Quando acordei de novo percebi que tudo estava escuro, olhei para o lado e vi que Celeste dormia com um lençol diferente da noite passada, uma bandeja com frutas estava sobre a mesa, me levantei e comi, sendo grata às minhas amigas.
Durante um longo tempo comendo e encarando o quarto escuro ideias tomaram a minha mente. E se não precisássemos invadir o castelo para ter Ravena? E se ela pudesse ser atraída para fora? Para um território que por mais que pertencesse a ela, não era do seu conhecimento e domínio, um território no qual vivíamos diariamente. Ela não se arriscaria tanto ao ponto de ser atraída para as montanhas, mas talvez pudesse se sentir confortável na praia ou na floresta do penhasco. Perto o suficiente para ser atraída e longe o suficiente para não controlar o ambiente. Pensei, pensei e pensei... possuía argumentos para conversar com Rudi, na manhã seguinte.
Voltei para a cama e me revirei, meu corpo estava cansado de dormir e pensei em usar mais um pouco da minha nova habilidade, diferente da empática, essa não me causava dor, meu corpo não se sentia sobrecarregado pelo uso da magia, ela cansava, mas também era leve e divertida, eu criava cenários e escolhia até as roupas que as pessoas usavam, tinha qualquer tipo de poder, já que era tudo um sonho, podia transformar o impossível em realidade, mesmo que num mundo paralelo.
Visitara Scarlett, mas não visitara Safira, estava na hora de consertar isso. Tentei de novo, pensei na minha amiga de cachos crespos, no seu corpo perfeito e maravilhoso de deusa africana, na sua personalidade extremamente franca e seca, na forma como era divertido competir com ela e ver que evoluímos tanto em magia quanto como pessoas, o dia em que ela me ensinou a nadar com cauda, muito sem paciência, por sinal, e o dia em que me ensinou a usar as folhas de árvores como lâminas.
Safira apareceu na minha frente, num cenário escolhido pelo meu subconsciente, pela saudade que gritava na minha pele, a praia negra. Com a roupa feita de rede de pescadores, descalça e com o cabelo solto ela estava sentada na areia, observando o mar. Aproximei-me e sentei ao lado dela, assim como Safira, nunca me cansaria de olhar para nossa casa, nunca deixaria de sentir saudade das ondas e do sal.
- Ele é lindo, não é? - falei primeiro.
- Mais do que consigo dizer... - ela concordou.
- Já ouviu falar em andarilhos dos sonhos? - perguntei.
- Uma vez ouvi duas ninfas conversando sobre, mas não entendi muito bem o que significava.
- Prazer. - dei um levantar de ombros, me apresentando como uma andarilha.
Safira me olhou, estreitou os olhos, franziu a testa, olhou para o cenário criado por mim. Eu transformei o céu do dia em nascer do sol num piscar de olhos, os primeiros raios despontando do horizonte do mar e causando um espetáculo de cores, ela assistiu à transformação de boca aberta.
- Que sonho louco... - falou ignorando a minha presença.
- Safira! - chamei a atenção dela. - É um sonho induzido pelo meu poder, eu estou aqui de verdade, por mais que meu corpo esteja na minha cama. - expliquei.
- Sebastian disse que você e Rudi viram um Grifo no topo da montanha, é verdade? - perguntou rápido, me testando.
- Sim, era lindo. - balancei a cabeça.
- Disse também que você bebeu água de cacto alucinógeno. - outro teste, desconfiada como sempre.
- Rudi não deixou. - ri dos critérios que ela usou para saber se eu era eu.
- É você mesma! - falou surpresa. - Que habilidade legal. - de novo olhou tudo ao redor, com olhos de fascinação. - Você pode fazer o que quiser?
- Sim. - achei divertida a empolgação dela e fiz golfinhos saltarem em sincronia do mar.
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A Mesa E O Mar
FantasyApós perder a mãe, sua única família, e descobrir que seu pai distante também morreu optando por não se despedir, Ayra sente-se sozinha no mundo. Mergulhada em luto e solidão ela é seduzida pela beleza das estrelas e atraída até uma mesa misteriosa...