência chegava ao joelho me fazendo questionar se conseguiria levantar do sofá.

- Garota tola! Não brigue com lobos, você foi envenenada por Xisla.

Mãos delicadas seguraram cada um dos meus braços e me levantaram causando dor, com os meus pés tocando parcialmente o chão percebi que subia as escadas.

Fui deitada em uma cama confortável, os lençóis esquentaram o meu corpo dolorido e meus olhos embaçados finalmente se fecharam me fazendo entrar num mundo de sono pesado, o sono dos doentes.


Capítulo curtinho mesmo, pois a próxima cena será narrada pelo Rudi, espero que gostem.
Votem e comentem suas opiniões, é muito importante para mim.

A Mesa E O MarOnde histórias criam vida. Descubra agora