Penúltimo Capítulo - A Caixa De Agulhas

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O sol chegou espantando as nuvens de chuva, meu corpo encharcado, exausto e faminto desejava uma boa noite de sono, a minha cabeça e os meus olhos doíam, meus músculos pareciam pesados e meu raciocínio era lento, apesar de meu cérebro estar cansativamente acordado, rejeitando qualquer pequeno apagão.

O calor do sol não parecia se contentar em apenas me secar, ele queria me queimar, chegou em sua potência máxima me fazendo transpirar e mais uma vez queimando qualquer parte do meu corpo que estivesse em contato com o ferro. Desejei que a chuva voltasse...

- Bom dia, querida! - Ravena abriu a porta como um furacão.

Observei que usava um vestido longo e vermelho-sangue, com alça fina e um decote em V entre os seios, marcado até a linha da cintura, do meio da coxa até os pés o pano era transparente, dando plena visão das suas pernas e do seu salto agulha banhado a ouro. Na orelha, brincos de estrelas douradas, uma de cada lado, como argolas penduradas, um bracelete dourado com pequenos diamantes negros enfileirados em seu ouro e o cabelo ruivo preso em um coque alto no topo da cabeça.

- Bom dia, megera! - respondi de forma ácida.

- Ôh! Você me deu um apelido? - tapou a boca com a mão e encenou uma expressão meiga. - Amei! - sorriu com ternura.

Revirei os olhos, o gesto aumentou a minha dor de cabeça, fiz uma anotação mental para não repeti-lo.

- Vejo que tomou banho! - se dirigiu para a mesa com caixas. - Peço desculpas por não ter disponibilizado um sabonete, - pegou as caixas empilhadas na parte de cima e as empilhou do outro lado da mesa. - mas não acho que conseguiria se ensaboar com essas mãos amarradas... - se virou me lançando um olhar de pena e retornou a sua atenção para a última caixa.

- Eu que agradeço, - falei com ironia. - nada melhor para a pele do que os pingos grossos de chuva.

- Que bom que gostou, porque esta noite tem mais. - falou animada e voltou sua atenção para a caixa grande.

A chuva não foi coincidência... desgraçada!

Segurou o fundo da caixa com um dos braços e abriu a tampa de madeira se aproximando de mim.

- Veja, Ayra, uma das melhores invenções do reino de Iely. - falou com fascinação.

Observei pequenos compartimentos para agulhas, cada agulha possuía uma cor em sua ponta mais afiada que combinava com a mancha de identificação na frente do compartimento, como uma legenda. Na parte superior da caixa um equipamento de madeira com uma mola no interior do corpo, parecia um pequeno saca-rolhas elétrico, só que no estilo medieval. Não tive coragem de perguntar.

- Faço questão de explicar como funciona! - falou como uma criança apresentando o seu brinquedo novo. - Cada agulha tem uma função, a azul, por exemplo, - apontou para a agulha de ponta azul. - dispara descarga elétrica pelo corpo, fazendo com que a corrente saia e volte para a agulha. - alargou a boca dando um sorriso sinistro. - a amarela, induz o corpo a uma febre altíssima, a vermelha, aquece o corpo e pode até causar queimaduras de dentro para fora. - engoli a seco. - a branca faz o trabalho inverso, congelando o corpo, a rosa, desperta alucinação com seus piores pesadelos, a verde, revira o seu estômago fazendo vomitar até as tripas. - ela apontava para cada agulha enquanto explicava seus efeitos. - a preta, induz ao sono profundo, mas essa vamos deixar bem longe de você, - levantou o dedo em advertência. - e a laranja causa coceiras terríveis por todo o corpo, é de arrancar a pele. - inclinou a cabeça e levantou as sobrancelhas.

Eu não sabia o que dizer, meu corpo ficou em choque e minha cabeça gritou para que eu saísse correndo dali, tive vontade de berrar por socorro, implorar ao universo para que me arrancasse daquele lugar, daquela mesa, de perto daquela mulher, desejei com todas as minhas forças que uma bomba explodisse o castelo antes que ela tivesse a chance de usar qualquer uma daquelas agulhas em mim.

A Mesa E O MarOnde histórias criam vida. Descubra agora